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Crítica | Batman ’89

Tentando, mas falhando em capturar a atmosfera burtoniana.

por Ritter Fan
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Apesar de ter começado a ser publicada alguns dias antes de Superman ’78, a minissérie Batman ’89 que, na verdade, continua os eventos de Batman – O Retorno, só foi acabar meses depois, em mais um daqueles frustrantes atrasos dos quadrinhos mainstream de ultimamente. A ideia, claro, é retornar ao universo cinematográfico do Batman criado por Tim Burton – ignorando aquelas duas atrocidades de Joel Schumacher, claro – e seguir dali em diante, como um novo terceiro filme, uma ótima ideia da DC Comics iniciada com as séries de 1966 do Batman e de 1975 da Mulher-Maravilha.

No entanto, enquanto a minissérie do Azulão vivido por Christopher Reeve no clássico longa de Richard Donner, escrita por Robert Venditti, com arte de Wilfredo Torres soube capturar com considerável exatidão a pegada mais leve do filme setentista, o mesmo não acontece com o trabalho de Sam Hamm e Joe Quinones no que se refere ao Batman sombrio e maravilhosamente gótico que marcou o final dos anos 80. Afinal, o Batman de Burton não é o Batman de Burton sem as ousadias visuais dos dois longas-metragens que o cineasta colocou nas telonas, aquela Gotham impressionista, aquele Homem-Morcego que realmente age nas sombras, aqueles inimigos que transitam entre o farsesco e o doentio e toda aquela atmosfera marcadamente gótica.

Na verdade, deixem-me ser mais específico. Batman ’89, que tem roteiro de Sam Hamm, co-roteirista do filme de 1989 e argumentista do de 1992, tem uma história que se encaixaria bem nesse universo, pois ela segue o caminho lógico de transformar o Harvey Dent de Billy Dee Williams no Duas-Caras de sua própria maneira, sem seguir a origem clássica dos quadrinhos e usa bem personagens dos dois longas – Alfred, Comissário Gordon e especialmente a Mulher-Gato – de maneira eficiente, bem costurados dentro da estrutura narrativa. Até mesmo a introdução de Tim Drake que, aqui, seria o primeiro Robin não é de todo má, ainda que o garoto já esteja basicamente pronto como sidekick, com todas as habilidades necessárias, além de uniforme completo, com Batman apenas complementando o conjunto com uma moto desenhada para parecer seu bem característico batmóvel. Mesmo que o roteiro acabe um tanto tumultuado com a quantidade grande de personagens em uma minissérie razoavelmente curta, percebe-se a tentativa de Sam Hamm em criar uma continuidade lógica, algo que passou longe da cabeça de Schumacher.

O problema, portanto, está fundamentalmente na arte de Quinones. O desenhista se esforça, mas o seu estilo se impõe sobre as necessidades da minissérie de invocar a atmosfera burtoniana, o que acaba transformando Batman ’89 em apenas mais outra história do Batman, algo que, convenhamos, não falta na editora que, aparentemente, só tem esse super-herói – e seus derivados – como motor de vendas. A história razoavelmente pé no chão sobre desigualdades sociais em Gotham que Hamm escreveu simplesmente precisava desse algo mais visual. A cidade de Quinones é uma cidade comum. O Batman de Quinones é um Batman como outro qualquer, sem aquelas imobilidades que foram tão “criticadas” nos filmes de Burton. No lugar de uma armadura, ele desenha basicamente tecido e, ao mesmo tempo, tenta dar seus toques para aproximar o personagem de versões mais conectadas com os quadrinhos. O mesmo vale para o inesquecível uniforme da Mulher-Gato, que passa a ser uma mescla do clássico usado por Michelle Pfeiffer e uma das versões das HQs, sem que houvesse real necessidade para isso.

Por outro lado, o artista acerta – como Wilfredo Torres na HQ do Superman – na maneira como ele usa as fisionomias dos atores para compor os personagens, ou seja, sem ser fiel demais à fonte, mas conseguindo criar conexões suficiente para o leitor sentir-se como vendo uma continuação dos filmes. Mas mesmo nesse aspecto, ele nem sempre é bem-sucedido, especialmente no que se refere ao Bruce Wayne de Michael Keaton e a Selina Kyle de Pfeiffer, pois muitas vezes o que vemos acaba ficando longe dos respectivos atores mesmo que todo o contexto não deixe qualquer tipo de dúvida, logicamente.

Batman ’89 é, sem dúvida alguma, um bom passeio nostálgico pelos filmes que reviveram o interesse pelo Cruzado Encapuçado e que ajudaram a dar o pontapé inicial na febre de filmes de super-heróis que assola Hollywood nas últimos anos, mas, ao não verdadeiramente trazer a aparência das criações ousada de Tim Burton para as suas páginas, ela acaba não conseguindo ir além disso. Seria muito interessante se a DC se animasse e continuasse essa série, mas com um artista que realmente se inspirasse no específico material fonte que a minissérie tenta homenagear.

Batman ’89 (EUA, 2021/22)
Contendo: Batman ’89 #1 a 6
Roteiro: Sam Hamm
Arte: Joe Quinones
Cores: Leonardo Ito
Letras: Clayton Cowles
Capas: Joe Quinones
Editoria: Andrew Marino
Editora original: DC Comics
Data original de publicação: 10 de agosto de 2021 a 05 de julho de 2022
Páginas: 153

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