Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 1X01: Strange New Worlds

Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 1X01: Strange New Worlds

Exploração e elegância.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Começar Strange New Worlds logo após a decepção da horrenda segunda temporada de Picard foi um misto de sentimentos. Estava desanimado e ao mesmo tempo receoso antes do play, e enquanto estava assistindo fiquei surpreso e encantado com o primeiro episódio. Quando acabou, estava bem feliz com um início de temporada extremamente promissor. É verdade que o segundo ano de Picard também teve um começo bacana, mas Strange New Worlds passa uma sensação de segurança maior, como se estivéssemos diante de uma grande jornada nas estrelas a cada semana.

Antes disso: contexto. Strange New Worlds é tanto um spin-off de Discovery quanto um prelúdio da série original, acompanhando as aventuras da tripulação da nave estelar Enterprise nos anos anteriores a Kirk sentado na cadeira do capitão. O líder aqui é Christopher Pike (Anson Mount), que, na verdade, está relutante em retornar para a frota estelar após os eventos da segunda temporada de Discovery, em que o personagem tem contato com os Talosianos, que tem poderes mentais, despertando visões do futuro de sua própria morte. Pike é chamado de volta às estrelas para encontrar sua primeira oficial, Una Chin-Riley (Rebecca Romijn), que desapareceu após uma tentativa de primeiro contato que deu errado.

A abordagem dos criadores Akiva Goldsman, Alex Kurtzman e Jenny Lumet é extremamente clara: retornar ao formato clássico das histórias da franquia. Temos um elenco simpático viajando pela galáxia, tramas episódicas e temáticas sociais e humanas misturadas na narrativa de ficção científica. Diferente da proposta subversiva de Discovery na franquia, a mais nova série de ST quer retornar às bases e aos elementos que tornaram este universo famoso. Vejo isso principalmente na direção de Goldsman, carregando um certo classicismo e contemplação. Ele quer mostrar a nave viajando, os interiores e a arquitetura futurista da Enterprise, os uniformes da frota e as funções da tripulação. O cineasta também gosta de evidenciar cenários, o cosmos e os mundos, como se devêssemos repousar na tecnologia e nos ambientes com calma e delicadeza para absorver a linguagem de exploração – aquela sequência de uma nave pousando no terreno branco de neve de Iowa é de uma beleza vistosa, exemplificando a linda fotografia de todo o episódio.

Para além da direção, os atores entendem muito bem a proposta, em especial Anson Mount e sua postura valorosa e íntegra. Os personagens conversam com cordialidade e composição, mas nada soa sisudo e sério num aspecto militarista. É tudo muito elegante e preciso, mesmo na missão e nos dramas, como se estivéssemos assistindo um modelo ideal de vida e sociedade mesmo em seus conflitos e imperfeições (sinto isso bastante vendo a série original). Por exemplo, as várias conversas e contextualizações do episódio carregam esta certa elegância, mas também soam orgânicas e naturais, e com toques leves de um humor gentil, para que as dinâmicas da nave possam ser empáticas e a rotina neste cenário seja interessante de assistir. Nesse sentido, também gosto de como Pike é dessemelhante de Kirk, para que a interação dos co-protagonistas não emule a dupla clássica de Spock e James. Até mesmo as referências e fanservices soam harmoniosas e pouco intrusivas.

Os temas também fazem parte da essência da franquia, sendo que vemos no episódio uma variedade surpreendente. Temos evidenciação de culturas, desde a interação de Spock e sua noiva (adoro como o roteiro toma seu tempo aqui), até a realidade do mundo que estão visitando, como também mortalidade (drama central de Pike), preconceito e principalmente diplomacia. Também aprecio como a série evita elementos conservadores e procura se conectar com temas atuais (algo que muitos fãs falham em notar com Discovery e confundem com “lacração”), como na personagem de La’an Noonien-Singh (Christina Chong) e seus ideais feministas. O tom dado é realmente de aprendizado, sobre os personagens, este universo, mensagens morais e, claro, deliciosas nerdices de ciência e tecnologia. A ideia de primeiro contato é completamente fascinante, sendo destrinchada com cuidado na trama, até chegarmos ao ponto do discurso diplomático de Pike que a montagem ajuda a transformar numa aula de História e propaganda de utopia.

Se Strange New Worlds me permite um termo mais coloquial, gostaria de dizer que seu primeiro episódio é muito gostoso de assistir. Do maravilhoso design de produção até a calma da direção e do roteiro, a produção é tanto um vislumbre quanto um festival de ensinamentos humanos, utilizando um elemento que Picard nunca entendeu: sutileza. Se tenho uma reclamação, é que sinto um pouco de falta de entusiasmo (não estou falando de ação, vejam bem), mas a serenidade do episódio serve a um propósito. Acredito (e espero) que as aventuras não serão todas abordadas com a mesma contemplação, ambientações imaculadas e fotografia luminosa (ST consegue ser sombrio também), mas são elementos fundamentais para estabelecer o tom da série neste episódio, que soa tão clássica quanto progressista, tão instrutiva quanto natural, tão idealista quanto realista, tão dramática quanto elegante.

Star Trek: Strange New Worlds – 1X01: Strange New Worlds (EUA, 05 de maio de 2022)
Desenvolvimento: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Akiva Goldsman
Roteiro: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman
Elenco: Anson Mount, Ethan Peck, Jess Bush, Christina Chong, Celia Rose Gooding, Melissa Navia, Babs Olusanmokun, Bruce Horak, Rebecca Romijn
Duração: 57 min.

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