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Crítica | Vespa Vermelha, Borboleta Púrpura e Supergilberto: Origens

Mais alguns super-heróis da Disney...

por Luiz Santiago
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Neste compilado de histórias, trago as primeiras aparições dos super-heróis Vespa Vermelha, Borboleta Púrpura e Supergilberto nos quadrinhos da Disney! No caso do Vespa Vermelha, por uma questão bastante peculiar de sua primeira aventura, também apresento a sua segunda aparição, já concebida por artistas brasileiros. No caso da Borboleta Púrpura, também trago as duas primeiras aparições dela nas HQs. Por fim, temos a primeiríssima aparição do sobrinho do Pateta como super-herói, o Supergilberto! Você já leu alguma dessas histórias? O que achou delas? Deixe o seu comentário ao final da postagem!
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O Mistério do Vespa Vermelha

Criado por Cecil Beard (roteiro) e Paul Murry (arte), o Vespa Vermelha apareceu pela primeira vez em um arco de três edições da Walt Disney’s Comics and Stories, nos Estados Unidos, entre fevereiro e abril de 1967. Nesta sua primeira aparição, porém, a aventura é quase exclusiva do Mickey, que em parceria com o Pateta — aqui, trabalhando como jardineiro do Vespa — tentam conter a onda de violência que tomou a cidade após o misterioso desaparecimento do super-herói. Como em algumas aventuras da Disney (especialmente as mais antigas), alguns personagens ou mesmo situações bem intensas já aparecem como se fossem conhecidas do grande público, e não necessariamente possuem uma intenção dos criadores em dar continuidade a elas. Não há demarcação de um ciclo, de um arco de histórias, de uma subsérie, nada disso. É assim que o Vespa Vermelha surge pela primeira vez: como um herói já estabelecido que combate eficientemente o crime e que simplesmente… desapareceu.

As primeiras páginas da aventura são instigantes, porque exploram a curiosidade do leitor. A gente não sabe quem é o Vespa e não temos outra alternativa que não comprar a ideia de que ele existe há muito tempo e que seu sumiço deu liberdade aos bandidos para cometer terríveis atos pelas ruas, aterrorizando a população. Nesse aspecto introdutório, o roteiro consegue nos prender e dar o tom da saga, que será o combate ao caos a partir de uma investigação do Mickey (vestido de Vespa), em busca do herói. Com o passar das páginas, porém, o enredo vai se tornando cada vez mais forçado em suas escolhas. Em vez de o autor manter os pés fixos nos elementos já fantásticos que criou (uma cidade nas nuvens como esconderijo do herói, por exemplo), ele rompe ainda mais algumas linhas mandando não um, mas dois foguetes para o espaço, com direito a uma parada em Marte e o Pateta assumindo atrapalhadamente o manto do Vespa por alguns minutos, um dos pontos mais chatinhos da história.

O Mickey consegue, por acidente ou coincidência, encontrar o verdadeiro Vespa no espaço, e a reta final da trama é marcada pelos dois utilizando o intelecto para criar uma nave e voltar à Terra (!). Como disse, o título seria muito melhor se o texto não inventasse cada vez mais absurdos em cima de algo que já estava bem fora da casinha. Por conta desses eventos, a participação do verdadeiro super-herói aqui é diminuta e, como não existe absolutamente nenhuma explicação de quem ele é, de onde ele vem, para onde ele vai ou mesmo uma história que apresente o seu processo de investigação e ação, o Vespa foi tratado simplesmente como uma “aparição especial“, e muito provavelmente teria caído no esquecimento se 8 anos depois (!) os artistas brasileiros não tivessem resgatado o personagem e criado uma série de novas aventuras com ele.

The Red Wasp Mystery — EUA, fevereiro a abril de 1967
Código da História: W WDC 317-01P
Publicação original: Walt Disney’s Comics and Stories 317, 318 e 319
Editora original: Gold Key
No Brasil: Mickey 181, Disney Especial (1ª Série) 6 – Os Inesquecíveis, Almanaque dos Super-Heróis (1ª Série) 1, Aventuras Disney 27, Disney Jumbo 2, Disney de Luxo 11 – Iniciativa Super-Heróis.
Roteiro: Cecil Beard
Arte: Paul Murry
Capa original: Tony Strobl (#317) e Carl Barks (#319)
30 páginas

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A Volta Triunfal do Vespa Vermelha

Esta não é uma volta que eu chamaria de “triunfal”, mas o título precisa mesmo colocar essa pompa, por dois motivos principais. Primeiro, porque se trata do retorno do Vespa Vermelha aos quadrinhos depois de 8 anos desde a sua criação, em O Mistério do Vespa Vermelha (1967). Segundo, porque no começo dessa trama, escrita por Ivan Saidenberg, existe um contexto muito bom e muito importante que ajuda, inclusive, a explicar possíveis perguntas feitas em relação à estreia do personagem. É estabelecido que o Vespa Vermelha age em qualquer lugar do mundo que precise de ajuda intensa, então o seu afastamento de Patópolis acontece toda vez que as coisas estão relativamente pacíficas na cidade, quando os grandes crimes estão fora de cena e apenas os delitos que podem ser contidos pela polícia seguem ativos. É uma colocação conveniente? Claro que é. Mas notem que pelo menos o autor nos deu um padrão, uma premissa para o plano de ação do Red Wasp, o que já é muito mais do que os próprios criadores do personagem tinham feito.

