Além da chegada estrondosa de Crepúsculo nos cinemas — o que gerou um grande alvoroço entre o público adolescente —, a adaptação do primeiro livro da saga escrita por Stephenie Meyer era só um dos exemplos de uma tendência em alta de séries e filmes com mitologia sobre vampiros e lobos. Se para a audiência adulta a HBO emplacou com a atraente série True Blood, no ano seguinte, em 2009, a The CW vinha com um entretenimento muito mais empolgante que a palidez de Twilight ao trazer The Vampire Diaries, show criado por Kevin Williamson e Julie Plec.
O surpreendente foi o conhecido produtor executivo da série Criminal Minds, Jeff Davis, vir com uma parceria arriscada com a MTV: uma releitura da comédia O Garoto do Futuro, longa de 1985 na veia coming of age e que seguia Michael J. Fox na pele de um adolescente se tornando um lobisomem. Foi algo estranho de ser anunciado para uma emissora que estava iniciando suas apostas para séries teens, porém, a “maior” garantia estava na empolgação de Davis em levar sua admiração pelo terror a um projeto que não esqueceria da comédia do filme original, conduzindo isso a seu próprio estilo.
De fato, enquanto Diários de um Vampiro conseguiu vender bem seu triângulo amoroso numa trama de vampiros, lobos e bruxas, Teen Wolf chegava com o escárnio de querer repetir a magnitude empoderada e desafiadora de Buffy the Vampire Slayer com um coming of age cheio de besteirol sobre o jovem Scott (Tyler Posey), típico estudante do ensino médio e que se torna lobisomem após ser mordido por um lobo. Para ultrapassar essa mudança, ele conta com a ajuda de seu melhor amigo Stiles (Dylan O’Brien), onde juntos lutarão contra novos perigos que ameaçam seus amigos e a misteriosa cidade de Beacon Hills.
Para a época, Davis tinha reunido os elementos que dificilmente falhariam na sua releitura do filme oitentista, neste caso, a série contava com um romance adolescente numa trama que também queria ser sobrenatural, cômica e carismática, mas seu autor não conseguia nada disso ser soar trash e caricato na tentativa de ser levado a sério. Vejamos. Quem resistiria à fantasia do romance proibido de um jovem que se torna lobo e se apaixona por uma garota que a família é caçadora de lobisomens? Teen Wolf bebia dos romances clássicos ao ter como base o clichê de Romeo e Julieta e A Bela e a Fera refletidos numa licantropia cafona, que na verdade estava mais empenhada em convencer do que a atuação de Posey como protagonista.
E para o bem ou para o mal, ter Stiles vivido por um esforçado O’Brien como centro do humor, ajudava a série a ser menos drástica, e até o final do primeiro ano, o ridículo se tornava um doce guilty pleasure ao apontar para o potencial de seu mistério e personagens. Assim, Davis injetava mais personalidade ao forro sobrenatural — talvez reconhecendo que Buffy já teria tocado fogo na trama sem maturidade, então desistindo de reproduzir o simbolismo único da série —, levava o show para um caminho menos trash e expandia o leque de personagens enquanto apresentava uma fórmula mais empolgante.
Como bom exemplo, o decorrer da segunda temporada da série fazia Teen Wolf parecer mais segura do que tinha de interessante e até mais madura, e o segredo para isso não restavam dúvidas: o foco de Davis em usar os personagens. Aos poucos o romance de Shakespeare era usado em doses menores e o suspense tomava mais forma como construção de atmosfera, e quando chegávamos ao fim do mistério, era fácil perceber que o show estava assumindo mais riscos, ganhando traços mais maduros, mostrando que os segredos em Beacon Hills escondia mais do que mordidas de lobos.
Os passos dados no segundo ano renderiam mais frutos no que indiscutivelmente foi o maior ato da série: a vilania de Stiles na terceira temporada. Teen Wolf não era mais um besteirol, mas uma fantasia sombria e empolgante em desconstrução e amadurecimento da própria fórmula, e Stiles foi transformado em símbolo disso no desenvolvimento épico dele como Nogitsune. A essa altura a série não era só sobre lobos e banshees, mas expandia seu leque sobrenatural com vilões e a introdução da marcante kitsune Kira (Arden Cho), além de ser mais criativa e argilosa no humor — como nas ótimas nuances LGBT que Davis fazia — enquanto seguia amadurecendo seu significado moral e sentimental de Scott como líder de um bando e sua rede de amigos.
O que bem resume Teen Wolf nas temporadas seguintes foi por usar de maneira inteligente e curiosa a mecânica atribuída na sua mitologia sobrenatural, que ia cada vez mais assumindo um tom complexo, sombrio, e que apesar da recorrência da fórmula, valia pelo entretenimento de um show que saiu da sombra dos tropos adolescentes e entregava a atração com mais personalidade na trajetória da MTV em emplacar uma série de terror para o público teen.
Teen Wolf (EUA, 2011 – 2017)
Criação: Jeff Davis
Direção: Russell Mulcahy, Tim Andrew, Jennifer Lynch, Toby Wilkins, Christian Taylor
Roteiro: Jeff Davis, Angela Davis, Ian Stokes, Eric Wallace, Will Wallace, Alyssa Clark, Lindsay Sturman, Daniel Sinclair, Nick Antosca, Ned Vizzini, Eoghan O’Donnell, Joseph P. Genier
Elenco: Tyler Posey, Dylan O’Brien, Holland Roden, Linden Ashby, JR Bourne, Melissa Ponzio, Tyler Hoechlin, Shelley Hennig, Dylan Sprayberry, Crystal Reed, Ryan Kelley, Arden Cho, Ian Bohen, Khylin Rhambo, Cody Christian, Michael Johnston, Daniel Sharman, Colton Haynes
Duração: 43 min (101 episódios, 6 temporadas)