Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
Obi-Wan Kenobi era para ter sido originalmente um filme, mas o fracasso financeiro de Han Solo: Uma História Star Wars seguido do sucesso de The Mandalorian, levou a LucasFilm a converter o longa em uma minissérie, o que, convenhamos, faz sentido diante dos fatos apresentados. E também faz sentido – e é até bacaninha, confesso – que cada episódio seja de alguma forma conectado com um dos filmes das Trilogias Prelúdio e Original, transformando-a, na verdade, em uma simpática homenagem.
Apesar de nunca pessoalmente ter compreendido o apelo de se destrinchar a vida de Kenobi como recluso em Tatooine e, portanto, nunca ter tido muito interesse na proposta – seja como filme ou série – e apesar de ter me decepcionado profundamente com O Livro de Boba Fett, esperava de Obi-Wan Kenobi que pelo menos houvesse espaço para Ewan McGregor, que considero um bom ator, construir seu personagem competentemente e não daquela forma canhestra que vimos nos três filmes-prelúdio comandados por George Lucas. E o primeiro episódio foi realmente promissor nesse sentido, prometendo uma abordagem mais melancólica de um Jedi auto exilado carregando nos ombros o peso da culpa pela queda de sua Ordem.
Infelizmente, porém, o que se seguiu a isso foi uma gangorra tonal que ora se lembrava do drama de Kenobi, ora precisava apertar todas as teclas que a produção achava importantes para uma série da franquia Star Wars poder ser considerada como tal. Entre momentos interessantes, como o uso de uma Leia de 10 anos como motivador para a saída do protagonista de Tatooine e outros genuinamente bons como a chegada de Darth Vader no vilarejo usando a Força para massacrar os habitantes e o duelo final, houve uma série de outros que impediram a minissérie de decolar de verdade, como as repetições narrativas por vezes determinadas justamente pelo conceito de homenagem à hexalogia original, como foi o caso dos desnecessários dois embates de Kenobi com Vader, um diluindo o outro, e momentos inexplicáveis como as desde já memoráveis – mas não por uma boa razão – sequências de captura de Leia, da abertura do portão para o esconderijo de refugiados e do hilário flashback para vermos o “padawan de 40 anos” cujo ator, mais hilariamente ainda, não tendo aprendido a atuar mesmo depois desse tempo todo…
Para uma série de apenas seis episódios, a quantidade de problemas foi grande demais para ela passar de apenas “legal”, de um passatempo esquecível que tem como maior vantagem não irritar o espectador como foi o caso da série solo (ou supostamente solo) daquele que era para ser o caçador de recompensas mais badass da galáxia. Obi-Wan Kenobi é um daqueles raros exemplares em que o todo é menor do que a soma de suas partes, se é que isso faz sentido. Resta, agora, torcer para que o ermitão barbado que um dia se tornaria Alec Guiness permaneça os nove anos que lhe restam quieto em sua casinha nova treinando o “berro anti-Povo da Areia” para quando ele precisar.
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
6º Lugar:
Parte II
1X02
O único problema do segundo episódio – e é um problema grande, diria – é que ele deixa de lado o que o primeiro tinha de especial, o foco em Kenobi, para lidar com uma narrativa consideravelmente simplista que o coloca como alvo da furiosa e particularmente eficiente inquisidora Reva que, dentre outros feitos, aniquila seu chefe sem dó nem piedade em uma cena que subverte expectativas e revela, ao final, que sua devoção é à Darth Vader que, para surpresa do Jedi, ainda está vivo. Ou seja, é um episódio básico “de fuga” em que conhecemos personagens como o charlatão de bom coração Haja Estree (Kumail Nanjiani) e ganhamos uma simpática participação especial de Temuera Morrison como um clone veterano pedindo esmola em meio a um planeta que parece saído diretamente de Blade Runner em um uso mais bem acabado da tecnologia de retroprojeção StageCraft se comparado com o aspecto artificial e talvez “limpo” demais dos cenários no primeiro episódio.
