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Crítica | Trauma (1993)

Dario e Asia Argento trabalham juntos pela primeira vez.

por Rafael Lima
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Trauma, coprodução entre Itália e Estados Unidos dirigida pelo lendário Dario Argento em 1993, é visto por muitos como o início do declínio da carreira do diretor, que nunca conseguiu se reinventar após o seu auge nos anos 1970 e 1980, passando a entregar obras que vão de mornas a ruins mesmo. Muito disso se deve ao fato desta produção marcar o início da longa parceria de Argento com a sua filha Asia Argento, que estrelou muitos filmes bem duvidosas comandados pelo seu pai nos anos seguintes. Apesar disso, considero Trauma uma boa produção de Argento, onde se percebe uma tentativa honesta do cineasta de exercitar outros aspectos de sua direção, ainda que a narrativa guarde muitas semelhanças com trabalhos anteriores, o que por si só, não é necessariamente um problema.

Na trama, David Parsons (Christopher Rydell) impede que uma jovem cometa suicídio pulando de uma ponte. Esta jovem é Aura Petrescu (Asia Argento), uma garota que sofre de anorexia nervosa e que fugiu da clínica onde havia sido internada. Devolvida para a sua família, ela acaba testemunhando os pais serem vítimas do assassino em série conhecido como o Headhunter, que decapita as suas vítimas com uma arma especial, levando as cabeças com ele. Agora, com a ajuda de David, Aura tentara descobrir a identidade do assassino de seus pais.

Trauma segue de perto a fórmula dos gialli comandados por Dario Argento, mas diferente de outros longas do diretor, como Terror Na Ópera ou o clássico Prelúdio Para Matar, parece investir mais na violência Off Screen do que no gore explícito, um movimento interessante do realizador, que tenta aqui sair de sua zona de conforto. Não que não haja cenas de gore explícito, pois o mago da maquiagem Tom Savini está presente e nos entrega algumas cenas de decapitação bem interessantes. E apesar de estar mais “comportado”, Argento ainda guarda na manga algumas sequências estéticas deliciosamente bizarras, como aquela em que vemos uma cabeça semi morta despencar dentro de um poço de elevador, ou aquela em que o protagonista perseguido pelo assassino se vê perdido em uma sala coberta de cortinas de plástico, onde procura desesperadamente uma saída.

O roteiro escrito pelo próprio Dario Argento e mais quatro colaboradores até que entrega uma trama principal bem coesa. Como em outros filmes do diretor, a memória tem um importante papel, com Aura tendo que se lembrar de um detalhe que viu que é capaz de revelar a identidade do assassino. Aqui, existe um recurso fílmico e narrativo que esconde a identidade do assassino, que foi muito bem pensado, lembrando o já citado Prelúdio Para Matar.  A trama também pega emprestado elementos do clássico de Alfred Hitchcock, Janela Indiscreta, ao colocar um garotinho como vizinho do assassino, em uma subtrama que, apesar de ficar um pouco solta em relação ao resto da obra, cria momentos interessantes de suspense e acaba inevitavelmente por se encontrar com a trama principal durante o terceiro ato. O longa parece tenta fazer um comentário a respeito da anorexia, mas parece um pouco indeciso em saber se a temática deve ser apenas pano de fundo ou ter importância real na trama. Há também uma leve forçada de barra na passagem do 2º para o 3º ato, mas nada que comprometa muita coisa.

 A fotografia sombria do filme, assinada por Rafaelle Mertes, parece investir em boa parte do tempo numa paleta de cores azulada que evoca uma atmosfera onírica, reforçando a ambientação opressiva das ações do Headhunter, que prefere atacar as suas vítimas em noites chuvosas. Merece destaque também a bela trilha sonora composta por Pino Donnagio, colaborador habitual do cineasta Brian De Palma, que se adaptou bem ao estilo de Dario Argento, mas sem com isso perder a sua própria identidade, com as melodias ilustrando de forma eficiente a melancólica jornada dramática de Aura.

O elenco está surpreendentemente bem dirigido, já que verdade seja dita, direção de atores nunca foi o forte do diretor, mas aqui ele se supera. Christopher Rydell e Asia Argento tem uma boa química em cena, e por isso conseguimos acreditar no casal, que tem a sua relação dentro da trama desenvolvida a contento. Rydell faz de David o típico herói dos filmes de Argento, um homem que por força das circunstâncias (acrescidas aqui a atração e senso de responsabilidade por uma jovem frágil) acaba investigando as ações de um serial killer. Já Asia Argento, apesar de ser muito criticada  como atriz, faz um bom trabalho aqui. Asia faz de Aura uma menina frágil tanto fisicamente quanto psicologicamente, devido a sua anorexia, e o tal “trauma” do título, de presenciar o assassinato dos pais. Ela desenvolve uma dependência quase infantil por David, mas que em momento algum soa forçada ou caricata. Vale destacar ainda as participações de Piper Laurie, a eterna Margaret White de Carrie: A Estranha, vivendo aqui mais uma mãe tóxica no papel da mãe de Aura, e Brad Dourif, que interpreta um médico que pode ser um dos alvos do Headhunter.

No geral, Trauma é um bom filme de Dario Argento. Reconhece-se o estilo do diretor, apesar de aqui ele estar bem mais contido. É uma obra que vale ser conhecida, pois conta com protagonistas carismáticos, um roteiro convincente, Asia Argento lindamente frágil como Aura e o ótimo trabalho de maquiagem do mestre Tom Savini nas cenas de decapitação, em um dos últimos ótimos filmes de Dario Argento.

Trauma – Itália, 1993
Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Gianni Romani, Franco Ferrini, T.E.D Klein, Ruth Jessup
Elenco: Christopher Rydell, Asia Argento, Piper Laurie, Frederic Forrest, Laura Johnson, Dominique Serrand, James Russo, Brad Dourif
Duração: 106 Minutos

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