- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
All In é um daqueles episódios que, provavelmente, precisará ser reavaliado posteriormente, quando a temporada acabar, pois ele é essencialmente funcional, ou seja, existe com um objetivo bastante específico, que é permitir um novo salto temporal, desta vez de dois anos, para 1994, ano do começo da corrida tripartite à Marte precipitada pela entrada da Helios Aerospace no episódio anterior. Como acontece com toda elipse do tipo, o roteiro precisou sacrificar arcos narrativos para funcionar e é isso que precisará ser revisto mais para a frente, já que, ao que tudo indica, For All Mankind passará a ser uma série muito mais “espacial” do que jamais foi, o que pode ser uma troca interessantíssima, permitindo a exploração mais constante e intensiva desse lado da criação de Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi.
E o que perdemos com esse pulo de dois anos? Muita coisa, se formos olhar com lupa, a começar pela corrida presidencial que leva Ellen Wilson a derrotar Bill Clinton e chegar à Casa Branca como a primeira mulher – e secretamente homossexual – a liderar os EUA, passando pelos desdobramentos da trama envolvendo Margo e os soviéticos, a ascensão de Aleida na NASA e chegando, claro, em todos os problemas que a contratação de Danny Stevens pela Helios poderia causar tanto para Ed, no lado profissional, quanto para Karen, no lado pessoal. Mas esse foi um caminho muito claramente anunciado desde os primeiros minutos de Polaris, pelo que não é exatamente uma surpresa, ainda que, pessoalmente, eu achasse que isso só aconteceria mais para a frente. Por outro lado, o fato de isso já acontecer no terço inicial da temporada permite um potencialmente excelente desenvolvimentos paralelos em dois ambientes completamente diferentes, o que pode mudar até a estrutura da série como um todo.
Mas deixemos para pensar no que está por vir quando o que está por vir finalmente chegar. Pelo momento, a missão é lidar com o que All In objetivamente oferece. Grande parte do foco do episódio repousa em uma abordagem muito interessante para Margo e seu amor platônico por Sergei Nikulov, sua contrapartida soviética. Ganhamos um pouco mais de clareza, portanto, sobre a conexão entre os dois e as supostas trocas de informações sigilosas que vêm acontecendo há anos a fio. A montagem do elevador durante as várias edições do evento que ambos anualmente vão foi excelente, muito bem conduzida e desenvolvida, inclusive o momento climático em que Margo finalmente – e hilariamente como um robô – pede para ser beijada. É um momento tão sensacionalmente desajeitado e que revela o quanto eles são mesmo apaixonados um pelo outro, que é impossível não abrir um sorriso de pura meiguice explosiva em tela.
E isso torna os momentos seguintes ainda mais desconcertantes e pesarosos, com Sergei parando tudo para cumprir sua obrigação de pedir o projeto dos motores nucleares da NASA já que os dele não funcionam e, claro, os simpáticos agentes da KGB martelando a porta longo em seguida para chantagear a atônita Margo que, porém, resiste até o fim, só finalmente cedendo quando a vida de seu amor é ameaçada. A qualidade do que foi mostrado nessas cenas é um dos fatores que torna a elipse temporal que vem em seguida potencialmente frustrante, pois as consequências da traição de Margo – não foi a primeira, claro, mas foi de longe a mais relevante – não são trabalhadas. Sim, é muito provável que ela ainda tenha sua gigantesca queda, mas meu ponto é que os meses imediatamente seguintes também tinham grande potencial.
O restante do episódio foi, essencialmente, uma dança de cadeiras dos personagens coadjuvantes entre ficar na NASA ou ir para a Helios, com maior destaque para o drama de Danny e seu vício em bebida, oriundo da perda dos pais e do fim de seu brevíssimo relacionamento com Karen, retornando com força total e levando-o a ser colocado no banco de reservas das agência espacial e, ato contínuo, a ser contratado por Ed. O pulo de dois anos, aqui, cria a seguinte indagação: será que, nesse período, Danny foi capaz de mais uma vez entrar nos trilhos? Essa é a pergunta que precisará ser respondida na jornada ao Planeta Vermelho que, imagino, será bastante movimentada, provavelmente levando as partes envolvidas a colaborarem e, com isso, chegarem à paz mundial. Não, brincadeira. Acho que nem a mais positiva abordagem para a série seria capaz de levar a narrativa de História Alternativa a algo tão utópico assim…
All In assume riscos e, com eles, muda novamente o status quo e promete novidades na forma como os núcleos são abordados, empurrando a série cada vez mais para o lado da ficção científica pura, o que não é de forma alguma algo negativo. A corrida espacial agora tríplice tem grande potencial de continuar o caminho vencedor que For All Mankind vem cuidadosamente trilhando e de abrir novas portas na série. Só resta agora esperar para ver se o que o episódio abriu mão em termos de desenvolvimento será compensado nos vindouros capítulos.
For All Mankind – 3X03: All In (EUA, 24 de junho de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Wendey Stanzler
Roteiro: Nichole Beattie
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Shantel VanSanten, Sonya Walger, Casey W. Johnson, Jodi Balfour, Coral Peña, Cynthy Wu, David Chandler, Edi Gathegi, Piotr Adamczyk
Duração: 61 min.