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Crítica | Drácula de Bram Ratoker

Uma mistura de Bram Stoker com Francis Ford Coppola e Walt Disney

por Luiz Santiago
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A parceria entre o roteirista Bruno Enna e o desenhista Fabio Celoni foi proposta pela editora da revista Topolino, na Itália, e tinha como objetivo colocar dois amigos para pensarem uma versão “macabra e ao mesmo tempo cômica” de uma das histórias de terror mais conhecidas de todos os tempos. Drácula de Bram Ratoker é, na essência, uma mistura de duas grandes fontes sobre o icônico vampiro: o clássico livro de Bram Stoker (1897) e o filme dirigido por Francis Ford Coppola (1992), ambos embrulhados em um pacote-Disney que, mesmo retrabalhando os momentos sanguinolentos ou mais adultos e sugestivos dessas obras referenciais, não deixou de ser macabro. Bem, “macabro” à moda daquilo que conhecemos dos quadrinhos da Disney, ou seja, com alguns absurdos, algumas brincadeiras, referências e maneiras inteligentes de tornar coisas pesadas em leves estranhezas — e neste caso, a maior parte delas acaba funcionando!

O primeiro ponto a se considerar é o personagem principal: Drácula. Mesmo que a sua exibição seja a partir do ponto de vista de Jonathan Ratker (Mickey), sua aparição chama a atenção pelas vestimentas, pelos hábitos noturnos, pelas estranhas conversas que trava com Ratker e por ir progressivamente se revelando para um certo grupo de britânicos, transformando-se em diferentes animais. Na primeira parte, o roteiro de Bruno Enna visa fazer o leitor entender que Drácula (Mancha Negra) está de mudança para a Inglaterra e levará muitos caixões de terra. Como faltam bons diálogos indicativos de uma motivação para o personagem, esse bloco inicial do quadrinho é o mais fraco de todos. As coisas acontecem como se fossem movidas por uma força hipnótica inexplicável, dando a sensação de que o autor procurou não interferir demais para não tirar de cena as possíveis similaridades com o livro ou o filme, o que evidentemente teve um preço para o quadrinho.

O terror causado pelo “sugar do sangue” é substituído por uma fixação em beterrabas, o que me fez rir o tempo inteiro. E isso se tornou mais engraçado porque o Pateta, que faz o papel de Van Helsing, não segura a língua e trata a Minnie e a Clarabela da maneira mais provocativa e sem-noção possível, chamando uma de orelhuda e outra de nariguda, respectivamente. É uma curiosa quebra de expectativa, porque ele realmente sabe o que está fazendo. E como a motivação do terror é a “transformação” de outros indivíduos em beterraba (inclusive fazendo com que este indivíduo seja literalmente plantado/enterrado, quando a contaminação se completa), fica a dúvida se o Pateta vai ou não atrapalhar ainda mais quem está em perigo. Ocorre que ele guia todo o caso com essa visão de quem entende de “legumes diferentes” e, claro, sempre com referências às fontes escolhidas pelos autores, com boas pitadas de humor e senso de aventura.

Diferente do roteiro, que tem um início bem fraco e não cresce tão imensamente de seu desenvolvimento para o final, a arte de Fabio Celoni aqui sustenta-se como um verdadeiro espetáculo. Finalização repleta de sombreamento; muito uso de hachuras para o preenchimento de espaços e criação suja de sombras; desenhos grandes e arredondados para diferentes partes do corpo dos personagens (dependendo do quadro e do momento da narrativa) mais uma estupenda aplicação de cores (de Celoni com Mirka Andolfo) fazem o projeto visual desse volume ser a grande pérola. Drácula de Bram Ratoker homenageia dois grandes clássicos, de diferentes mídias, e cria uma versão engraçada e simpática para o famoso vampiro da Transilvânia, desta vez, ligado a beterrabas. Não é uma história de roteiro ou diálogos fortes, mas que consegue se sobressair muito bem por sua excelente arte e, em termos narrativos, traz bons momentos de tensão e diversão, com um final que dá uma inesperada função para a marreta e a estaca de madeira, citadas como “último recurso” no decorrer da história.

Drácula de Bram Ratoker (Dracula di Bram Topker) — Itália, 8 e 15 de maio de 2012
Código da História: I TL 2945-1P
Publicação original: Topolino (libretto) 2945 e 2946
Editora originai: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Pateta (Abril – 3ª Série) 17 e 18 / Disney de Luxo 7 – Disney Cinema / Graphic Disney (Panini) 4 – Drácula de Bram Ratoker
Roteiro: Bruno Enna
Arte: Fabio Celoni
Cores: Mirka Andolfo, Fabio Celoni
Capas originais: Fabio Celoni, Mirka Andolfo, Alessandro Perina, Valeria Turati
80 páginas (edição brasileira publicada pela Panini)

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