O tal “retorno triunfal” do vermelhinho se dá, portanto, porque uma misteriosa nuvem negra ataca, com raios, um desfile que está acontecendo em Patópolis, com direito a uma homenagem ao Vespa, representado em um gigantesco balão. Nesse aspecto narrativo (ou seja, o estabelecimento do problema e a luta), a trama não difere muita coisa da aventura anterior. Os vilões Ted Tampinha e Kid Mônius estão de volta, trazendo ainda mais semelhança. Nós ainda temos os vilões Dr. Estigma e Dr. X, e também o “Chefe”, que é um cérebro criado pelos doutores para pensar planos malignos, mas a participação efetiva desses personagens infelizmente não é explorada ao ponto de dar ao enredo uma cara totalmente nova. E o final ainda traz o Mickey e o Pateta vestidos de Vespa, claramente uma referência à primeira história, mas isso não é nada interessante, porque reafirma a perda de força e engajamento do texto justamente do seu miolo para o final.

A Volta Triunfal do Vespa Vermelha — Brasil, fevereiro de 1975
Código da História: B 74358
Publicação original: Almanaque Disney 45
Editora original: Abril
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Moacir Rodrigues Soares
Capa original: ?
14 páginas

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Nasce Uma Heroína… Borboleta Púrpura

A Borboleta Púrpura foi uma heroína criada para tornar algumas histórias do Morcego Vermelho mais incrementadas de conflitos, com um nível diferente de problema para ser enfrentado. Nessa primeira aparição da personagem (que é o manto vestido por Glória, a namorada do Peninha) as coisas começam como uma verdadeira provocação ao pobre Morcego, que chega atrasado nos lugares e, certo dia, é surpreendido com a notícia de que uma misteriosa salvadora está ajudando as pessoas e capturando os bandidos. Rapidamente a notícia sobre a Borboleta Púrpura se espalha (tudo isso acontecendo em elipse: a gente não vê esse movimento, mas os relatos de todo mundo querendo ser salvo ou preso pela heroína nos indica que há uma rede de informações populares rolando) e ela ganha a boca do povo e a antipatia do outro herói da cidade. Como o Morcego Vermelho é (discutivelmente?) a única coisa verdadeiramente notável criada pelo Peninha, ele fica enciumado e seu ego não permite que “tirem dele” o posto de super-herói local. É aí que ele chega à resolução de tirar o manto e tentar boicotar a carreira da nova mascarada, fingindo fotografar uma de suas missões.

Por ser a Glória a pessoa atrás do manto, fica meio óbvio que a situação terminaria em algo romântico — e essa conclusão nos vem porque a relação entre Peninha e Glória é bem diferente da relação entre Donald e Margarida, que também possuem mantos heroicos, mas se comportam de modo distinto dos dois pombinhos aqui, mesmo quando um deles está sem o uniforme. E a história de fato dá uma guinada de tom após a luta contra um vilão chamado ‘Monstro Grude’. O Peninha se arrepende de ter facilitado a captura da heroína e, sem querer, faz com que ela seja salva, derrubando caixas de sabão no bicho. É o que a gente pode chamar de “final fofinho“, honesto e também cômico, agora com a Glória sabendo que o Peninha é o Morcego Vermelho e ele esquecendo que ela é a Borboleta Púrpura — não sei se é uma situação que ficará fixa nas histórias da personagem, mas pelo menos nessa origem, este é o status em que ficamos no último quadro da trama.

Nasce Uma Heroína… Borboleta Púrpura — Brasil, 23 de março de 1983
Código da História: B 820231
Publicação original: Peninha (1ª Série) 15
Editora original: Abril
Roteiro: Gérson Luiz Borlotti Teixeira
Arte: Luiz Podavin
Capa original: ?
7 páginas

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Ser Heroína Cansa a Minha Beleza

E não é que o final da história anterior se confirmou mesmo? Publicada 9 meses depois de Nasce Uma Heroína, essa historinha intitulada Ser Heroína Cansa a Minha Beleza mantém a ideia de que a Borboleta Púrpura sabe quem é o Morcego Vermelho, mas ele não sabe quem é a pessoa por trás do manto da nova heroína da cidade. E essa relação ajuda o autor a dar algumas piscadelas para o leitor, como também aproveitar algumas boas oportunidades para criar situações de humor e de problemas que possuem um diferente ponto de vista em relação à gravidade ou ao que de fato representam para cada um dos lados. No caso, Peninha e Glória estão se arrumando para sair, mas recebem um chamado do Coronel Cintra para lidarem com problemas em lugares diferentes da cidade. O início e o fim da trama concentram-se nesse encontro e na dificuldade de se manter um relacionamento tendo uma vida super-heroica — o que é ainda mais difícil quando uma das partes sabe do segredo, e a outra não.

