O Guarda-Costas e a Primeira Dama é um filme bem simpático. Na história, acompanhamos Doug Chesnic (Nicolas Cage), um agente do Serviço Secreto americano que está frustrado com sua tarefa de proteger a ex-Primeira Dama Tess Carlisle (Shirley MacLaine), afinal, a viúva trata Doug como um serviçal, fazendo-o levar cafés da manhã e buscar bolas de golfe. O protagonista quer um cargo melhor, à altura da sua profissão e experiência, mas, por algum motivo, Tess não deixa Doug ser transferido, mantendo o agente em sua casa enquanto testa sua paciência e dignidade.
O primeiro ato da obra é divertidinho, explorando o cenário de brigas entre os protagonistas. O roteiro não dá muitas características ou situações comicamente criativas para os personagens, mas os atores se viram bem com o material limitado. Cage exala frustração com muito humor, especialmente quando está vigiando Tess à distância com óculos escuros. MacLaine tem uma tarefa mais complicada, tendo que trazer carisma para uma personagem completamente desagradável, mas a atriz consegue andar na linha entre chatice e simpatia com graça, provocando seu agente de diversas maneiras. Seus embates e o certo jogo de hierarquia acontecendo rende alguns dos melhores momentos do longa, incluindo as cenas divertidíssimas do personagem de Cage recebendo ligações do novo presidente para ficar na linha e agradar sua chefe insuportável.
O estranho é que a obra dirigida/escrita por Hugh Wilson acaba se desviando do gênero da comédia à medida que a narrativa avança, priorizando desenvolver o relacionamento entre os personagens principais por um lado mais empático e terno. Acredito que a escolha de Wilson tenha sido uma forma de evitar o cansaço dos embates entre Tess e Doug (consigo ver isso acontecendo), mas confesso que gostaria de ter visto mais da tensão cômica entre Cage e MacLaine, especialmente quando seus confrontos começam a escalonar para situações absurdas. Ao invés disso, porém, O Guarda-Costas e a Primeira Dama adota uma rota mais dramática, o que não funciona tão bem em termos de tom, mas que também não é necessariamente descartável.
Doug e Tess tem alguns encontros que renovam sua amizade e relacionamento, com o roteiro explorando elementos como solidão, lealdade e velhice, especialmente em torno da primeira dama isolada. Os temas dramáticos não são necessariamente aprofundados, mas também não são completamente vazios de substância, muito por causa de MacLaine e sua facilidade em criar compaixão com olhares tristes e rabugice como mecanismo de defesa. O tratamento da história começa a ser mais melodramático e piegas, mas funciona em certos níveis de afinidade e sintonia com os personagens principais. Isso até o momento que o roteiro “muda” novamente com o sequestro de Tess, criando um bloco final esquisito que não sabe se é suspense ou apenas um drama sobre culpa (por parte de Doug).
Eu até elogiei a obra mais do que eu esperava, mas é difícil enquadrar como “bom” uma história tão perdida em termos de tom e ideias centrais, propondo diferentes experiências que não se encaixam e nem criam uma experiência natural ao longo da narrativa. Ainda assim, também não consigo qualificar O Guarda-Costas e a Primeira Dama como um filme necessariamente ruim, porque tem bons momentos, mesmo que muitos deles clichês e superficiais, especialmente por causa do bom trabalho dos atores, com MacLaine exalando carisma no meio da antipatia, enquanto Cage mostra sua contenção e sutileza cômica num início de carreira antes dos seus típicos histrionismos. É uma experiência simpática e totalmente esquecível.
O Guarda-Costas e a Primeira Dama (Guarding Tess) – EUA, 1994
Direção: Hugh Wilson
Roteiro: Hugh Wilson, Peter Torokvei
Elenco: Shirley MacLaine, Nicolas Cage, Austin Pendleton, Richard Griffiths
Duração: 95 min.