Baseado em livro homônimo de Grady Hendrix, O Exorcismo da Minha Melhor Amiga conta uma história que é exatamente o que seu descritivo título promete a partir da amizade entre duas jovens no final dos anos 80: a feia e humilde Abby Rivers (Elsie Fisher) e a bela e rica Gretchen Lang (Amiah Miller). Com roteiro de Jenna Lamia e direção de Damon Thomas, ambos estreando em longas com este filme, a adaptação é uma versão bem mais objetiva do romance que se livra quase que completamente da construção da narrativa de amizade entre as jovens para privilegiar o lado sobrenatural sem, infelizmente, conseguir um resultado coeso o suficiente para ser mais do que algo completamente esquecível.
Sem se valer de artifícios que sedimentem a conexão profunda entre Amy e Gretchen, praticamente opostas em tudo menos exatamente em sua amizade, os sacrifícios da primeira para salvar a segunda da possessão demoníaca a que é sujeita depois de uma noite de drogas em um cabana à beira do lado dos pais da amiga em comum Margaret Chisolm (Rachel Ogechi Kanu) não se sustentam, assim como os momentos finais do exorcismo que remete a um passado entre as duas que não conhecemos, com exceção da fixação delas pelo Boy George. O roteiro de Lamia falha ao praticamente iniciar o filme com a possessão, não dando tempo de maturação para Abby e Gretchen, e também para Margaret, a única que namora, e a quarta amiga que fecha o grupo Glee Tanaka (Cathy Ang).
E essa escolha de lidar quase que diretamente com o sobrenatural me parece muito estranha, pois ela fere de morte a ambientação do longa nos anos 80, década que só é aproveitada como um fraco pano de fundo a ponto de a história poder se passar em praticamente qualquer outra época, mesmo durante os dias atuais (o que exigiria, claro, a inserção da tecnologia moderna, especialmente celulares, o que seria tão fácil quanto estalar os dedos). Assim como a amizade das quatros jovens – especialmente, claro, da dupla principal – nos é forçada goela abaixo por diálogos descritivos, toda a vibe oitentista só existe artificialmente, em ambientes específicos como os quartos das jovens e em alguma medida nos figurinos e penteados, mas nada que realmente funcione para fixar o longa nesta época.
Claro que a progressão narrativa, que bebe de todos os clichês possíveis de filmes do gênero, mas sem realmente mergulhar de verdade no horror em momento algum, tem algum grau de charme em razão das jovens atrizes, especialmente Miller que tem a oportunidade de passar por diversas transformações de caráter que vão aos poucos destruindo a conexão entre as amigas. Fisher não está mal como Abby, mas o trabalho de maquiagem para enfeiar a atriz me pareceu apressado, simplista e, por isso mesmo, criador de um vale da estranheza que eu não esperava de um efeito prático desses. Ela mais parece uma boneca feia do que uma adolescente feia e isso acaba afetando o resultado de sua performance.
No final das contas, a única coisa que O Exorcismo da Minha Melhor Amiga consegue bem e, creio, provavelmente sem querer, é evocar justamente os filmes de baixo orçamento oitentistas de horror feitos na correria para surfar na onda do sucesso de outras obras por diretores e roteiristas desconhecidos, quase como se o longa fosse um piloto de série de TV. Havia potencial para muito mais aqui, seja trabalhando melhor o lado sobrenatural e não apenas fazendo o básico, seja construindo com solidez a história de amizade adolescente que está abaixo da superfície do roteiro de Lamia e que poderia muito bem beneficiar as quatro jovens atrizes para além de caracterizações quase que monolíticas, com exceção da já citada Miller e mesmo assim sem muito brilho, sendo sincero.
O Exorcismo da Minha Melhor Amiga (My Best Friend’s Exorcism – EUA, 30 de setembro de 2022)
Direção: Damon Thomas
Roteiro: Jenna Lamia (baseado em romance de Grady Hendrix)
Elenco: Elsie Fisher, Amiah Miller, Cathy Ang, Rachel Ogechi Kanu, Clayton Johnson, Chris Lowell, Nathan Anderson, Cynthia Evans, Rachel Leah Cohen, John Stoneburner, Cameron Bass, Ashley LeConte Campbell, Michael Wayne Foster, Michael Proctor, Erin Ownby
Duração: 97 min.