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Crítica | Sublet (2020)

O peso do experimento.

por Luiz Santiago
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Muito conhecido no cinema LGBT, especialmente por ter dirigido Delicada Relação (Yossi & Jagger), o cineasta americano-israelense Eytan Fox sempre gostou de explorar encontros entre homens que são marcados por histórias pessoais contrastantes e que eventualmente precisam enfrentar uma despedida. À medida que o diretor foi amadurecendo, seus filmes deixaram de lado a atmosfera mais próxima da tragédia e passaram a focar em crônicas mais casuais da vida de pessoas que se deparam com uma grande novidade e que não sabem exatamente o que fazer diante dela. Este é o caso do escritor Michael (John Benjamin Hickey) aqui em Sublet.

Em uma viagem de cinco dias por Tel Aviv, com o objetivo profissional de explorar a cidade por olhos diferentes do turista básico, Michael faz a locação de um apartamento na periferia da cidade e já em sua chegada ao lugar percebe que está em uma situação estranha. O apartamento é grande, mas está absurdamente bagunçado, pois o jovem locador — um estudante de cinema — confundiu o dia de chegada de seu locatário e ainda estava com muito material da faculdade espalhado por todos os lugares, após uma filmagem no lugar. É uma apresentação clichê, ressaltando os “mundos opostos”, mas o roteiro está claramente ciente disso, e ergue sua trama central procurando desviar-se desse tipo mais fácil de drama. É claro que o texto de Fox em parceria com Itay Segal não é nada original, mas possui uma interessante abordagem para o tema proposto, traz cenas bastante delicadas e expõe ótimos caminhos para reflexão.

Michael e Tomer (Niv Nissim) são, em quase tudo, homens muito diferentes. É verdade que possuem em comum o fato de serem gays, mas na idade, na educação, no cenário social em que cresceram e em suas ideias sobre a vida, sobre relacionamentos e sobre arte… estão bastante distantes. Ambos os atores estão ótimos em seus papéis e conseguem transmitir com bastante veracidade a visão de mundo de cada um de seus personagens. Como o espaço físico tem um papel importante na criação de uma atmosfera e apresentação de coisas novas para o escritor (a direção de arte claramente se divertiu muito aqui), notamos que o filme foca em Michael para destacar os principais conflitos da trama e, um pouco mais à distância, mostra a reação do jovem Tomer a tudo o que vê. Apesar de seu discurso desapegado e despreocupado, ele é alguém muito sensível e protagoniza duas das melhores cenas do longa, a do jantar na casa da mãe (que também traz o melhor momento da direção de fotografia do filme) e a do aeroporto, na hora da despedida.

Como é comum nos filmes de Eytan Fox, temos uma ótima e emocionalmente descritiva trilha sonora na criação de uma situação que nos deixa divididos em relação à atitude dos personagens. Sublet é um filme sobre encontrar novidades, ser fiel ou não a um relacionamento em crise e experimentar algo novo, talvez pela última (ou pela única) vez — um misto de dilema moral e comportamental que dificilmente encontrará consenso. Nesse sentido, o roteiro tem uma forte melancolia embutida, porque não indica que os dois homens ficarão ou mesmo se verão novamente. É até possível que Michael realmente entre em contato com Tomer para indicar o artigo publicado, mas o presente contato físico entre os dois é transmitido na obra como uma experiência única, daquelas que marcam as duas vidas e, justamente pelo caráter único, fica na memória para sempre.

Sublet (Israel, EUA, 2020) 
Direção: Eytan Fox
Roteiro: Eytan Fox, Itay Segal
Elenco: John Benjamin Hickey, Niv Nissim, Lihi Kornowski, Miki Kam, Peter Spears, Tamir Ginsburg, Gabriel Omri Loukas, Tamar Hannah Shtaierman, Shai Fredo, Bar Hadad
Duração: 89 min.

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