Equipe: River Song, 5º Doutor, Madame Kovarian
Espaço: Planeta Terminus Prime / Viena / The Bumptious Gastropod / Concorde Well
Tempo: Século 52 / 1791 / Fora do Tempo / Indeterminado
Sabendo que teria o 5º Doutor encontrando-se com River Song nesta temporada, eu optei por diminuir as expectativas neste ano do show; tanto por não ser exatamente grande fã desta encarnação do Time Lord, quanto por dificilmente gostar muito das produções dele na Big Finish. Finalizado o quarto e último episódio da temporada, vi o quão acertada foi essa escolha. Em seu terceiro ano, a série O Diário de River Song continua sendo um entretenimento interessante, mas que junto às boas escolhas de seus diretores e roteiristas, traz consigo decisões narrativas capazes de entristecer a qualquer espectador, como acontece no segundo episódio, possivelmente o pior de toda a série até aqui.
Abrindo o ano com The Lady in the Lake, escrito por Nev Fountain, a temporada introduz a primeira morte encomendada, algumas rápidas viagens no tempo e paradoxos temporais que dão a tônica para o restante da saga. A ação se passa no planeta Terminus Prime, um verdadeiro parque de simulações — estilo Westworld — onde os clientes escolhem seus próprios meios de morrer. Há um personagem que age como a representação metafórica da Morte e cita como referência O Sétimo Selo (1957), de Bergman, trazendo à tona um interessante humor mórbido. A entrada de River impede que um homem seja morto (lembrando que os clientes de Terminus Prime vão por vontade própria para morrer ali, nos “parques simuladores” capazes de transformar os últimos momentos da pessoa na mais heroica ou fantasiosa morte possível). O enredo coloca River na cola de seus irmãos e irmãs (criados por Madame Kovarian) e termina de forma bastante amarga. As viagens no tempo e os paradoxos desse episódio são excelentes e, ao lado de My Dinner with Andrew, é o melhor enredo da temporada para mim.
Para a nossa tristeza e vergonha alheia, temos que passar pelo episódio dois, A Requiem for the Doctor, escrito por Jacqueline Rayner, uma das piores coisas que eu já ouvi na Big Finish. A história até que é boa, mesmo que não esteja bem encaixada na temporada. O 5º Doutor é apresentado ao lado de sua nova companion, Brooke, — para ele, essa história se passa entre Arc of Infinity e Snakedance –, que logo se revelaria uma enviada de Madame Kovarian. O meu maior problema com esse episódio é o nível inacreditável de moralismo que ele tem em seu terço final. Chega a envergonhar o leitor uma redenção com tantas culpas e frases melodramáticas, mais uma justificativa de cunho tão patético quanto a que o roteiro expõe, estragando o clímax do episódio e derrubando quase que completamente a sua impressão geral sobre o público.
My Dinner with Andrew, de John Dorney, faz, desde o título, uma referência ao maravilhoso clássico Meu Jantar com André (1981) de Louis Malle, e o roteiro é brilhantemente escrito com base na apresentação de diferentes pratos numa longa refeição como sendo as fases da ação dos personagens. Assim como o capítulo de abertura, este explora até não poder mais os paradoxos temporais e as viagens no tempo dentro de um mesmo cenário, colocando River em contato com Madame Kovarian e explicando algumas dúvidas lançadas no capítulo anterior. O final peca por não criar melhores explicações para encerrar a trama da morte do Doutor (e isso só para dar o gancho necessário ao episódio seguinte), mas ficamos com uma excelente visão desse jantar entre o Senhor do Tempo, um sósia, River e alguns convidados inesperados e indesejados. A propósito, o texto aqui dá algumas piscadelas para o Especial The Husbands of River Song e traz um dos personagens mais interessantes da temporada, o Maitre D’, que é um misto de gerente, chef e outra coisinha muito especial do estabelecimento.
O encerramento da temporada acontece com The Furies, de Matt Fitton. Este é um Finale de aparência épica, que pretende acirrar ao máximo as divergências entre River, Kovarian e os outros clones por ela produzidos, e tem como padrão as “brigas familiares“. Não é um episódio ruim, mas não tem elegância e cuidado necessário com os dilemas que propõe, o que fica ainda mais evidente porque se segue a um episódio que transbordou inteligência e elegância ao tratar sua problemática. A derrota de Kovarian acaba sendo bem desinteressante, e seus gritos de piedade, assim como toda a parte do roteiro que marca a sua derrocada, só conseguiu me entediar. Também não sei se sou muito fã do que fizeram com o Doutor no final de tudo, a fim de salvá-lo da morte. É certamente uma história que nos faz pensar e admirar ainda mais River Song, por tudo o que ela passou em sua infância e adolescência; numa criação pensada criteriosamente para a violência, o que nos lembra tramas de espionagem dos anos 70 ou, para falar de uma referência melhor reconhecível em nossos tempos, numa criação estilo Natasha Romanoff, a Viúva Negra.
No atual estágio de sua vida, River se sente sozinha e procura companhia. Nesta temporada, ela vai atrás de alguns de seus irmãos e irmãs, reencontrando alguns dos demônios que muito a atormentaram no passado. No último episódio, vemos a personagem mais fragilizada, dominada, sem saber muito o que fazer em situações de grande crise. Não diria que esses encontros fizeram com que River amadurecesse mais; ela não parece ter passado por uma transformação tão intensa “só” por isso. Mas sentimos que é uma temporada pensada em refletir um pouco sobre a solidão de uma pessoa como ela. E o que pode fazer para sentir-se ligada de maneira mais longeva a alguém.
The Diary of River Song: Series Three (Reino Unido, 23 de Janeiro de 2018)
Direção: Ken Bentley
Roteiro: Nev Fountain, Jac Rayner, John Dorney, Matt Fitton
Elenco: Alex Kingston, Peter Davison, Ian Conningham, Julia Hills, David Seddon, Leighton Pugh, Sophia Carr-Gomm, Rosanna Miles, Joanna Horton, Issy Van Randwyck, Teddy Kempner, Frances Barber, Jonathan Coote, Nina Toussaint-White, Francesca Zoutewelle, Pippa Bennett-Warner
Duração: 53 a 75 min.