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Crítica | South Park: Guerras do Streaming – Parte 2

Urinando em South Park...

por Ritter Fan
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A segunda parte de Guerras do Streaming é o quarto telefilme de South Park parte do pacote milionário que Trey Parker e Matt Stone negociaram com a Comedy Central (empresa do grupo Paramount Global), que garantiu a renovação da série até a 30ª temporada e o lançamento de 14 filmes exclusivamente no serviço de streaming Paramount+ e é um preocupante indicativo de que os criadores da franquia não estão conseguindo acertar o tom dessas versões alongadas do que provavelmente seriam ótimos episódios de duração comum. Mesmo que a primeira parte de Guerras do Streaming tenha sido o primeiro verdadeiro acerto da dupla neste novo formato, por satirizar a proliferação desenfreada dos serviços de streaming por meio de uma genial abordagem ecológica, a grande verdade é que mesmo o acerto potencialmente seria melhor com minutagem mais acanhada.

A segunda parte do “épico” que esculhamba basicamente o próprio acordo de Parker e Stone com a Comedy Central vem para encerrar o que ficou em aberto na primeira, especialmente o sumiço de Steve Black, pai de Tolkien (ex-Token) e a falta d’água resultante das guerras. Para isso, porém, o roteiro de Parker deixa de lado o assunto que em tese deveria ser o central para focar em infindáveis repetições das mesmas duas piadas, uma delas a que tira sarro de Matt Damon e outros artistas que fizeram anúncios na televisão americana no começo de 2022 para vender criptomoedas (que, aliás, sofreram um baita crash logo depois…) e a outra que transforma Randy Marsh, pai de Stan, em uma Karen.

Ao longo de mais de 50 minutos, o espectador ganha diversas versões dos anúncios de criptomoedas, algo que, mesmo já tendo sido abordado antes em South Park, funciona pelas primeiras duas ou três vezes, com bastante boa vontade. Depois, a coisa fica enfadonha e até constrangedora, de certa maneira chamando o espectador de burro, por achar que ele precisa ver a mesma coisa uma dúzia de vezes para captar a mensagem. Mesmo que parte da intenção tenha sido emular o bombardeio desses anúncios idiotas que os americanos tiveram que aturar, o ponto é que, em termos cômicos, a graça não demora a ir embora e tudo o que fica é aquela sensação de que Parker resolveu transformar um episódio em telefilme usando esse artifício para esticar a minutagem.

No caso de Randy “Karen” Marsh, pelo menos a piada é endógena à série, mas como isso já vinha acontecendo com frequência, ver Randy voltar a ser Randy para, então, retornar como Karen para salvar o dia é como a boa e velha manteiga sendo passada em muito pão. Não havia mais o que tirar dessa criação, mas Randy/Karen, ao contrário, passa a ser basicamente o protagonista do episódio, já que as crianças de certa maneira desaparecem, com o agora extremamente peitudo Cartman sendo o único destaque e, mesmo assim, sem conseguir tirar muito mais do que sorrisos amarelos pela forma como seus implantes perdem a graça quase que imediatamente. Pelo menos sua mãe não volta atrás e faz o que o filho quer, o que já é um avanço…

Ao fundo dessas piadas repetitivas e engraçadas só mesmo lá no Mundo Invertido, existe uma tentativa de história em que Pipi, o dono do parque aquático da cidade que antes se orgulhava de usar 50% água e 50% urina, agora mudou de estratégia com a falta d’água e, claro, passou a usar 100% urina. E o que Parker faz com isso? Sim, você acertou: anúncios em que celebridades bebem urina para “vender” o parque de Pipi. Ha, ha, ha, não é Trey Parker? Como se não bastassem os anúncios de criptomoedas, era mesmo necessário espelhar tudo para os anúncios de urina de forma a explicar didaticamente o que os primeiros realmente significam? Fora a nojeira da coisa toda, claro, que até consegue ser… hummm, legalzinha da primeira vez, mas depois fica só nojento mesmo.

Eu teria me dado por satisfeito com apenas a primeira parte de Guerras do Streaming, mesmo que “mistérios” continuassem sem soluções. Seria mais salutar para a franquia como um todo. Não que eu duvide de South Park – vide a ótima 25ª temporada -, mas sim porque talvez o material não se dê a longas-metragens fora o já clássico South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes e a insistência (contratual) no formato, mesmo que dentro da cronologia das temporadas, pode cansar.

South Park: Guerras do Streaming – Parte 2 (South Park: Streaming Wars – Part 2 / EUA, 13 de julho de 2022)
Direção: Trey Parker
Roteiro: Trey Parker
Elenco: Trey Parker, Matt Stone, April Stewart, Kimberly Brooks, Adrien Beard, Neyla Cantu, Betty Boogie Parker
Duração: 51 min.

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