Eu gostei muito da introdução que Gérson Luiz Borlotti Teixeira faz aqui. Até mais do que na primeira história. Nesse enredo, a Borboleta já é bem conhecida e requisitada, e continua mexendo com o ego do Morcego Vermelho. O real problema vem apenas no ato final, onde o autor usa dos elementos mais estereotipados possíveis para representar as mulheres, a fim de criar situações cômicas durante uma luta. Chega uma hora que dá vergonha de ler as falas das mulheres no salão de beleza e observar como a futilidade, a banalidade e a vaidade sem limites ou noção do ridículo aplicam-se não apenas a eventuais bandidas da gangue de Madame Blush (se fosse algo contido, não haveria problema porque realmente existem pessoas assim), mas às próprias protagonistas, que deveriam pensar com mais objetividade, longe dessas bobagens. Essa generalização é o que estraga a parte final da história, na luta final da Borboleta contra a quadrilha de esteticistas assaltantes.

Nasce Uma Heroína… Borboleta Púrpura — Brasil, 28 de dezembro de 1983
Código da História: B 830094
Publicação original: Peninha (1ª Série) 35
Editora original: Abril
Roteiro: Gérson Luiz Borlotti Teixeira
Arte: Irineu Soares Rodrigues
Capa original: ?
11 páginas

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A Onda dos Redemoinhos

__ Ahá! Entrou uma super-areia na sua indústria de redemoinhos, sinistro senhor!

__ Uai! É o super-capanguinha do Superpateta! […] Destruirei o Superpateta, a menos que você se renda, super-pixotinho!

Toda história do Superpateta que eu vou ler, eu me esforço ao máximo para conseguir gostar da trama, mas isso é sempre muito difícil e constantemente não dá muito resultado. Criado em 1965, e com três aventuras de origem (Nasce Um Super-Herói, O Supertrapalhão e O Ladrão de Zanzipar) o personagem sempre me pareceu estranho e, exceto pela aventura O Supertrapalhão, eu não lembro de mais nenhuma outra história com ele que tenha achado ótima. Foi por isso que cheguei a esta Onda dos Redemoinhos com o pé atrás. Aqui não só temos o Superpateta, mas também a primeira aparição de alguém ainda mais chato que ele, o Supergilberto, versão heroica do sobrinho do Pateta que apareceu pela primeira vez na trama Pateta Conhece Gilberto, o Sobrinho Prodígio, publicada nos Estados Unidos em 1954.

Não se sabe exatamente quem é o roteirista da presente história, mas pelo menos a tradução dela para o português tem alguns momentos que me fizeram rir demais, como os que destaquei na citação acima. Todavia, à parte essas adaptações espirituosas tipicamente brasileiras, o roteiro dessa trama é ruim em um bom número de níveis. Há uma insistência irritante da dupla de super-chatos chamarem-se pelo grau de parentesco o tempo inteiro e usarem o prefixo “super” na frente de um número enorme de palavras, tornando a narrativa arrastada. O plot para a criação do Supergilberto é ainda pior, tremendamente irresponsável, mas não necessariamente incoerente, porque vem da parte do Pateta, então a gente pode esperar qualquer estupidez, não é mesmo? O próprio roteiro brinca com o fato de o personagem ser burro e mais atrapalhar do que ajudar, que é justamente a impressão que temos dele toda vez que assume o manto do Superpateta.

A problemática com a criação e o combate aos redemoinhos se estende mais do que deveria e a tão grandiosa mentalidade lógica de Gilberto, agora como super-herói, só funciona a prestação. Tirando as duas ou três primeiras páginas e alguns momentos bem engraçados em relação ao texto em sua versão brasileira (não tive acesso ao texto original, então não sei se as piadinhas mais ácidas e com esse nível de comicidade também estão presentes na versão em inglês) o que temos aqui é um enredo chato que não vemos a hora de chegar ao fim.

Super Goof – The Twister Resisters — EUA, dezembro de 1966
Código da História: W SG 5-02
Publicação original: Super Goof 5
Editora original: Western
Roteiro: ?
Arte: Paul Murry
Capa original: Paul Murry
24 páginas

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