Home TVTemporadas Crítica | O Príncipe Dragão (O Mistério de Aaravos) – 4ª Temporada

Crítica | O Príncipe Dragão (O Mistério de Aaravos) – 4ª Temporada

O segundo movimento da sinfonia.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Depois de três temporadas lançadas em um intervalo curto que fecharam um arco narrativo completo, a produção de O Príncipe Dragão começou a se preparar para a segunda fase de um projeto originalmente imaginado como tendo sete partes. No entanto, eis que veio a pandemia e o segundo arco demorou quase três anos para chegar no Netflix, com seu título original perdendo espaço e sendo adicionado de um subtítulo destacado, O Mistério de Aaravos, para realmente deixar claro esse “novo começo”.

Emulando a realidade de maneira muito próxima, quando a quarta temporada começa dois anos se passaram, que foi o tempo verdadeiro que Claudia (Racquel Belmonte) levou para, com a ajuda do poderoso, mas aprisionado Aaravos (Erik Todd Dellums), ressuscitar seu pai Viren (Jason Simpson) depois de sua queda para a morte do Pináculo da Tempestade, algo que espertamente subverte, mas sem contradizer, a menção a “dois dias” no cliffhanger da temporada anterior. Além disso, aprendemos que a magia sombria utilizada tem validade de apenas 30 dias, mas que o Elfo das Estrelas tem o poder de tornar permanente esse milagre, algo que é muito claramente uma forma de ele manipular Viren, Claudia e seu namorado elfo Terrestrius, ou Terry (Benjamin Callins), a embarcarem em uma jornada para libertá-lo.

No lado dos heróis, o Rei Ezran (Sasha Rojen) cresceu muito e continua governando Katolis sabiamente, tendo seu irmão, o Príncipe Callum (Jack De Sena), como seu braço direito e, agora, Mago Superior e membro do Alto Conselho juntamente com Soren (Jesse Inocalla). A primeira ação que vemos o jovem rei promover é a visita de Zubeia (Nicole Oliver), a Rainha Dragão, e seu filho Azymondias, ou Zym (vocalizações de De Sena) ao seu reino para reduzir o temor que os humanos ainda sentem pelas majestosas criaturas. Paralelamente, no acampamento que faz as vezes da destruída Lux Aurea, a Rainha Janai (Rena Anakwe), dos Elfos do Sol, prepara seu casamento com a General Amaya, a tia materna surda de Callum e Ezran, tendo que enfrentar o tradicionalismo arraigado de seu irmão Karim (Luc Roderique). Finalmente, a Elfa da Lua Rayla (Paula Burrows) desapareceu há dois anos tentando confirmar a morte de Viren por toda Xadia, mas ela, claro, não demora a retornar para tentar reaproximar-se de Callum.

Todo esse novo status quo pode até parecer complexo, mas a grande verdade é que não é, pois a estrutura da temporada reverte ao básico do estilo Dungeons & Dragons da série, ou seja, reduz tudo a uma jornada. Na verdade, são, tecnicamente, duas jornadas paralelas que se interpenetram e convergem, uma delas a já citada com o objetivo de libertar Aaravos empreendida por Claudia e companhia, o que inclui uma mistura de Gollum com borboleta que sai da crisálida criada a partir da lagarta de Aaravos, e a outra para justamente impedir isso por parte de Callum, Ezram, Soren e Raylan, além de Zym e os mascotes Isca (já tradicional) e Stella, o macaco-agarradinho que Raylan adotou durante sua ausência.

Minhas primeiras reações a essa aparente involução da série foi de incredulidade e apatia, pois estaríamos diante de tudo de novo mais uma vez, só que com os personagens levemente mais velhos. No entanto, na medida em que a temporada evoluía, aquela sensação de mergulho em um mundo fantástico consideravelmente familiar, uma verdadeira amálgama das mais variadas obras de alta fantasia, aqui com ainda mais destaque que nas demais temporadas o trabalho seminal de J.R.R. Tolkien, retornou com força total e a percepção do tamanho que a ameaça de Aaravos representa ganha forma quando sua origem é revelada por Zubeia, deixando evidente a forma como ele fez e, mesmo “atrás do espelho”, continua fazendo de todos suas marionetes. E o mais interessante é que o personagem em si só tem uma brevíssima, mas muito eficiente aparição em toda a temporada, em que usa seu poder para controlar Callum sem esforço algum.

