Home FilmesCríticas Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa – A Versão Ainda Mais Divertida

Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa – A Versão Ainda Mais Divertida

A moda do relançamento.

por Felipe Oliveira
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Uma das primeiras estratégias boladas pelas redes de cinema brasileiras para tentar capitalizar durante o cenário pandêmico antes de abrir portas para grandes estreias, foi colocar em cartaz alguns dos blockbusters mais recentes que estiveram no boca a boca do público. Na lista da ideia proposta em 2020, nomes como Vingadores, Mulher-Maravilha, Batman: Cavaleiro das Trevas e Pantera Negra eram alguns dos títulos tidos como novos clássicos a se juntarem a Matrix, ET, De Volta para o Futuro… se na vez pareceu absurdo e arriscado demais pagar por filmes reproduzidos inúmeras vezes na cultura pop enquanto se assumia um caos pela COVID-19, esse planejamento foi fazendo cada vez mais sentido quando ficou notório que só os blockbusters conseguiam arrastar as pessoas para os cinemas, principalmente com o exemplo de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, retornando às telonas com a prometida “mais divertida” versão estendida.

Se Matrix foi reexibido com a chegada do quarto capítulo, Resurrections, ou Harry Potter e a Pedra Filosofal também, graças ao aniversário cinematográfico da saga, os 11 minutos extras de No Way Home vem com mais expectativas do que os seis minutos inéditos que colocaram Vingadores: Ultimato de novo em cartaz no final de 2019. Esses exemplos não pontuam uma fase em que a nostalgia precisa ser sentida nas grandes telas, e sim, fala mais de uma estratégia de obter lucro enquanto o hype mantém esse senso. Faz um ano desde que a internet pôde acompanhar o marketing massivo de um filme que estava a curto prazo para ser lançado, e nisso, lidava com a pressão de finalizar a pós-produção a tempo. Os rumores já vinham com as próprias pernas se confirmar através de supostas imagens vazadas. Tudo isso fazia parte de um movimento que o público conhecia bem, uma vez que muito do que era cogitado foi ganhando força porque era parte de um jogada que sabia atrair pelo que era esperado.

A esperança era para um desfecho épico de uma trilogia do teioso, com direito a nada menos que um evento. Se dá para resumir Sem Volta para Casa com uma palavra é compensação, ou melhor seria reparação? Para alguns, o terceiro capítulo da saga de Sam Raimi só esbanjou inconsistência, Marc Webb teve os planos de ter uma trilogia com seu remake frustrados, e agora o roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers tenta sair da sombra do que foi desenvolver um Peter Parker tão afetado pela soma das participações no MCU e com suas emoções ligadas a Tony Stark. Se a versão vivida por Tobey Maguire sempre lidou o peso da responsabilidade, e a de Andrew Garfield começou com uma reintrodução sombria da história de origem, Tom Holland e seu Parker sempre se viu fugir de qualquer seriedade numa saga que desde a introdução do aracnídeo em Guerra Civil diz estar trabalhando a maturidade do herói que poucas vezes parecia ser o Amigo da Vizinhança.

Mesmo com as participações de Maguire, Garfield e respectivos vilões de seus filmes tenham sido a grande sacada aqui, o roteiro tenta aproveitar os acontecimentos para então trabalhar uma dramaticidade além da presença do humor pastelão constante que Jon Watts emprega durante a trama. A ideia da identidade do teioso ter sido exposta por Mistério serve como o pontapé para Peter então encarar o peso do que é ser o Homem-Aranha e ter seu segredo compartilhado. Dentro do forro cômico que Watts conduz a narrativa, tivemos a presença do icônico J. Jonah Jameson e Peter buscando apoio dos amigos para lidar com a caótica exposição pública e o temor pelo seu futuro. Pela primeira vez essa versão do teioso investe em desenvolver essa transição e colocar na balança o que está no jogo, e para essa virada, então, Marisa Tomei e sua May para de ser tratada como uma figura sexualizada e passa a assumir o posto da única responsável legal pelo jovem Peter. Essa é uma das apostas corridas que No Way Home tenta compensar, com a personagem tendo algo parecido com uma conversa além de frases calculadas para o humor. Tudo isso serve para que a então suposta maturidade de Peter comece ter algum valor longe de consequências corrigidas por outros personagens que interage, o que nos leva para a despedida da tia May com a famosa frase que coroa a trilha emocional e de equilíbrio de Peter como um herói: com grandes poderes, vem grandes responsabilidades.

