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Crítica | Doctor Who: Os Ladrões de Corpos, de Mark Morris

Nham, nham, nham!

por Luiz Santiago
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Equipe: 8º Doutor, Sam Jones, Litefoot
Espaço: Londres
Tempo: 11 a 13 de Janeiro de 1894

Ler Os Ladrões de Corpos é um convite aberto do senhor Mark Morris para fazer os fãs de Doctor Who passarem raiva. Primeiro porque o autor começa sua narrativa magistralmente (e eu não estou sendo irônico), preparando o leitor para algo tenebroso acontecendo em Londres. Depois, ele vai capítulo a capítulo estragando o que de interessante escrevera anteriormente. É aquele tipo de livro que começa na mais alta nota: a TARDIS chega em Londres em meio à névoa e à escuridão; um trabalhador ferido corre de um monstro que ele julga ser o diabo; um homem morre ao ser arrastado para o Tâmisa por um ser aterrador; algumas pessoas estão demonstrando comportamentos estranhos sem nenhum motivo aparente. É uma preparação instigante, criando uma atmosfera perfeita para esse tipo de ambiente (a Inglaterra vitoriana). Sem contar que, assim que Litefoot aparece, muita coisa nos faz lembrar o arco The Talons of Weng-Chiang, a aventura em que este personagem apareceu pela primeira vez.

Mas não é só isso. Por um momento, eu tive dificuldade de ler o livro com a voz do 8º Doutor nos diálogos. Isso porque, além de Litefoot e da Londres vitoriana, temos os Zygons em cena, os vilões carniceiros e cruéis que surgiram na Era do 4º Doutor, no marcante arco Terror of the Zygons. Bem, uma das primeiras coisas que eu me perguntei aqui foi: “por que diabos o autor resolveu colocar Jago de férias?“. Não creio que tenha sido algo relacionado a direitos autorais, porque Jago e Litefoot foram criados por Robert Holmes no mesmo episódio, então não faz sentido ter direito para um personagem e não para outro. Ou seja, o autor achou que seria interessante escrever algo ambientado neste tempo e espaço, e elencar apenas um dos membros do interessante duo! Foi uma péssima escolha! Por outro lado, devo dizer que Litefoot é muito bem utilizado na história, e mesmo quase morrendo afogado em uma cena, tem uma participação ativa e bastante combativa contra os vilões, inclusive em um dos momentos mais importantes da história.

Atingida pelos Xaranti, a nave dos Zygons caiu na Terra, e esta é a explicação do porquê eles estão aqui. O comandante Balaak tem em mente um plano de dominação completa, exterminando a humanidade, e então dá início à criação dos monstros de estimação zygonianos (os Skarasens), dos quais os Zygons retiram leite para sua própria nutrição (o que é bem nojento). O autor começa utilizando bem as duas partes vilanescas, tanto na maneira como os Zygons cercam os humanos e os substituem, como na aparição episódica dos Skarasens pelo Tâmisa, sempre envolta em mistérios. A descrição da nave orgânica, do fedor de corpos putrefatos, das carcaças e da aparência da nave dos antagonistas é um dos momentos mais bem escritos do livro, capturando a impressão de podridão e de verdadeiro terror que os Zygons podem transmitir. A escalada do conflito avança relativamente livre de grandes problemas e conta com a entrada de Emmeline Seers (há uma reviravolta muito legal envolvendo ela), e com o avanço do plano dos Zygons. Os vilões encontram nos humanos um inimigo igualmente capaz de desenvolver um ódio destruidor, vide a cena dos trabalhadores em pleno modo de extermínio. E é na resolução de toda essa escalada que as coisas degringolam com rapidez estonteante.

Começa pelo fato de o Doutor matar praticamente todos os Zygons… por acidente. Confesso que, nesse momento, eu voltei umas 5 páginas e reli toda a preparação para aquela revelação, porque não acreditava na tal “solução inteligente” encontrada pelo autor para se livrar dos vilões. É uma escrita preguiçosa, que joga nas costas do Doutor uma culpa imensa e sob uma justificativa tão fraca e tão despropositada, que derruba muito a qualidade da obra só considerando essa escolha. Toda a resolução do caso, após essa atrocidade, está entre o “patético” e o “ruim“. O cientista Zygon chamado Tuval recebe um tratamento bipolar nos diálogos a partir desse ponto, e, após o livro girar páginas e páginas em torno do próprio rabo, finalmente chega no lugar proposto dezenas de páginas antes: o Doutor levando Tuval e os Skarasens remanescentes para um planeta desabitado, para começarem uma nova vida. Isso é posteriormente conformado num apêndice sem graça que indica, inclusive, que Sam não está viajando com o Doutor por um tempo.

Os Ladrões de Corpos é uma frustração em forma de livro. Introduz a temática brilhantemente para o público, desenvolve-a de forma solidamente aceitável (se a gente tirar a decepção de não ter Jago ao lado de Litefoot) e finaliza como se estivesse escrevendo fanfic concebida especialmente para irritar quem gostou do início. Eu ainda tive muito boa vontade para com a obra, porque adorei todo o bloco de introdução da temática e dos personagens — que pela qualidade, conseguiu manter o livro no meio da régua, para mim. Mas este é um dos casos em que entendo qualquer nota muito inferior à minha. A obra faz por onde merecer esse desgosto todo. Em tempo: como foi que a equipe de marketing da BBC Books chegou à conclusão de que seria interessante colocar a cara de um Zygon na capa do livro e dizer, na sinopse, que eles são os vilões da história? Esse tipo de coisa não seria melhor guardar como surpresa para os leitores? O que vocês acham?

Doctor Who: Os Ladrões de Corpos (The Bodysnatchers) — Reino Unido, 18 de agosto de 1997
Eighth Doctor Adventures (EDA) #3
Autores: Mark Morris
Publicação: BBC Books
290 páginas

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