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Crítica | Kickboxer: A Retaliação

Sete filmes, o primeiro verdadeiro acerto!

por Ritter Fan
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Antes tarde do que nunca. Mesmo sendo muito bem cotado por quem é fã de Jean-Claude Van Damme, seu Kickboxer: O Desafio do Dragão, de 1989, é um filme cheio de problemas que não passa da linha mediana. Seguiram-se cinco outros filmes da franquia sem o astro belga que retornou somente para o decepcionante remake de 2016, Kickboxer: A Vingança do Dragão, desta vez como Mestre Durand, que treina o novo Kurt Sloane (Alain Moussi) para lutar contra o novo Tong Po (Dave Bautista). Mas eis que, contra todas as probabilidades, é no sétimo filme da série, que conta novamente com Van Damme como Durand treinando Moussi como Sloane, que tudo parece funcionar de verdade.

E há três relevantes razões para Kickboxer: A Retaliação dar certo. A primeira delas é que o roteiro de Dimitri Logothetis e Jim McGrath, a mesma dupla do longa anterior, chuta completamente o balde em termos de exageros de personagens e de pancadaria, criando o que talvez possamos chamar de a versão muay thai de Rocky IV, ou seja, uma autoparódia que, porém, funciona muito bem dentro da proposta repleta de fogos de artificio. A segunda é que Logothetis, que assumiu também a direção, mostra que entende do que escreve e acerta em praticamente tudo que coloca em tela, especialmente na forma como aborda as lutas, sem pressa e com um verniz até elegante, o que é essencial para um filme desse tipo. Finalmente, a terceira razão é que, além de Van Damme agora cego como um coadjuvante de respeito, o longa conta, ainda, com Christopher Lambert como um agenciador de lutas que sequestra tanto Kurt como sua agora esposa Liu (Sara Malakul Lane) para forçá-lo a defender seu título; Mike Tyson (sim!) e Ronaldinho Gaúcho (sim também!) como detentos na Tailândia que ajudam a treinar Kurt e, finalmente, ninguém menos do que Gregor “A Montanha” Clegane que veio de Westeros para lutar contra Kurt, alterando seu nome para Mongkut (Hafþór Júlíus Björnsson).

Essa conjunção de fatores, por mais surreal que possa parecer, realmente funciona. Normalmente reclamo que, em continuações, Hollywood tenta sempre fazer mais do que foi feito no filme anterior, em uma espécie de competição interna que joga a substância pela janela para privilegiar a forma. No entanto, sempre há exceções que confirmam a regra e é o que ocorre aqui em Kickboxer: A Retaliação, já que Logothetis tem plena consciência dos absurdos que ele coloca em tela e tira o maior proveito deles, seja usando e abusando de câmeras lentas, de borrifos de sangue e de golpes impossíveis, o que inclui matar o protagonista não uma, mas duas vezes(!!!), seja fazendo com que Lambert e Van Damme tenham um infelizmente breve demais duelo de espadas que, claro, só existe para evocar um pouquinho o clássico Highlander: O Guerreiro Imortal. Em outras palavras, o longa não se leva a sério e, portanto, não pede que os espectadores o levem a sério, algo que já fica evidente na quase surreal sequência de abertura com direito a um tango de Kurt e Liu em um trem de luxo que, na verdade, é um “devaneio” premonitório de Kurt durante uma luta em Las Vegas contra o carioca Renato “Babalu” Sobral.

Em circunstâncias normais, a duração de quase duas horas seria um alerta de que o filme se arrastará muito além do que o necessário, mas mesmo nesse aspecto o diretor acerta. Não todo o tempo, que fique claro, já que ele poderia ter facilmente cortado uns 15 minutos ao longo da duração, mas é alvissareiro notar que Logothetis não desperdiça a minutagem com mensagens edificantes ou pseudo-bobagens só para fazer seu filme parecer mais do que ele é como muito cineasta não resiste em fazer. Em Kickboxer: A Retaliação, o que temos é o que interessa em um filme desses, no final das contas: treinamento e pancadaria; pancadaria e treinamento. E o melhor é que há uma variação enorme no que vemos, como as presenças de Mike Tyson e Ronaldinho Gaúcho, além de outros, não me deixa mentir, valendo especial destaque para as lutadoras de biquínis enfiados na bunda com tatuagens e batons que brilham na luz ultravioleta, em uma sequência que subverte a famosa cena da luta do labirinto de espelhos de Bruce Lee em Operação Dragão.

Com tanta coisa boa para ver, detalhes como desenvolvimento de personagens, atuação e outras coisinhas assim acabam tornando-se insignificantes neste sétimo exemplar da franquia e o único que ultrapassa com orgulho a barreira da mediocridade. Não é sempre que eu costumo dizer isso, pois são raros os longas cujo valor está no puro entretenimento sem qualquer outra camada de comentários, mas Kickboxer: A Retaliação não só é um desses filmes, como, nesta bem específica categoria que poderíamos batizar de “filmes de luta em que só as lutas importam”, é um dos melhores ao lado do citado Rocky IV. Agora é torcer para que Kickboxer: Armageddon, que está em gestação já há bastante tempo e que em tese fecha essa Trilogia Kickboxer protagonizada por Alain Moussi, seja realmente lançado, pois fico curioso para ver o que será feito para barrar os exageros deste segundo capítulo (mais coisa rara: eu torcendo para que uma continuação seja feita…).

Kickboxer: A Retaliação (Kickboxer: Retaliation – EUA, 2018)
Direção: Dimitri Logothetis
Roteiro: Dimitri Logothetis, Jim McGrath (baseado em personagens criados por Jean-Claude Van Damme, Mark DiSalle)
Elenco: Alain Moussi, Jean-Claude Van Damme, Hafþór Júlíus Björnsson, Mike Tyson, Sara Malakul Lane, Christopher Lambert, Steven Swadling, Sam Medina, Miles Strommen, Randy Charach, James P. Bennett, Brian Shaw, Roy Nelson, Ronaldinho Gaúcho, Fabricio Werdum, Jessica Jann, Maxime Savaria, Nicholas Van Varenberg, Wanderlei Silva, Rico Verhoeven, Renato Sobral, Renzo Gracie, Frankie Edgar, Maurício Rua, Jazz Securo, Kevin Lee
Duração: 110 min.

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