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Crítica | Halloween Ends

O último embate entre Laurie Strode e Michael Myers, desfecho da nova trilogia Halloween, da Blumhouse.

por Leonardo Campos
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Depois de tantos momentos desgastantes, foi complicado acreditar que a saga de Michael Myers e Laurie Strode se tornaria, mais uma vez, relevante. Convenhamos que com exceção do primeiro filme e do retorno de Jamie Lee Curtis em Halloween H20: Vinte Anos Depois, o embate entre os personagens em outras incursões ficou bastante abaixo da média, com momentos relativamente interessantes, tal como Halloween: O Início, refilmagem de Rob Zombie, mas situações embaraçosas, em especial, na continuação da refilmagem e no retorno bizarro de ambos os personagens no embaraçoso Halloween: Ressurreição. A Blumhouse comprovou, no entanto, que os dois perfis dramáticos poderiam garantir ao público mais incursões neste universo, se o cineasta, os roteiristas e os demais caminhos de produção fossem devidamente estudados, como aconteceu em Halloween (2018), narrativa que considerou apenas o filme de 1978 e desatou os nós da relação fraterna entre o antagonista mascarado e a final girl mais famosa do slasher. O retorno de Curtis e a presença de John Carpenter como consultor criativo e compositor da trilha sonora asseguraram um espetáculo de violência que refletiu o potencial devastador do trauma na vida das figuras ficcionais de Haddonfield, situação elevada aos extremos em Halloween Kills: O Terror Continua, o segundo filme de uma nova trilogia dentro desta franquia que já conta com 13 episódios e encerra o arco atual com Halloween Ends.

Com três filmes muito peculiares, temos agora um desfecho interessante para uma empreitada que dialogou bastante com o nosso atual contexto sociocultural. Tendo o #metoo e as relações conflituosas numa contemporaneidade minada pela misoginia, Halloween (2018) trouxe Michael Myers tocando o terror quarenta anos depois da fatídica noite de 1978, escapando da armadilha preparada por Laurie Strode e assim, garantindo mais um frenético passeio pelas ruas de Haddonfield, aniquilando não apenas novos personagens, mas também destroçando todo um legado aparentemente intocável. Esse foi o desdobramento de Halloween Kills, capítulo do meio desta nova trilogia que discute os impactos do efeito manada em nossa sociedade e peca apenas por ser demasiadamente excessivo em algumas mortes, mas mantendo o ritmo e o bom desempenho de seu antecessor. Agora, quatro anos depois do desaparecimento misterioso de Michael Myers, o terror parece estar de volta na cidade. Laurie Strode vive momentos mais tranquilos, apesar de transmitir insegurança diante da onipresença da Forma. Ela escreve um livro de memórias, atravessa o luto pela perda da filha e mora com a sua neta Alysson (Andi Matichack), todas tentando retomar as suas vidas depois de tantas tragédias.

A paz, no entanto, não demora a encontrar o tormento. Agora, Corey Cunningham (Rohan Campbell), é acusado de ser o assassino de uma criança que tomava conta, acontecimento que sacode a cidade e reforça que a aparente tranquilidade era só momentânea. Sem saber exatamente quando e onde, Laurie Strode guarda para si a sensação do possível retorno de seu nêmesis, sensação que demonstra ser o prenúncio de todo banho de sangue que está para acontecer em mais uma noite de 31 de outubro em Haddonfield. É assim que, ao longo de seus 111 minutos, Halloween Ends nos apresenta o impiedoso Michael Myers de volta com força total, disposto a saciar a sua sanha assassina em cenas dinâmicas, com mortes graficamente impressionantes, numa saga que, ao menos para Jamie Lee Curtis, é a sua despedida da franquia, pois a atriz considera que foi até longe demais, tendo aceitado este retorno sem esperar que apenas um filme garantisse o estabelecimento de uma nova trilogia.

Diferente da proposta do segundo desta era, agora Laurie Strode tem mais tempo em cena, sendo novamente o ponto nevrálgico de Halloween Ends, um slasher envolvente e curiosamente divisor de águas para os fãs: alguns vão simplesmente odiar, enquanto outros talvez compreendam a proposta ousada, mas perigosa, dirigido com eficiência por David Gordon Green, cineasta que toma como ponto de partida, o roteiro escrito em parceria com Danny McBride, Paul Brad Logan e Chris Bernier, texto dramático que dosa os diálogos mais reflexivos com momentos de muita tensão, em especial, na segunda parte, sendo a primeira uma apresentação panorâmica de tudo aquilo que é novidade neste que é extremamente diferente de seus antecessores.  Para mergulhar os espectadores na atmosfera pretendida, John Carpenter, Cody Carpenter e Daniel Davies compuseram mais uma trilha sonora imersiva, com as variações do clássico tema principal da franquia, sonoridade que ainda emociona, mas quase não aparece no desenvolvimento da narrativa, deixando aquela sensação de que algo está faltando. E isso não é nada bom. Ademais, diante de três filmes, a saga de Michael Myers e Laurie Strode já nos contou o suficiente e mais, aqui, talvez fosse estragar a qualidade de tudo que foi apresentado com louvor após os tantos desastres envolvendo este universo de personagens ao longo dos anos 1980, 1990 e 2000.

De volta em Halloween Ends, temos Lindsey Wallace (Kyle Richards), o xerife Barker (Omar Dorsey), Frank Hawks (Will Patton), do ator Nick Castle, primeiro intérprete da Forma, dentre outros, além da presença de membros da equipe técnica dos anteriores, profissionais que mantém a qualidade estética e colaboram com o clima pretendido, isto é, o lado mais sombrio de uma noite do Dia das Bruxas. Richard A. Wright nos entrega um design de produção caprichado, com cenários e direção de arte cheia de referências aos momentos mais icônicos da franquia, solidificados pela direção de fotografia de Michael Simmonds, também muito eficiente ao emular ângulos e planos não apenas do universo criado por David Gordon Green, mas também do clássico de 1978. Aqui, além da força em cena de Jamie Lee Curtis, temos também o empenho de sua dublê, Ashley Rae Trisler, sagaz nas passagens de embate físico com a assustadora figura de Michael Myers, interpretado silenciosamente por James Jude Courtney, monstro que representa a encarnação do mal, alegoria do bicho-papão para nos fazer refletir que determinados horrores de nossa sociedade ainda se mantém firmes em nosso cotidiano, numa sina que nos deixa constantemente em alerta.

Em linhas gerais, um slasher épico, com ritmo irregular em sua primeira parte, produção que encerra o que foi iniciado em 2018, devolvendo ao herdeiro Malek Akkad os direitos de uma franquia que, agora, não se sabe os novos rumos que ganhará, afinal, como narrado por Laurie Strode no desfecho, o mal em si nunca acaba, apenas muda de forma. E mudança, aqui, é o que mais impacta em Halloween Ends, um desfecho complicado para analisar e dar nota, pois como entretenimento, confesso que esperava outra proposta, mas como crítico, devo dizer que a ambição dos realizadores é digna de aplausos.

Halloween Ends (EUA, 2022)
Direção: David Gordon Green
Roteiro: Danny McBride, David Gordon Green, Scott Teems (baseado no roteiro original de John Carpenter e Debra Hill).
Elenco: Jamie Lee Curtis, Andi Matichak, Carmela McNeal, Chris Holloway, Christopher Allen Nelson, Drew Scheid, Dylan Arnold, Haluk Bilginer, Hannah Russell, James Jude Courtney, Jefferson Hall, Marian Green, Miles Robbins, Nick Castle, Omar J. Dorsey
Duração: 110 min

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