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Crítica | Hotel da Morte

Fantasmas não contam histórias.

por Felipe Oliveira
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É incrível como ainda no seu quinto filme Ti West parecia não ter um estilo definido, porém, exceto pelo desastroso Cabana do Inferno 2, seus trabalhos tinham alguns pontos em comum que poderiam ser observados: subgêneros do terror que tinham apreço com o público, sendo o seu foco a maneira que contaria a história. Semelhantemente à Casa do Diabo, onde o temor social dos americanos sobre a incidência de cultos satânicos serviu como uma inspiração para o enredo, com o Hotel da Morte, a base era sobre os rumores que assombravam o hotel Yankee Pedlar Inn, nos EUA. Da trama sobre ocultismo, o autor partiu para o universo do paranormal e mediunidade, e embora tenha essa familiaridade temática, visto os vários outros títulos que chegavam na mesma época, em 2011, West se destacava pela sua visão atípica ao apelo comercial de fazer filmes de terror onde o susto consistia em demonstrações com jumpscares.

Com claras referências ao O Iluminado – nos planos em corredores e ambientação externa – esteticamente, o design de produção nos transportava para uma história saída da década de 80, trazendo a última semana de funcionamento do Yankee Pedlar.  Nisso, acompanhávamos os funcionários remanescentes do local, Claire (Sara Paxton) e Luke (Pat Healy) debatendo a tragédia ocorrida nos anos 60, quando a noiva Madeline O’Malley (Brenda Cooney) que após ser abandonada no altar, se enforcou e teve seu corpo escondido por três dias para não comprometer a imagem do hotel. Diante da descoberta do caso, o lugar caiu em falência, tendo seu fechamento decretado.

Dividido em quatro capítulos, aos poucos a concepção de West era diluída, soando em alguns momentos um escopo de aventura sobre caça-fantasmas amadores com Claire e Luke cumprindo os tediosos turnos num lugar que não tinha nada de terror a oferecer. Olhando para o cenário que a produção chegava, The Innkeepers ia na contramão dos títulos paranormais e sobrenaturais que se popularizaram com filmes nipônicos (a exemplo de O Grito), mexendo assim com as expectativas embaladas pela divulgação que prometia uma estadia inesquecível e aterrorizante para quem topasse assistir ao filme. De certo modo, era um filme com fantasmas, contudo, não sobre eles.

Se em The House of the Devil a direção soava amadora, aqui as intenções de West puderam ser mais compreendidas além da emulação de um estilo: com uma abordagem que se identificava pela forma lenta, West se mostrava um cineasta que não aderia ao estilo popular de conduzir filmes de terror, mas que buscava remeter a uma fase onde a narrativa era mais definidora do que a utilização do susto como validação. Percebamos que para capturar a informação de que o hotel está fadado ao fechamento, havia a presença de um marasmo sendo transmitido através da dupla de hoteleiros, o que por sinal, era o que de melhor se destacava por meio de uma direção que não conseguia convencer de domínio e personalidade.

A ideia era empregar uma abordagem que fugisse da condução óbvia, e fazer da narrativa o principal alicerce que contaria a história de um hotel assombrado e falido com um jogo de personagens e expectativas, então a direção se perdia na pretensão de sobressair a fórmula ao cair num lugar anticlimático. Como West calibrou essas nuances, estava na quebra de tensão com um humor involuntário dos personagens. Um momento que ilustra isso é quando Claire é surpreendida pela aparição de Madeline: toda construção anunciava a chegada do susto fácil, um detalhe é que o plano focava em enquadrar o fantasma e através da sonoplastia exemplificar como a personagem ao acordar percebia que não estava sozinha no quarto, algo que o telespectador já visualizava e o susto é passado de forma a não soar gratuito, e sim, prender a atenção pela execução. Em seguida, a sequência é encerrada com gags descabidas.

Isso até funciona graças ao carisma de Sara Paxton ao ser convincente na sua performance boba e infantilizada de Claire. Boa parte do filme se resume a ela e o colega hoteleiro tentando uma última vez encontrar evidências de que espíritos habitam o local, e nisso, a audiência é entretida pela movimentação deles e os longos diálogos. O ponto-chave é que, enquanto o telespectador esperava por demonstrações familiares do terror, seja na trilha sonora estrondosa e entidades aqui e ali, West tocava toda essa configuração de maneira irônica, visto que os personagens também perseguiam comprovações para as histórias que tanto ouviram.

Talvez se não fosse pela narrativa por vezes insólita, o filme fosse visto pelo viés da sátira em vez de um chato exercício narrativo. O final é um claro exemplo de que sim, West jogou com todas as peças esperadas de um terror paranormal genérico, e como ele usou isso, foi era seu diferencial. Ao trazer o humor involuntário como recurso, era como a direção ia contrariando e desviando o foco da obviedade já que havia várias informações espalhadas, e o principal foi um foreshadowing da bombinha para asma de Claire. Em suma, Ti West é um diretor com potencial, mas que exige um esforço para ser mais apreciado em sua execução enfadonha. 

Hotel da Morte (The Innkeepers – EUA, 2011)
Direção: Ti West
Roteiro: Ti West
Elenco: Sara Paxton, Pat Healy, Kelly McGills, Alison Bartlett, Brenda Cooney, George Riddle
Duração: 101 min.

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