Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 46/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bull, Gegul, Keklos, Talamon, Topthor.
Espaço: Laros, a 18ª Lua do planeta Gom.
Tempo: Outubro de 1984
A primeira frase deste livro de Kurt Brand nos dá uma boa ideia do que vamos encontrar ao longo de toda a história: “Aralon, a “fábrica de venenos” do Império dos Arcônidas, não se deu por vencida“. Em O Centro de Epidemias, os terranos conseguiram dar uma lição e tanto aos Aras, culminando com um ultimato de Rhodan, estabelecendo que Aralon não produziria mais doenças e que se dedicasse apenas a (verdadeiramente) curar doentes. Entretanto, para o tipo de sistema baseado no lucro amplo, sem levar em consideração absolutamente nenhuma circunstância de empatia ou respeito à vida das mais diversas raças (não digo que esta foi a intenção do autor, mas é perfeitamente possível fazer aqui uma aproximação crítica com a colossal malha de exploração mineral em todo o mundo; crítica também válida para as mega corporações internacionais, que funcionam exatamente sob o mesmo lema), um revés desse não seria simplesmente obedecido por esses investidores galácticos.
Assim como vemos em nossa realidade, a grande indústria farmacológica de Aralon faz uso das armas mais sujas possíveis para se reerguer. Eles passam a exercer pressão e até utilizar chantagens e ameaças (sugeridas, disfarçadas ou mudas) junto aos clãs de Saltadores e Superpesados: se não concordassem em destruir o planeta Terra, terminando assim com o domínio de Perry Rhodan, veriam seus planetas-base atingidos por doenças incuráveis. É um contra-ataque esperado para um planeta que há Eras sobrevivia dos milhões gerados por seu tipo de atividade criminosa. A ação aqui se passa alguns meses meses depois da reunião frustrada dos Saltadores em Goszuls (destaque principal para os eventos de O Flagelo do Esquecimento) e a raça ainda tem em mente o quanto Perry Rhodan pode ser um homem ardiloso. Além disso, os Superpesados Talamon e Topthor sabem muito bem quem é este terrano, e mesmo em estágios diferentes de relação com o “inimigo que precisa ser destruído“, admitem que voltar-se contra ele não é algo fácil.
Projeto Aço Arcônida é um daqueles livros que falam mais sobre coisas paralelas do que o tema sugerido pelo título, o que é um tantinho frustrante, mas que não impede o leitor de curtir o andamento da trama, especialmente esta aqui, cheia de reviravoltas e com a apresentação do biólogo-chefe do laboratório de produção de doenças, o infame Keklos. As ações desse indivíduo são o verdadeiro núcleo do fornecimento de doenças e curas para Aralon, e é justamente nessa Lua, por motivos de segurança, que a Assembleia dos Saltadores é realizada. Todo o desenvolvimento do livro é baseado na expectativa criada por esta reunião e em como Rhodan e sua equipe irão fazer com que o objetivo ali discutido não seja alcançado. Mas algumas coisas inexplicáveis começam a acontecer. Kurt Brand consegue colocar isso como um incidente simples e bobo no início, mas no bloco final, a tal força invisível acaba forçando Bell e os mutantes a fugirem da Lua e, pior ainda, impede que a Gazela chegue à Titan, sendo puxada para o amedrontador planeta Gom.
Neste volume, notei a repetição do mesmo problema de S.O.S. – Espaçonave Titan, escrito pelo mesmo autor; e começo a desconfiar que não é exatamente um problema de tradução, mas de escrita mesmo, até porque os tradutores dos dois livros são pessoas diferentes. O que ocorre é que existem passagens entre os blocos narrativos que são inteiramente confusas. A progressão das muitas cenas não parece seguir uma visão lógica, e o leitor tem que voltar algumas páginas e reler alguns parágrafos para perceber quem é a voz em discurso naquele momento, ou como foi que a trama chegou àquele novo espaço cênico. Essas confusões derrubam consideravelmente a qualidade do livro, porque afeta a fluidez da leitura e torna uma boa parte do processo desnecessariamente complicada. Sem contar que o bloco final é marcado por elipses muito grandes e por uma sequência de eventos que a gente não vê sendo preparada, apenas colocada em prática, o que reforça a confusão. No fim das contas, é até possível entender o que está acontecendo (tanto no tempo, quanto no espaço narrativo), mas apenas por ação do leitor, não porque o enredo faz sentido. Logo, temos aí um grande problema.
O final do volume separa a Gazela (com Bell e alguns mutantes) da nave Titan, e Rhodan não pode fazer nada, porque seria arriscar grandiosamente a identidade deles para os Aras. É um golpe duro que colocará os terranos em contato com a misteriosa “matéria-prima de Gom“, a força invisível, mas aparentemente telecinética que vem agindo sobre os mocinhos desde que chegaram a Laros. Essa reta final do ciclo A Terceira Potência não tem sido fácil para os novos candidatos a dominarem a Galáxia. E vejam que Rhodan queria férias! Mal esperava ele que outra jornada de procura e salvamento de pessoas de sua tripulação o aguardava a anos-luz do do seu planeta natal.
Apenas o cérebro positrônico de uma única nave possui dados sobre a posição galáctica da Terra. Por isso, torna-se relativamente fácil para os agentes de Perry Rhodan substituírem os dados corretos por outros, falsos. Mas o que será feito de Reginald Bell e dos oito mutantes que, depois de uma ação bem sucedida no local da conferência dos Aras e Saltadores, têm de se lançar numa fuga precipitada? Qual é a origem das forças misteriosas que transformam a Gazela numa bola de brinquedo? No próximo volume da série Perry Rhodan, você saberá porque GOM NAO RESPONDE.
Perry Rhodan – Livro 46: Projeto Aço Arcônida (Geschäfte mit Arkon-Stahl) — Alemanha, 20 de julho de 1962
Autor: Kurt Brand
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1977)
184 páginas
