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Crítica | Moby Dick: Minissérie Completa (2011)

Minissérie em dois episódios reimagina o clássico literário de Herman Melville.

por Leonardo Campos
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Um romance de grandes proporções e complexidade traduzido para a linguagem televisiva, numa minissérie de 182 minutos, dividida em dois episódios. Para dar conta deste processo, os realizadores não tinha outra opção a não ser o estabelecimento de um manancial de simplificações para que o espectador contemporâneo conseguisse se relacionar com a produção e se entregar aos momentos de entretenimento esperado diante de uma narrativa ficcional seriada. Assim é Moby Dick, lançada em 2011, um pouco mais de uma década depois da versão televisionada protagonizada por Patrick Stewart, com duração e estrutura relativamente semelhante. Sob a direção de Mike Barker e roteiro de Nigel Williams, os envolvidos se inspiraram no caudaloso compêndio literário de Herman Melville para apresentar mais uma de tantas versões deste leviatã literário no formato audiovisual. Publicado em 1851, o livro possui extenso legado e impacto cultural, tendo sido levado para o cinema em numerosas vezes, além de ter gerado um substancial acervo de trabalhos acadêmicos que o analisaram por meio de diversas teorias e nuances interpretativas.

A empreitada é eficiente, apesar de ser levada na monotonia. Moby Dick nunca consegue ser ótima, mas cumpre a sua função básica que é entreter, apresentar algumas reflexões extraídas de pontos específicos do romance ponto de partida, com efeitos visuais menos impactantes que o esperado para uma produção da época, situação explicada pelo orçamento reduzido, prejudicial para a nossa contemplação da enorme baleia branca cachalote que seria espetacular se orçada como programas do quilate de Game of Thrones. Tarefa árdua aqui é de Nigel Williams no papel de roteirista, responsável por transformar o quilométrico romance numa trama mais popular e acessível. Para quem conhece o clássico da literatura estadunidense, mixagem de romance naturalista, enciclopédia e declamação teatral, sabe o quão dificultosa é a abordagem do dramaturgo em seu processo de tradução. Só na dinâmica de adaptação das digressões excessivas de Melville, Williams já merecia uma sonora salva de palmas.

Em linhas gerais, Moby Dick é uma narrativa alegórica sobre a obsessão do arquetípico capitão Ahab (William Hurt) em sua busca por vingança. Ele deseja, a qualquer custo, dizimar a baleia branca cachalote responsável por dizimar a sua tripulação e arrancar uma de suas pernas. Tido como louco por alguns e obstinado por outros, a sua nova missão pretende caçar o animal de enormes proporções e sanar os deus desejos irrefreáveis. Mesmo que a sua esposa Elizabeth (Gillian Anderson) argumente, nada consegue deter o homem de muitas palavras e murmúrios. Ele quer, de qualquer maneira, ver a baleia morta. E a sua caminhada pelas caudalosas águas oceânicas se torna um empreendimento para o passeio de diversos personagens antológicos, tais como Ismael (Charlie Cox), o narrador da história, além do primeiro imediato Starbuck (Ethan Hawke), do arpoador tatuado Queequeg (Raoul Trujillo), o menino negro Pip (Daniel Gordon), dentre outras figuras ficcionais marcantes que estão a bordo do navio Pequod.

Com efeitos visuais medianos, supervisionados pela equipe de William G. Mitchell, ficamos na ânsia de contemplação da baleia em sua demorada aparição. Quando isso acontece, há algum envolvimento, mas fica a sensação de que poderia haver mais. Para compensar essa ausência do animal gigantesco e esplendoroso, a direção de fotografia de Richard Greatex entrega visualmente interessantes da jornada no navio e no mar, além de captar assertivamente os cenários e direção de arte, concebidos pelo design de produção assinado por Rob Grey. Dignificando a presença de Pip para reajustar a questão racial problemática do romance de Herman Melville, os realizadores também investem no válido ponto de vista da baleia em alguns trechos, dinamizando a narrativa de Moby Dick para o formato minissérie.

A condução musical de Richard G. Mitchell também assegura bons momentos para a produção, mas nada intensamente memorável. No geral, uma tradução acima da média, mas que nunca alcança o ápice, tanto nos quesitos estéticos quanto nos dramáticos. A inserção da esposa de Ahab adensa mais a sua jornada, demonstrando algo além da própria vida a ser perdida na aventura marinha que poderia ou não ser sem chances de retorno. É uma figura ficcional ausente na estrutura literária, apenas mencionada numa rápida passagem. Aliás, Moby Dick é um romance sem mulheres e, no que tange aos personagens negros, todos morrem rapidamente num dos capítulos do meio da narrativa, situação que aqui é reajustada para dialogar com os tópicos temáticos debatidos na contemporaneidade sobre representação. Ademais, interessante observar a intertextualidade com Tubarão, tradução de Steven Spielberg para o romance de Peter Benchley, em especial, quando Ahab conta para Ismael a sua história com a baleia, trecho que lembra bastante a exposição do obsessivo Quint ao versar sobre sua experiência com tubarões durante o naufrágio do USS Indianápolis. No geral, uma boa minissérie, com potencial pra ser ótima, mas que fica apenas na linha tênue entre o bom e o razoável.

Moby Dick (Idem/Estados Unidos,2011)
Direção: Mike Barker
Roteiro: Nigel Williams
Elenco: William Hurt, Ethan Hawke, Charlie Cox, Gillian Anderson, Eddie Marsan, Billy Boyd, Raoul Max Trujillo
Duração: 184 min

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