- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Com a confirmação da renovação de For All Mankind para a quarta temporada, temos a garantia de que o épico de História Alternativa de Ronald D. Moore, Matt Wolpert e Ben Nedivi continuará, mas é uma pena que a notícia tenha vindo quase que simultaneamente a um episódio que, mesmo ainda conseguindo ser bom, é tonalmente estranho como sendo o seguinte ao sensacional e poético New Eden. E não que eu esperasse algo do mesmo gabarito, pois é muito mais comum e natural que ele fosse inferior, mas não inferior desta maneira.
Mas deixe-me tentar explicar.
Depois de lidar com as repercussões em Marte e na Terra da revelação de que o astronauta Will Tyler é gay, o personagem, que merecia todas as oportunidades para continuar sendo desenvolvido, até porque, ele se tornou mais do que um figurante apenas justamente no episódio anterior, é solenemente colocado para escanteio em Bring It Down, só aparecendo em uma melancólica sequência em que seu grupo faz uma refeição de aparência terrível em silêncio absoluto. É como se a roteirista Nichole Beattie tivesse considerado que ele cumpriu toda sua função na temporada e, agora, deve retornar ao status anterior em que sequer sabíamos seu nome direito. Sei que Will pode voltar a ter destaque mais para frente e sei que havia outros assuntos a serem tratados, mas o momento para ele ganhar uma abordagem que fosse além do “valor de choque” de sua revelação era aqui, no episódio seguinte. Além disso, se tem uma coisa que For All Mankind faz bem é lidar simultaneamente com diversos núcleos.
E o que me deixa mais cabreiro em relação à Will é que, muito provavelmente, o tempo que poderia ter sido dedicado a ele acabou sendo empregado na duvidosa linha narrativa de Jimmy Stevens e seus amigos revoltadinhos. Entendo a lógica de lidar com a extrema carência afetiva do jovem como eco da dependência química resultante da mesma carência afetiva do irmão lá em Marte, mas tenho minhas dúvidas se era mesmo necessário todo aquele passeio dele pela NASA ao lado de Sunny e assim por diante, especialmente porque o resultado final – o furto da estátua de seus pais – não me parece ser tão sério assim (aliás, como é que eles conseguiram fazer isso sem ninguém ver?). Ficou a impressão, portanto, de que alongaram um núcleo desnecessariamente, retirando integralmente o espaço de Will e, claro, todos os astronautas da NASA.
Para compensar esses problemas, temos a abordagem do caso de Larry mentindo sob juramento ao Congresso, em mais um inteligente eco espelhado da Era Bill Clinton e o que isso acarreta ao relacionamento dele como Ellen e o que Ellen provavelmente passa a enxergar ao talvez finalmente entender o preço que muita gente pagou para que ela chegasse ao ponto que chegou. Sua visita supostamente secreta à Pam (digo supostamente como eufemismo para “impossivelmente”) poderá ter interessantes repercussões que podem levar a presidente à sair do armário em rede de televisão, potencialmente iniciando um processo de impeachment e, no processo, iniciando uma discussão forte sobre o assunto.
Se estivéssemos falando de uma série “normal”, em que cada temporada continuasse imediatamente a anterior, não faria a sugestão radical acima de Ellen revelar-se ao mundo dessa maneira, mas, em se tratando de uma obra que, a cada temporada, avançamos uma década, tudo precisa andar em um passo mais acelerado para termos resolução dentro de um mesmo ano. Mas veremos como a coisa vai andar, pois For All Mankind simplesmente precisa abordar a matéria da orientação sexual de forma mais contundente.
Do lado de Margo, não só os soviéticos debandam para o lado da Helios, em uma postura que não poderia ser mais capitalista, he, he, he, como levam Sergei embora, ou melhor, despacham-no de volta ao gulag onde passou suas férias. Não sei se esse assunto da defecção dele deveria continuar, muito sinceramente, mas a conclusão final de Aleida de que Margo é a traidora pode levar à defecção de Margo para a União Soviética, o que sem dúvida seria uma abordagem diferente e refrescante, desde que isso não signifique que ela e Sergei acabarão felizes para sempre em algum canto…
E, claro, não tenho como deixar de falar do outro Stevens. Danny, como, aliás, Dani já havia dito, é um perigo para si mesmo e para toda a tripulação da Helios. Mas, curiosamente, o problema não repousa apenas em Danny, já que Ed, mesmo deixando-o de castigo na missão de ir atrás da tão valiosa água e mesmo deixando claro que ele sabe que o jovem está doidão, não o confina a seus aposentos e o mantém na ativa. E, como se isso não bastasse, o “cuidador” do agora morto cachorrinho PJ, ainda entrega para Danny os minutos cruciais da operação enquanto sai para fazer uma contas sem sequer colocar as comunicações no autofalante. Foram erros demais em muito pouco tempo para eu ficar realmente em paz com a cadeia de acontecimentos que, por outro lado, segue perfeita lógica, só precisando de mais espaçamento. A pergunta que fica é: será que Ed morrerá? E meu problema com a morte dele não é nem ela em si, mas sim o fato de não haver um substituto à altura para o personagem. Afinal, se Danny, de repente, depois que toda essa poeira baixar, ainda sair como herói, vai ser de lascar…
Bring It Down é um episódio cheio de pequenos problemas que gravitam ao redor de um grande problema, que é ter falhado em dar continuidade imediata à história de Will Tyler. Espero que, doravante, tenhamos menos dos membros inúteis da família Stevens e mais dos personagens sobreviventes em Marte, talvez até com Dani tomando o controle da missão tripla e finalmente colocando ordem na confusão causada.
For All Mankind – 3X07: Bring It Down (EUA, 22 de julho de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Dan Liu
Roteiro: Nichole Beattie
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Shantel VanSanten, Sonya Walger, Casey W. Johnson, Jodi Balfour, Coral Peña, Cynthy Wu, David Chandler, Edi Gathegi, Piotr Adamczyk, Tony Curran, Robert Bailey Jr., Heidi Sulzman, Taylor Dearden, Lev Gorn, Vera Cherny, Pawel Szajda, Lenny Jacobson, Alexander Sokovikov
Duração: 57 min.