- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas da série, e, aqui, as críticas de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Estou cansado da abordagem narrativa de Tales of The Walking Dead colocando sempre dois personagens opostos para se juntarem e chocarem ideais. Até mesmo o episódio anterior, mais focado em Dee/Alpha, tinha aquela mulher fútil para conflitar com a personalidade da protagonista. Me parece bastante limitador fazer uma série de antologias e usar um estilo de história tão similar entre os contos. A ideia de uma antologia não é justamente diversificar?
Enfim, com Amy/Dr. Everett temos a mesma coisa, dois personagens com perspectivas diferentes. Amy (Poppy Liu) é uma sobrevivente que faz de tudo para ajudar sua comunidade e que preza conexão humana, enquanto o Dr. Everett (Anthony Edwards, o famoso Goose!) é um estudante de zumbis, seus padrões migratórios, os motivos por andarem em manadas, sua alimentação e até mesmo sua psicologia, tendo uma perspectiva pessimista da raça humana. Para o tanto que eu reclamei da interação repetitiva entre personagens, é preciso dizer que a série pelo menos traz algumas premissas interessantes.
Aqui, temos basicamente um olhar mais “científico”, um tanto naturalista e curioso em termos de mitologia para o universo da série. Eu gosto de como a direção e a montagem tentam incorporar isso visualmente. A edição é composta por imagens do meio ambiente, animais e de grandes paisagens no estilo de documentários do Animal Planet ou do National Geographic, incluindo narração do cientista. E a cineasta Haifaa Al-Mansour tem boa composição de cenas nas florestas e em situações que retratam a crueldade implacável do ecossistema. Aliás, é preciso notar como o episódio explora a ameaça dos zumbis, algo que vem sendo esquecido dentro do universo de TWD.
No entanto, as escolhas estilísticas acabam sendo um tanto gratuitas considerando que o roteiro é extremamente limitado em termos de discurso e dramas para poder dialogar com a direção e a montagem. É como assistir uma ideia bacana do tipo “vamos usar ciência e natureza” em TWD, sem uma boa progressão da premissa, considerando que temos basicamente palestras hipócritas de Everett e pouca exploração da sua pesquisa e de comportamentos dos zumbis. Honestamente, se esse episódio inteiro fosse o cientista perambulando e analisando comportamentos dos mortos-vivos, teríamos um capítulo muito bacana considerando o trabalho da cineasta.
Mas não, precisávamos ter um milhão de diálogos expositivos sobre a “conexão humana”. Toda a interação do doutor com a Amy é um porre, seja a personagem feminina fazendo longos discursos sobre seu amor pela humanidade, seja o próprio Everett declarando seu ódio um milhão de vezes pelos homo sapiens. O texto tenta dar uma falsa interpretação filosófica e humanista nessas conversações superficiais, mas é difícil esconder a pobreza temática e reflexiva em frases clichês como “a humanidade não aprende”. Seria tão difícil nos dar um documentário da natureza como a premissa insinua e a direção tenta executar?
Complicado. Para além da péssima interação e diálogos entre a dupla principal, também é um pouco difícil comprar a aventura de confio-não confio entre Amy e o Dr. Everett. Felizmente, a direção de Haifaa Al-Mansour consegue deixar o episódio mais dinâmico e visualmente interessante, enquanto a premissa segura a história dentro de uma ideia minimamente curiosa.
Tales of the Walking Dead – 1X04: Amy/Dr. Everett – EUA, 28 de agosto de 2022
Criado por: Scott M. Gimple, Channing Powell (baseado em obra de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard)
Direção: Haifaa Al-Mansour
Roteiro: Ahmadu Garba
Elenco: Poppy Liu, Anthony Edwards
Duração: 46 min.