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Crítica | Kickboxer: A Vingança do Dragão

O retorno do dragão.

por Ritter Fan
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Como eu mencionei em minha crítica de Soldado Universal: O Retorno, acho muito nobre da parte de Jean-Claude Van Damme ele ter se recusado, ao longo dos anos, de participar de continuações de filmes originalmente estrelados por ele. Mesmo com alguns tendo se tornando franquias, como  O Grande Dragão BrancoCyborgKickboxer, Soldado Universal e O Guardião do Tempo e mesmo com sua carreira já demonstrando sinais de cansaço lá pelo final dos anos 90, o belga só voltou atrás em seu mandamento com o referido longa da série Soldado Universal em 1999, fazendo então mais dois depois (o fraco Regeneração e o curioso e até ousado Juízo Final, em que ele só faz mesmo uma ponta). E, seguindo essa linha de raciocínio, foi somente em 2016 que o ator e lutador retornou a outra de suas franquias, desta vez Kickboxer, em nada menos do que o sexto filme da série.

A franquia Kickboxer, vale o parênteses, apesar de não ser tão confusa quanto a de Soldado Invernal, tem suas idiossincrasias. Os segundo, terceiro e quarto filmes são continuações diretas do original, mas apresentando um personagem novo que é o terceiro irmão da família Sloane, David, depois que os outros dois são mortos no intervalo do primeiro para o segundo longa. O quinto filme, porém, apesar de também ser uma continuação do que veio antes, não conta com nenhum membro da referida família, mas sim gira em torno de Matt Reeves que é apresentado como um amigo da família, depois que David é morto. Com o óbvio cansaço narrativo, a solução para “continuar” a história foi fazer um reboot completo, uma verdadeira refilmagem do original, o que resultou em A Vingança do Dragão.

O roteiro de Dimitri Logothetis e Jim McGrath basicamente repete o do longa de 1989, com Eric Sloane (Darren Shahlavi) sendo assassinado por Tong Po (Dave Bautista) em um combate ilegal e secreto de muay thai na Tailândia e seu irmão Kurt (Alain Moussi) partindo para treinar com o mestre Durand (Van Damme) de maneira que ele possa vingar-se. Há tentativas de se criar mais oportunidades de combates e de complicar um pouco mais a história com o envolvimento de Marcia, uma agenciadora de lutas ilícitas vivida por Gina Carano e de Liu, uma policial que é interesse amoroso de Kurt vivida por Sara Malakul Lane, mas essas inserções são apenas perfumarias e, na verdade, mais atrapalham a fluidez narrativa do que contribuem para algo realmente relevante.

Se Dave Bautista como Tong Po funciona como aquela ameaça mortal e silenciosa, não posso dizer o mesmo do protagonista, pois Alain Moussi como Kurt não tem absolutamente nada que o torne de alguma forma atraente para a narrativa. Primeiro, ele é péssimo ator. Mas péssimo assim em grau de petição de miséria, não conseguindo exprimir uma emoção que não seja aquela característica de maçanetas de porta daqueles modelos bem vagabundos. Perto dele, todo o restante do elenco, mesmo os extras que só aparecem aqui e ali para tomarem sopapos, merecem estatuetas do Oscar. Além disso, Kurt não convence nem por um segundo como lutador, especialmente alguém capaz de derrotar Tong Po. E não falo aqui de forma física, pois o rapaz tem lá alguma musculatura decente, mas sim de presença de palco, por assim dizer. O Kurt de Moussi, se gerar algum sentimento no espectador, é de completa indiferença, tornando difícil torcer por ele em qualquer luta, mesmo quando sabemos que, de outro lado, temos um cruel e assassino lutador.

Por outro lado, Van Damme parece estar absolutamente relaxado em seu papel de treinador e mestre, como uma versão mais velha e mais sábia de seu próprio Kurt Sloane de tantos anos atrás. Assim como no filme original, todo o destaque fica com as sequências de treinamento, com o lutador belga não só tendo tempo e espaço para mostrar que, no alto de seus então 56 anos, ele ainda mantinha suas habilidades, forma física e, mais ainda, carisma, mesmo que o roteiro não encontre espaço para ele refazer o momento de sua icônica “dancinha”, algo que fica para Moussi em uma cena durante os créditos, já que, aparentemente, tudo pode ser copiado, menos isso…

A direção de John Stockwell por vezes acerta na forma como lida com as lutas, mas, infelizmente, outras tantas vezes, especialmente na luta final, perde a mão e começa a querer fazer como cineastas de filmes de ação que não conseguem manter a câmera apontada para ninguém sem cortar para outro ângulo milissegundos depois, o que acaba detraindo da pancadaria, algo que é amplificado por inexplicáveis planos próximos que impede que os golpes sejam vistos em sua plenitude. Pelo menos, durante o treinamento e a “briga de bar” que Durand promove para ver se Kurt está pronto, a direção acerta minimamente ou, talvez melhor dizendo, não atrapalha, permitindo que um mínimo de conexão efetiva entre Van Damme e Moussi aconteça apesar da incompetência dramatúrgica deste último.

O Kickboxer original já não era um filme acima do mediano, pelo que era fácil um reboot melhorá-lo. Infelizmente, porém, A Vingança do Dragão, mesmo aproveitando bem tanto Van Damme quanto Bautista, acaba metendo os pés pelas mãos com uma direção inconstante, um roteiro pouco inspirado mesmo tendo um material tão fácil de lidar e, mais ainda, com uma atuação abissal do protagonista que deveria ter sua carteirinha de ator devidamente cassada e, ato contínuo, incinerada. No entanto, mesmo assim, o filme consegue ser recomendável para quem gosta de Van Damme, pois seu retorno à sua segunda e até agora última franquia cinematográfica é inegavelmente simpática.

Kickboxer: A Vingança do Dragão (Kickboxer: Vengeance – EUA, 2016)
Direção: John Stockwell
Roteiro: Dimitri Logothetis, Jim McGrath (baseado em personagens criados por Jean-Claude Van Damme e Mark DiSalle)
Elenco: Alain Moussi, Jean-Claude Van Damme, Dave Bautista, Darren Shahlavi, Gina Carano, Georges St-Pierre, Sara Malakul Lane, Matthew Ziff, T. J. Storm, Steven Swadling, Sam Medina, Luis Da Silva, Cain Velasquez, Fabricio Werdum, Michel Qissi
Duração: 90 min.

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