Em outras palavras, a impressão de involução não demorou muito a desaparecer ou, pelo menos, a ser minimizada e justificada pelo simples fato de que sim, o que estamos assistindo, agora, é realmente um segundo movimento na sinfonia repleta de dragões, elfos, magia e outras criaturas variadas criada por Aaron Ehasz e Justin Richmond, movimento esse que exige uma nova jornada que certamente desaguará em um embate final com o grande vilão no momento exato. Achei particularmente inteligente a maneira como os roteiros estabelecem que a suposta união entre os diferentes povos – humanos, dragões e elfos – é ainda frágil, facilmente reversível se seus respectivos líderes não souberem trabalhar com cuidado e respeito uns com os outros, algo visto com mais força no núcleo de Lux Aurea, pois isso cria verossimilhança narrativa que pode muito bem ser transportada para o mundo real em que vivemos.

Igualmente, o cuidado com o desenvolvimento dos personagens principais é precioso. Apenas dois anos se passaram na série e é essa quantidade de tempo que afeta Callum, Ezran, Rayan, Soren e Claudia principalmente. Nenhum desses personagens tornou-se muito diferente do que era antes, mas as diferenças existem, claro. Ezran, sempre precoce, ainda é um meninão que vive a vida de maneira fundamentalmente inocente. Callum, apesar de já ser um mago com poderes que impõem respeito, ainda é atrapalhado e sentimental. Rayan deixou de vez para trás sua “versão” assassina, mas sua altivez é permanentemente perceptível, assim como seu carinho por seus colegas de todas as espécies. Soren, mesmo sendo um completo bobalhão como ele sempre foi, demonstra lealdade ao novo rei e a seus novos amigos e é capaz de ver os erros de sua irmã de forma a não cair em tentação. Finalmente, Claudia é uma figura vilanesca particularmente fascinante, pois ela faz o que faz por uma mistura de amor e lealdade a seu pai que a torna completamente cega, incapaz de parar e pensar exatamente nas consequências de seus atos ou de compreender que está sendo manipulada.

Tudo isso, somado à excelente técnica de animação, novos cenários e personagens, trabalhos originais de voz absolutamente impecáveis e alguns momentos tolkenianos inesquecíveis como a sequência dos presentes ofertados a Rex Igneous (Ben Cotton), o arquidragão da Terra que certamente é parente de Smaug, tornam a aguardada e atrasada quarta temporada de O Príncipe Dragão um deleite audiovisual. Claro que sua reversão à estrutura clássica de jornada talvez não seja a melhor solução e ele cobra seu preço, mas ele não é tão alto assim que não valha a pena pagar para o primeiro passo de um potencialmente majestoso segundo arco narrativo da série. Agora é torcer para que as próximas temporadas venham com a rapidez da trinca original.

O Príncipe Dragão – 4ª Temporada (The Dragon Prince, EUA/Canadá – 03 de novembro de 2022)
Criação: Aaron Ehasz, Justin Richmond
Direção: George Samilski
Roteiro: Aaron Ehasz, Justin Richmond, Neil Mukhopadbyay, Devon Giehl, Iain Hendry
Elenco (vozes originais): Jack De Sena, Paula Burrows, Sasha Rojen, Jason Simpson, Racquel Belmonte, Jesse Inocalla, Adrian Petriw, Omari Newton, Cole Howard, Rena Anakwe, Luc Roderique, Benjamin Callins, Dylan Schombing, Erik Todd Dellums, Nicole Oliver, Ben Cotton
Duração: 234 min. (nove episódios no total)

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