Home TVEpisódio Crítica | Superman & Lois – 2X11: Truth and Consequences

Crítica | Superman & Lois – 2X11: Truth and Consequences

Precisamos falar sobre a identidade secreta do Superman.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Se tem uma coisa que eu não gosto de fazer é ficar discutindo coisas como “qual é o super-herói mais forte, fulano ou cicrano?” ou “como o poder tal funciona?”. Faz parte do jogo dos quadrinhos nós aceitarmos esse tipo de coisa como ela é posta para nós, por seu valor de face. Mas como toda regra, para ser regra, precisa de uma exceção, ela, para mim, sempre foi a questão da manutenção das identidades secretas. Não que eu não ache que não deva haver identidades secretas, pois creio que em vários casos elas se justificam, mas sim como elas são efetivamente mantidas sem que tenhamos que esticar nossa suspensão da descrença ao limite. Nas HQs, isso é mais fácil, mas, no audiovisual, nem tanto.

Afinal, se não estamos falando de super-heróis como o Homem-Aranha, que se cobrem da cabeça aos pés com seus uniformes coloridos, sempre subjaz aquela boa e velha indagação de como pelo menos as pessoas mais próximas deles não concluem, mais cedo ou mais tarde, que convivem com um super-herói. O caso do Superman é emblemático, claro, pois seu disfarce é sofisticado em sua mais absoluta simplicidade: um par de óculos, postura corporal e inflexão de voz. Sempre achei fascinante e continuo achando SE a coisa é feita com cuidado. No Cinema, o Azulão já foi representado por atores completamente antitéticos nesse quesito: Christopher Reeve e Henry Cavill. O primeiro foi capaz de fazer nosso queixo cair ao transitar entre Clark Kent e Superman, em cenas sem cortes, só retirando ou colocando os óculos ou arqueando as costas ou estufando o peito. O segundo faz Clark Kent ser exatamente a mesma pessoa que o Superman e vice-versa. Não estou falando necessariamente da qualidade dramática dos dois atores, vejam bem, mas sim de escolhas dramáticas da produção, uma se preocupando em criar o espaço adequado entre personas e a outra passando por cima disso.

O Superman de Tyler Hoechlin está nessa segunda categoria, a mesmíssima de Cavill, com o agravante de ele ainda usar barba sempre por fazer, tornando-o alguns graus mais identificável do que com um rosto liso. Novamente, escolha da produção, mas, parafraseando o Tio Ben, com grandes escolhas, vêm grandes complicações. E essas complicações manifestaram-se com força aqui em Truth and Consequences, episódio que existe quase que exclusivamente para levar ao grande momento em que Clark Kent revela para Lana Lang, sua amiga de infância e amor de adolescência, que ele é o Superman.

Eu já disse algo parecido algumas vezes ao longo das críticas da série: o Superman de Hoechlin, se visto à distância por seus amigos próximos (e, antes, por parentes também) funciona, pois cria o “espaço” necessário para a suspensão da descrença preencher. No entanto, isso não acontece de perto. As interações de Clark ou Superman com Lana a alguns centímetros de seu rosto ao longo de toda a série são patéticas por ela sequer falar algo como “nossa, como o Clark está parecido com o Superman hoje…” e tudo chega a seu clímax aqui, primeiro com ela lentamente (muito, mas muito lentamente, aliás, a ponto de ser cômico…) retirando a kryptonita cravada no Superman, depois com ela flertando com ele na porta de sua casa (foi constrangedor ver aquilo…) e, finalmente, com ela dizendo “você é o Superman” depois que ela vê Clark flutuar e congelar um árvore com seu sopro (que maneira mais estranha de reiterar que um sujeito voando é o Superman, não?).

Ou seja, não deu. Não consegui me conectar com o episódio um segundo sequer nesses momentos, o que foi amplificado por Sarah e Lana simplesmente aceitarem como a coisa mais normal do mundo Jonathan aparecer de cabelo de Tintim, sombras nos olhos, alargadores nas duas orelhas, jaqueta de couro e calça vermelha da OP. O disfarce de Tyler Hoechlin é exclusivamente seu par de óculos e esse disfarce é apenas marginalmente menos eficiente do que aquelas “máscaras de dominó” que heróis com Robin, Bucky e Arqueiro Verde usam e, no audiovisual, sem toda uma atmosfera que crie as circunstâncias para que acreditemos que há uma “barreira” invisível que torna o herói irreconhecível para quem ele conhece há anos a fio, o negócio fica ridículo demais da conta. Teria sido muito mais interessante se a reação de Lana, no lugar de mandar um embasbacado “você é o Superman”, dissesse algo como “Clark, você acha mesmo que eu não sabia?”, pois tornaria tudo perfeito em um estalar de dedos. Isso ainda pode acontecer no começo do episódio seguinte, mas não combinaria muito bem com a reação imediata dela e com o tal flerte que eu mencionei antes.

Mas nem tudo se perde no episódio. Ver Jordan assumir novamente o manto de Superboy depois de inicialmente apanhar do Jonathan Invertido foi um momento inspirado e inspirador. O garoto mostrou coragem, controle de seus poderes – ok, ainda falta voar direito, mas ele chega lá – e o altruísmo típico de seu pai, o que, espero, seja aproveitado de verdade doravante, inclusive, possivelmente, com um uniforme para ele. Também gostei da breve cena em que Clark vem pedir para sua família para contar seu segredo para Lana, algo que ele sequer consegue fazer antes de receber um efusivo “sim” como resposta. Bela sintonia ali. E essa mesma sintonia se repete com John Henry e Natalie, com a segunda muito claramente se preparando para também fazer dupla “armadurada” com o pai.

O resultado final de Truth and Consequences, porém, poderia ter sido muito pior, além de ser possível que eu esteja particularmente implicante com o negócio da identidade secreta desse Superman em particular, mas eu acho que Todd Helbing poderia ter feito muito melhor aqui. Com toda a boa vontade que eu tenho com essa série, porém, farei como fiz em Bizarros in a Bizarro World e inflarei artificialmente minha avaliação final para três HALs. Fica a esperança de que os próximos episódios apaguem o gosto ruim que ficou com a rara falta de cuidado do showrunner.

Superman & Lois – 2X11: Truth and Consequences (EUA, 03 de maio de 2022)
Criação: Todd Helbing
Direção: David Ramsey
Roteiro: Andrew N. Wong
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Jordan Elsass, Alex Garfin, Emmanuelle Chriqui, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Daisy Tormé, Ian Bohen, Nathan Witte, Rya Kihlstedt, Dylan Walsh, Adam Rayner, Jenna Dewan
Duração: 42 min.

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