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Crítica | Uma História de Natal Natalina

Nostalgia como muleta.

por Ritter Fan
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Filmes natalinos costumam já ganhar pontos automaticamente dos espectadores em geral simplesmente por serem natalinos, por provocarem sentimentos positivos, por serem descompromissados. Não compartilho dessa clemência e, já deixando de lado qualquer rodeio, tenho a declarar que Uma História de Natal Natalina, continuação mais do que tardia – e completamente sem razão de ser – do clássico e simpático Uma História de Natal, filme muito bem quisto nos EUA, mas não tanto em outros países do mundo, é uma grande porcaria que é construída exclusivamente em cima da nostalgia, uma das várias desculpas para Hollywood fazer o que fazer de melhor, ou seja, pegar incautos de surpresa.

Trazer Peter Billingsley de volta 39 anos depois que ele viveu o fofíssimo Ralph “Ralphie” Parker, que queria porque queria ganhar uma espingarda de chumbinho, não é nenhum problema. O problema é depender exclusivamente disso – e, também, do retorno de diversos outros atores crescidos do filme original – como único ponto de atração, basicamente repisando toda a obra oitentista, só que sob a ótica de um Ralphie adulto que perde seu pai às vésperas do Natal e precisa retornar à sua cidade natal com sua família (esposa e dois filhos) para ficar com sua mãe (Julie Hagerty substituindo Melinda Dillon, que se aposentou em 2007). É pouco demais para justificar um filme, mas fica evidente que esse era o mandamento da produção, já que Nick Schenk tem bons filmes em sua carteira de roteirista (notadamente os três dirigidos e estrelados por Clint Eastwood, Gran Torino, A Mula e Cry Macho) e Clay Kaytis que, apesar de ser um diretor de aluguel, conseguiu alcançar a categoria de “filme mediano de Natal” com Crônicas de Natal.

E o pior é que nem jogar completamente seguro o roteiro jogou, pois deixou de lado a obsessão de uma criança com um brinquedo e tentou dar uma de esperto e criar uma homenagem aos pais em geral e ao pai de Ralphie em particular, vivido em 1983 pelo saudoso Darren McGavin, falecido em 2006, com o Ralphie adulto, agora, tentando criar um Natal ideal para seus familiares de luto enquanto espera notícias de seu agente sobre seu gigantesco manuscrito de ficção científica que ele gostaria muito de publicar. Só que, no lugar de contar essa história, Uma História de Natal Natalina conta várias pequenas histórias quase que completamente desconectadas em termos narrativos, somente para recriar o máximo de situações do filme original, algo que a nova produção faz questão de salientar nas comparações fotográficas durante os créditos finais. É, resumindo, uma sucessão de vinhetas que falham no drama, no humor e na relevância.

Outro elemento replicado de Uma História de Natal é a narração em off do Ralphie adulto, feita por Jean Shepherd, autor do livro em que ele foi baseado. Apesar de eu pessoalmente gostar desse tipo de artifício – sou um dos poucos que gosta do trabalho que Harrison Ford foi obrigado a fazer para a versão original de Blade Runner – aqui ele não é somente usado, mas sim constantemente abusado em uma interminável e cansativa narração por Billingsley que é completamente redundante do começo ao fim. Ou seja, mais uma vez o problema não é fazer a mímica do passado com o objetivo de preencher o espaço nostálgico em nossa cabeça, mas sim como ela é feita, mesmo que o final, que se conecta diretamente com o longa original, seja a única realmente boa ideia do roteiro.

Uma História de Natal Natalina contenta-se em ser uma viagem nostálgica para 1983 que abraça de tal maneira ao material base, que tem receio de se desviar um segundo sequer dele, como uma criança pequena agarrada à barra da saia da mãe quando falta luz em casa. Não há vontade em se ver algo bonitinho e descompromissado que compense essa covardia em trazer qualquer novidade. Mas, Hollywood sendo Hollywood, é bem possível que, em mais 40 anos, os atores mirins que vivem os filhos de Ralphie voltem para algo como Uma História de Natal Mais Natalina Ainda

Uma História de Natal Natalina (A Christmas Story Christmas – EUA, 17 de novembro de 2022)
Direção: Clay Kaytis
Roteiro: Nick Schenk, Clay Kaytis (baseado em livro de Jean Shepherd)
Elenco: Peter Billingsley, Erinn Hayes, Julie Hagerty, Ian Petrella, Scott Schwartz, R. D. Robb, Zack Ward, River Drosche, Billy Brayshaw, Julianna Layne, Tegan Grace Muggeridge, Cailean Galloway, Alistair Galloway, Yano Anaya
Duração: 98 min.

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