Graças a isso é que o roteiro começa a explorar, ainda que superficialmente, a moralidade de Peter pelo desejo de se vingar pela da tia. Das muitas possibilidades que o título do filme sugere, não voltar para casa, marca a transição para uma nova fase acompanhada de consequências com o teioso tendo que se reinventar. Porém, olhando para todo o esforço que o roteiro propõe na tentativa de reformular o que já foi trabalhado, No Way Home se resume mais pelo conteúdo regado a fan service do que como um desfecho de peso para uma trilogia. De início, se pensa na soma épica que é reunir Garfield, Maguire e antigos vilões para essa empreitada. É algo que vai além da nostalgia, por captar a emoção ainda viva de querer ver esses atores na pele dos aracnídeos, mas vejamos. Longe do momento certeiro que foi inserir a chegada dos Aranhas na perda de May, com os três heróis refletindo sobre esse ponto doloroso de perdas, não só pela ausência de quem mais amavam, e também de se reconhecerem nessa trajetória, é incrível como Watts não conseguiu criar nenhuma cena visualmente memorável o que envolve também a fotografia escura que dificulta a compreensão das sequências com trio junto. E a pose para memes, e os vários diálogos metricamente calculados para fazer média com o humor da Marvel, não contam.

Parece que o único esforço que Watts se empenhou para executar algo no mínimo diferente e empolgante dentro de sua limitação, foi na sequência do confronto entre Peter e Strange, algo que exigia bem mais dos movimentos de câmera e enquadramentos, combinado com visual mais atraente e o uso de CGI. De fato, é a cena que mais se adequa dentro do quesito de ação junto também a breve cena da ponte com o Octopus. Ter o grande final na reforma da estátua da liberdade é algo que mais se resume pelo jogo entre dinâmicas dos personagens na ridícula ideia de redimir vilões que só serão lembrados por Peter do que uma sacada que realmente compense pela reunião. A não ser Alfred Molina e seu Octopus e Willem Dafoe reprisando o sádico Duende Verde, não há muito o que dizer de Electro (Jamie Foxx), Lagarto (Rhys Ifans) e Homem Areia (Thomas Haden Church) e suas participações desmotivadas e supérfluas. Se tratando dos Peters, é fácil entender o apelo por Garfield já que sua performance com o personagem esbanja naturalmente uma entrega emocional incrível, como se nunca tivesse deixado de ser o teioso. Já Maguire, sofreu uma mudança para se adequar a uma representação mais humorística e nervosa de seu Peter assim como o do Holland.

Quase um ano depois da chegada de Sem Volta para Casa nos cinemas e de poucos meses desde que saiu em streaming, o desfecho do ciclo dirigido por Jon Watts retorna para as telonas com a promessa de entregar muito mais diversão numa versão estendida, algo que facilmente poderia ser revolvido como cenas deletadas no Blu-Ray, uma vez que mais diálogos no talk show de onde sai a teia de Peter 1 (Maguire) ou do Peter 1 (Holland) tendo seu traje melado de tinta não faz diferença narrativa, apenas são cenas seguradas mirando fazer mais dinheiro com um relançamento. O que faz sentido para como o filme foi um grande exemplo da força de um blockbuster arrastar as pessoas para os cinemas, e que prontamente tem conseguido repetir o feito por míseros onze minutos de uma patacoada que você já conhece.

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa – A Versão Ainda Mais Divertida (Spider-Man: No Way Home – The More Fun Stuff Version – EUA, 2021)
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Zendaya, Jacob Batalon, Benedict Cumberbatch, Jon Favreau, Marisa Tomei, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Andrew Garfield, Tobey Maguire, Paula Newsome, J.K. Simmons, Rhys Ifans, Charlie Cox, Thomas Haden Church, Tony Revolori, Angourie Rice
Duração: 159 min.

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