- COM SPOILERS. Acompanhe por aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Dada a resolução rápida do gancho deixado por Allegiance ainda antes da “intro”, imaginava Transcendence como uma season finale tipicamente montada para a organização de tabuleiro, que direcionaria a busca por Makee (Charlie Murphy) e aos artefatos como mote para a segunda temporada. Apesar da série ter sido ligada no “220” em velocidade a partir da metade de temporada, ainda foi surpreendente vê-la elaborando um novo clímax perecível com escala e consequências maiores que o resolvido há pouco tempo antes no próprio episódio, trazendo mudanças até mais radicais nos desdobramentos globais da história e um bom sentimento de incerteza para o que será contado no futuro.
Vamos por partes: começando pela resolução do primeiro clímax, que, no contexto onde ele parecia ser o principal, ficou um tanto simplório. A começar pelo estranhamento consequencial daquela explosão de Makee ao pegar o artefato. A primeira cena que mostra Chief (Pablo Schreiber) desnorteado em meio os destroços dão a entender que o impacto daquela onda de energia foi muito maior do que foi de verdade, visto que alguns personagens que estavam mais próximos do local da explosão saíram menos marcados que os Spartans que estavam longe do local da explosão. É estranho também como meio que é dado um reset ao confronto entre os soldados para ser promover uma resolução pelo diálogo, que seria bem mais interessante de ver caso ficasse somente entre o quarteto, sem a necessidade de interferência do Capitão Keyes (Danny Sapani) para convencer Vannak-134 (Bentley Kalu) e Riz-028 (Natasha Culzac) de que Master Chief falava a verdade sobre eles serem meros experimentos de Hasley (Natascha McElhone).
Inclusive, a forma como Hasley escapa da investida de Kai (Kate Kennedy) na sua nave de fuga foi bem pouco plausível, visto que os questionamentos levantados pela soldada poderiam ter sido feitos bem antes quando a doutora já estava entre a cruz e a espada com a UNSC. Por consequência, mais tarde quando descobrimos que Hasley enganou todo mundo com um clone de si próprio idêntico a aqueles que usava para os sequestros das crianças para o projeto Spartan, soa um pouco forçado, principalmente ao não ficar nem um pouco claro quando que ela realizou essa troca, tanto para ela, quanto para seu ajudante Adun (Ryan McParland). Sei que são dúvidas que se explicadinhas demais faria a personagem perder um pouco da sua “mágica” de estar sempre um passo à frente, mas, nesse caso, foi uma justificativa fácil demais para o roteiro mantê-la apta para progressões futuras.
O texto traz esse mesmo sentimento de facilitação na forma como articula o desvendamento do “enigma” deixado por Makee para a localização do planeta sagrado Covenant onde levou os artefatos. Felizmente, a inteligência bem usada de Cortana (Jen Taylor) torna esse caso mais verossímil, especialmente depois da ótima sequência do Silver Team entre os campos gravitacionais, que traz dificuldades e intempéries para a descoberta do local. Uma premissa que, reitero, poderia facilmente ser mote para toda a próxima temporada, não sendo ela a única dimensionada apenas para esse capítulo. A morte de Makee e do próprio Chief – como John-117 – ao unir seu corpo com Cortana, conseguindo salvar sua equipe e capturar os artefatos simultaneamente, cessaram muitas colunas abertas para desenvolvimentos posteriores (por exemplo: como não teríamos mais os dois para se conectarem aos artefatos, a procura por Halo tende a aumentar sua vida útil na série) com uma anticlimaxidade corajosamente trágica.
Não veremos Makee descobrindo que seria traída pelos Covenants na “grande jornada”. Não veremos desenvolvimento antagônico ou romântico entre ela e Chief. Não veremos o crescimento de interações carismáticas entre Chief e Cortana trabalhando juntos. Não veremos a continuidade da conversa de Keyes com Chief se entendendo após o capitão revelar como se envolveu com Hasley. Contudo, todos esses “sacrifícios” narrativos fazem sentido para completar a construção da jornada de ambos os personagens, condenados como “especiais” a serem manipulados como armas para uma guerra que eles nunca queriam ter participado, além de fornecer a origem daquele Master Chief caladão clássico se aventurando em tramas de guerra episódicas que nem nos jogos.
Aliás, a estética do planeta sagrado Covenant em seu cerne é puro videogame. Mais uma vez, a condução da ação é certeira em emular a imersão direta dos gameplay sob outros posicionamentos de câmera, com o bônus de ter o apelo emocional acumulado pelo desenvolvimento dos demais episódios, consolidando a sequência de ação mais envolvente da temporada. Transcendence não chega a ser melhor que o episódio passado, mas é um fim com escopo e peso dignos da proposta de Halo alçando em ser uma grande produção, uma reprodução equilibrada e constante entre fidedignidade à matéria-prima com a competência dramatúrgica própria enquanto produção seriada.
Halo – 1X09: Transcendence | EUA, 19 de Maio de 2022
Criação: Kyle Killen, Steven Kane
Direção: Jonathan Liebesman
Roteiro: Steven Kane
Elenco: Pablo Schreiber, Shabana Azmi, Natasha Culzac, Olive Gray, Bentley Kalu, Kate Kennedy, Charlie Murphy, Danny Sapani, Jen Taylor, Natascha McElhone, Julian Bleach, Karl Johnson, Hilton McRae, Ryan McParland, Gustavo Chiang, Oladapo Oluwatosin Okunlola, Samuel Tamunotoku Gbobo, Caroline Boulton, Claudius Peters, Danielle Fiamanya, Balázs Csémy
Duração: 48 min.