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Crítica | Formigas Vermelhas ou A Herdeira de Montezuma (Tex #76 e 77)

A primeira aparição de El Morisco, o Bruxo Mouro!

por Luiz Santiago
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Nesta aventura publicada originalmente em 1965, temos a primeira aparição de um dos personagens mais interessantes dentre os coadjuvantes recorrentes nas histórias de Tex, o egípcio estudioso do oculto (e também uma espécie de cientista e naturalista) conhecido como El Morisco, que já aparece ao lado de seu fiel mordomo Eusébio. É uma aventura que começa apontando para uma jornada bastante intensa de Tex e Kit Carson, que estão na trilha de um grupo de ladrões de gado. O roteiro é de Gianluigi Bonelli e, como em diversas de suas histórias, há uma inteligente forma de apresentar o problema central partindo de uma narrativa “que está acontecendo antes de a história começar“, ou seja, em elipse.

Narrativas com esta característica se beneficiam bastante da curiosidade imediata do leitor, mas isso também depende da habilidade do escritor em apresentar algo que instigue o público e que mostre diversas possibilidades para uma situação da qual temos poucos detalhes. No presente caso, o roubo de gado é apenas a desculpa para que uma investigação se inicie e algo ainda maior apareça pelo caminho (na aventura seguinte com El Morisco, este também seria o impulso narrativo, por sinal). Aqui temos elementos mais leves de weird western, mas eles são inconfundíveis e dão o tom daquilo que seriam todas as aventuras com o Bruxo Mouro, ou seja, uma caçada típica dos rangers que por algum motivo se cruza com algo místico, sobrenatural ou não muito bem explicado através de um processo racional. Cultos, seitas, revisitações religiosas e artefatos misteriosos são recorrentes nesse tipo de história.

O problema central do presente enredo é que o lado dos vilões é pouquíssimo desenvolvido, e quando aparece com um pouco mais de diálogos, tende a mostrar conflitos internos e não motivações ou conexões com os mocinhos da história, em outras palavras, nós temos plena noção de quais são os objetivos, o processo de pensamento, os impasses ético-morais e todas as movimentações de Tex e seus pards, mas faltam elementos para tornar o lado dos vilões chamativo e verdadeiramente interessante. A questão de termos, por exemplo, uma descendente de Montezuma e outro “descendente dos conquistadores espanhóis” é um fato absolutamente solto na narrativa, só tendo motivação superficial para a ação de alguns personagens. A trama em si é muito interessante (afinal de contas, traz um pouco da herança do povo Asteca, o que é sempre algo bacana de se ver em faroestes weird), mas não recebe atenção do roteiro para construir uma justificativa sólida por parte de todo o bloco de vilões — o ganancioso Fidel é até bem contextualizado, mas a herdeira de Montezuma…

Há um momento desse arco, porém, que eu acho sensacional. Tex e Kit acabam sendo cercados por indígenas comanches e o lugar em que se encontram, na base de uma montanha, é um péssimo local para defesa. Trata-se de um momento muitíssimo tenso da narrativa, onde o leitor não se preocupa com mais nada. Até a verdadeira motivação do arco desaparece ali, e a gente sequer se importa com isso porque a tensão que o roteiro entrega e a forma como os desenhos de Guglielmo Letteri criam a alteração de cenas, a presença dos indígenas e a posição complicada dos pards bastam para nos fazer tensos e mergulhar plenamente na sequência. É o melhor momento da aventura, tanto pela forma como está narrado como pela interação entre os dois lados da moeda, que pela primeira vez acaba sendo bastante coerente.

Formigas Vermelhas (A Herdeira de Montezuma) introduz um importante personagem no Universo do Águia da Noite e, por isso mesmo, é uma história importante na linha de publicações de Tex. A participação do Bruxo Mouro não é muito grande, mas é importante para os pards, especialmente para Tex, que experimenta peiote pela primeira vez e tem uma alucinação bem interessante, terminando, inclusive, com Mefisto aparecendo para ele, momento em que o mestre Bonelli indica que o vilão, na verdade, não está morto e que deve voltar a atormentar ranger no futuro. É uma trama com bons momentos de tiroteio, válida naquilo que traz para o cânone de Tex, mas com uma fraca construção dos vilões, o que termina enfraquecendo o argumento central.

Tex: Formigas Vermelhas ou A Herdeira de Montezuma (Serie Pueblo: 34ª serie — Il Tesoro del Tempio / Formiche Rosse / Il Messaggio / La Mandria / Il Segreto di Esmeralda) — Itália, 6 de setembro a 4 de outubro de 1965
No Brasil:
Tex n°76 (Vecchi, junho de 1977)
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Guglielmo Letteri
Capas: Aurelio Galleppini
131 páginas

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