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Crítica | Samaritano (2022)

A triste história de um menino que não para de atazanar um idoso...

por Ritter Fan
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Samaritano é um filme que tem todo o jeito de ter nascido a partir de sua “reviravolta”, o que não é, em si, um problema, se e apenas se, toda a construção para levar até ela for realmente bem feita. Não espero algo no nível O Sexto Sentido, claro, bastando algo minimamente razoável e não completamente idiota. O problema do filme, portanto, já começa aí, pois, independentemente de quem teve a ideia original, que, já digo logo, não passa de “legalzinha”, o roteiro de Bragi F. Schut, em seu segundo longa, simplesmente não sabe criar algo suficientemente atraente para justificar o preço do ingresso (ou o clique no botão play do Amazon Prime Video).

E, com isso, situar a história como mais um filme do (caminhando para o saturado) gênero de super-heróis, mas tentando dar aquele (também caminhando para o saturado) ar subversivo e radical de “herói aposentado que volta à ativa” não adianta nada, ficando apenas patético mesmo. Mas não menos patético do que escalar Sylvester Stallone, no alto de seus 76 anos, puramente pelo fator nostalgia, para viver Joe Smith, um gari com cara de poucos amigos que, conforme Sam Cleary (Javon ‘Wanna’ Walton – o nome artístico do garoto já contém um apelido, vai entender…), o menino que mora no prédio em frente insiste, é o Samaritano, herói que há mais de 20 anos foi dado como morto juntamente com seu irmão Nêmesis, um supervilão, em uma bombástica pancadaria em uma usina de energia. Se Joe é ou não o Samaritano é o “grande segredo” do filme que qualquer pessoa com mais de cinco anos de idade, por mais desatenta que seja, acertará no primeiro minuto de projeção.

Mas então o que resta no filme? Certamente não é a dinâmica de “vovô e neto” entre Joe e o abelhudo Sam, pois ela é frágil e muito mal construída, valendo-se muito mais de diálogos expositivos para criar conexão entre eles do que uma química legítima entre os atores. E também certamente não é trama geral, com Cyrus (Pilou Asbæk), um líder porcaria de gangue que idolatra Nêmesis, surgindo praticamente do nada, roubando a máscara e o martelo de seu ídolo para tocar o terror em Granite City que, sem maiores explicações e contextualizações, torna-se a Detroit da Trilogia RoboCop, ou seja, basicamente um lixão a céu aberto cheio de bandidos para todos os lados brotando dos esgotos em como em um passe de mágica. Afinal, essa tentativa de se criar um vilão novo é, na melhor das hipóteses canhestra, com a conexão com Sam e, portanto, com o emburrado Joe, que só quer ser deixado em paz, sendo muito forçada e desmedida.

Ah, mas pelo menos as lutas são boas e diferentes como no recente Dupla Jornada, não? A minha resposta é em forma de pergunta: que lutas? O que há é uma sucessão acanhada de trocas de socos e pontapés que envergonhariam John Rambo e Rocky Balboa, com a direção de Julius Avery (em seu terceiro longa) sendo tão incompetente para captar movimentações corporais que mesmo considerando a lentidão de tudo o que ocorre, ele consegue fazer com que os cortes sejam confusos e a fotografia se perca entre closes e planos gerais. Tudo bem que ninguém esperava que Stallone voltasse a seus dias de porradeiro com a idade que tem, mas a inserção de um dublê bom – algo fácil considerando que Joe só anda de gorro e 38 casacos – e a contratação de um coreógrafo de lutas resolveria tudo. Mas não, porque se é do gênero super-herói, tem verniz de subversão, tem estrela oitentista e tem reviravolta esperta, nada mais é necessário, como a produção deve ter concluído ao final das reuniões sobre essa inestimável perda de 101 minutos.

No final do dia, Samaritano é um filme que sequer consegue justificar sua existência para além de uma versão pasteurizada e genérica do que tentam por aí dizer que é “um filme diferente de super-herói”. Se diferente é ser assim, tão igual ao que temos por aí, com a desvantagem de o longa sequer perceber que precisa de mais do que suas muletas narrativas para andar sozinho, então é melhor ficar com o que é legitimamente igual, sem enganação. Pelo menos será um território mais conhecido que pode ter algum valor nem que seja sentimental, não sei. Teria sido mais honesto se, em mais uma reviravolta, tivessem largado uma metralhadora .50 nas mãos inchadas de Stallone para ele moer bandidos com honestidade, no lugar de tentar inventar essa de super-herói para ele.

Samaritano (Samaritan – EUA, 26 de agosto de 2022)
Direção: Julius Avery
Roteiro: Bragi F. Schut
Elenco: Sylvester Stallone, Javon “Wanna” Walton, Pilou Asbæk, Dascha Polanco, Moisés Arias, Martin Starr, Sophia Tatum, Jared Odrick, Henry G. Sanders, Shameik Moore
Duração: 101 min.

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