5º Lugar:
Parte III
1X03
E o aguardado aparecimento de Vader no vilarejo foi à altura de sua lenda, com ele usando a Força para matar e arrastar aldeões de maneira a atrair Obi-Wan Kenobi para fora de seu esconderijo. Essa não só foi uma sequência forte, como rara na própria franquia, com momentos chocantes assim, portanto, sendo realmente valiosos, mesmo que a inexplicável ausência da Marcha Imperial de John Williams tenha sido sentida. No entanto, diferente de outros grandes momentos de violência em Star Wars, sejam eles causados ou não por Vader, este aqui foi completamente anticlimático, já que o que se seguiu a ele foi uma razoavelmente desapontadora luta entre mestre e pupilo, a primeira depois da fatídica pancadaria à la Marios Bros. de A Vingança dos Sith.
4º Lugar:
Parte IV
1X04
O problema da série é, para mim, o abandono de contornos potencialmente muito mais interessantes que foram esboçados principalmente no primeiro capítulo, ou seja, toda a solidão, o medo, a culpa e a tristeza de um grande Jedi que viu seu pupilo bandear-se para o Lado Sombrio da Força e um Lorde Sith que saiu debaixo das barbas de todo mundo tomar o controle da galáxia. Sem essa abordagem, o que sobra é algo que apenas ocasionalmente nos faz levantar as sobrancelhas (como a sequência da chegada de Vader no vilarejo no episódio anterior), sem nunca realmente tentar ir além do básico. Mas já pensaram se, pela Parte IV ter emulado o Episódio IV, a Parte V tentar fazer o mesmo com o Episódio V? Hummm…
3º Lugar:
Parte I
1X01
O que realmente funciona como o coração do episódio de abertura é o tempo investido em McGregor de volta ao seu personagem depois de 17 anos distante deste universo. Ver sua rotina em Tatooine, com cada repetição incrementada pela proximidade cada vez maior dos Inquisidores Sith caçando Jedi liderados pelo Grande Inquisidor de Rupert Friend (o Peter Quinn, de Homeland), com um figurino e maquiagem que particularmente achei muito pobres, é essencial para que entendamos o suplício de Kenobi, sua desesperança, sua aceitação da derrota de sua Ordem sofrida nas mãos de Palpatine. O roteiro é enxuto e esperto o suficiente para saber que precisa convencer o espectador de que o que vemos é uma sombra intermediária entre as duas versões do mesmo personagem, a primeira impetuosa e a segunda sábia, com a excelente Deborah Chow capturando a exata dose de melancolia a partir da atuação econômica de McGregor.
2º Lugar:
Parte V
1X05
No penúltimo episódio da minissérie, portanto, Obi-Wan Kenobi acerta seu passo, cria urgência, nos apresenta a uma reviravolta relacionada com a raivosa Reva Sevander e, de quebra, justifica a escalação do ainda fraco Hayden Christensen em flashbacks para um treinamento entre o “jovem” Anakin – que merecia ter ganhado uma maquiagem digital aqui à la Luke Skywalker em The Mandalorian e O Livro de Boba Fett, pois o ator está longe de ainda parecer um Padawan convincentemente… – e seu mestre Obi-Wan que, claro, paraleliza os acontecimentos no presente no planeta que serve de entreposto do Caminho. Claro que é um episódio que tem sua boa dose de problemas, como por exemplo tudo depender de uma menina de 10 anos que nunca particularmente mostrou aptidão para eletrônica para abrir a porta que permite a fuga da nave e o portão da base, que resiste bravamente a repetidos tiros de canhão, ser “cortada” com toda a facilidade do mundo pelo sabre de Reva, mas eu os reputo como aspectos menores de contexto muito mais interessante.
1º Lugar:
Parte VI
1X06
Entre um belo trabalho de maquiagem e de voz quando Vader está com seu capacete destruído, a breve aparição de Ian McDiarmid em holograma, o fofo adeus à Leia em Alderaan que ecoa basicamente por toda a franquia em poucas linhas de diálogo, Kenobi voltando a ser o guerreiro que era depois de uma década escondido e com medo, além do uso das trilhas clássicas de John Williams, notadamente o tema de Leia e a Marcha Imperial, a série chega a seu fim de maneira sóbria, capaz até de elevar a impressão de conjunto sobre ela. Kenobi pode, agora, meditar e comungar com a Força e com seu velho mestre no tempo que lhe resta até seu sacrifício final por um bem maior, já como Alec Guiness.