Home Diversos Crítica | Perry Rhodan – Livro 52: O Pseudo, de Clark Darlton

Crítica | Perry Rhodan – Livro 52: O Pseudo, de Clark Darlton

Um disfarce importante.

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 2: Atlan e Árcon — Episódio: 52/99
Principais personagens: Perry Rhodan, Gucky, John Marshall, Laury Marten, conde Rodrigo de Berceo, Glogol
Espaço: Planetas Vênus, Hellgate e Tolimon
Tempo: 2040

Depois de três livros ótimos na abertura do ciclo Atlan e Árcon, não é de se espantar que viesse alguma coisa menos interessante, ao menos no aspecto central da obra. O Pseudo é, em parte, um livro de aparente resolução, onde o caso no planeta Tolimon é finalmente concluído, mas de uma forma que levanta uma quantidade absurda de perguntas e nos faz questionar o por quê os editores não se preocuparam em lançar pistas nas obras anteriores a respeito de condições tão importantes como a possibilidade de os rastreadores dos saltos galácticos não funcionarem mais como funcionavam antes. Ou seja, que fosse possível para algum novo tipo de nave arcônida mapear os saltos pelas dimensões e descobrir onde foi que uma determinada nave fugitiva acabou aportando.

Num primeiro momento, porém, Clark Darlton cria uma grande expectativa, colocando Rhodan como um falso Inspetor de Árcon e iniciando uma busca cega pelo planeta, tentando encontrar Marshall e Laury o mais rápido possível. É curioso que os disfarces que a Terra conseguiu, até agora, foram perfeitos até a página dois, não conseguindo enganar o Robô Regente de Árcon. E sim, eu gosto dessa linha de abordagem. Por um lado, mostra que os terranos são capazes de burlar qualquer grande segurança planetária, mas que, pelo menos até o presente momento, possuem um limite em sua falsificação de documentos, vestuário e histórico pessoal, como já vimos acontecer com os dois telepatas em O Soro da Vida. Vale aqui, uma reflexão. Desde o episódio com Ellert, em Invasão Espacial ficou claro que os escritores procuram não deixar personagens que sejam imensamente fortes agindo de maneira apelativa durante todo o tempo, o que certamente é uma medida coerente e necessária, agora se estendendo para o trabalho da equipe terrana de preparação para missões interplanetárias.

A maior parte do livro nos mostra Rhodan e Gucky em uma missão de busca que consiste em ambos se colocarem em perigo para fazerem uma espécie de triangulação telepática das mentes dos outros agentes do Exército de Mutantes. As provocações entre o chefe do Império Solar e o rato-castor são engraçadas e muito boas, mas até certo ponto, especialmente na fase final do volume. Já deixei muito claro o meu profundo descontentamento pela forma como os autores vêm tratando Gucky, tornando-o um rebelde inconsequente, fazendo apostas totalmente sem graça e agindo de maneira inclusive a atrapalhar o bom funcionamento das missões. Embora em menor intensidade, essa mesma linha é adotada por Darlton no presente livro, o que me deixou muito incomodado. Em diversos momentos, Gucky desobedece às ordens de Rhodan, faz coisas sem consultar o chefe, desconsidera conselhos importantes e retruca como um adolescente insuportável. A sorte é que ele ainda tem excelentes momentos em cena, então é impossível desgostar do pequeno. Caso contrário, essa péssima mudança que fizeram com ele desde os últimos livros do arco A Terceira Potência o teria estragado por completo e, por tabela, diminuído a qualidade das histórias onde pudesse aparecer.

A sequência de fuga final também tem um ponto cego, embora menos incômoda do que a do volume anterior. Em dado momento, o grupo está fugindo das forças dos Aras e, em outro, tudo parece ter se resolvido. Mas este é um incômodo menor aqui. Pelo menos em comparação a outras coisas, como por exemplo, Rhodan retirando das mãos de Laury o tubo com o soro da vida, justificando que “estava com medo que ela o perdesse“, o que é um absurdo machista tão descarado que eu não via já há bastante tempo na série. Tudo bem que toda essa linha romântica com Rodrigo de Berceo é um saco (e esse personagem também não me agrada), mas a mutante tem um alto senso de responsabilidade e, até aquele momento, tinha guardado o tubo em segurança. Não havia justificativa real para Rhodan fazer aquilo. Outro exemplo que posso dar de má condução narrativa é essa novidade de que, talvez, Árcon possa rastrear a posição do salto da nave de luxo que Rhodan estava usando.

Seria muito mais interessante que o salto fosse de Tolimon para a Terra, mas o autor inventou, de última hora, uma possibilidade nunca antes sequer sugerida, apenas para prolongar a situação de tensão. Por um lado, entendo a prolongação e não teria problema nenhum com ela se a justificativa fosse válida ou narrativamente coerente, o que não é o caso. Criar, de última hora, um obstáculo para algo já estabelecido como seguro (os saltos encobertos pelo rastreador) é indício claro de má escrita, o que para mim derrubou um pouco a qualidade da obra nessa reta. Para piorar, o gancho e o papo entre os mutantes e Rhodan é ruim. A palavra “férias” chega a ser citada como “definição” (mesmo que irônica) do momento, o que piora o conjunto. E como não acontece absolutamente nada de marcante, ficamos com uma reticência fria de que, num planeta desse sistema onde a nave luxuosa se materializou, pode acontecer alguma coisa importante e perigosa. Pois é. O Pseudo é um livro muito bom até os seus 15% finais. Daí para frente, passa a ser uma pequena coleção de incômodos e questionáveis escolhas dramáticas.

O acaso pode estragar o melhor dos planos. Foi o que aconteceu em Tolimon, um dos mundos dos Aras, onde Perry Rhodan, o pretenso Inspetor de Árcon, subitamente se confronta com um fato novo: a existência do Inspetor verdadeiro. Rhodan e seus companheiros conseguiram deixar o perigoso planeta. Acontece que o mundo em que foram abrigar-se não é menos perigoso que este. Em OS CONDENADOS DE ISAN, Perry volta a correr novos riscos. 

Perry Rhodan – Livro 52: O Pseudo (Der falsche Inspekteur) — Alemanha, 31 de agosto de 1962
Autor: Clark Darlton
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1977)
171 páginas

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