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Crítica | Halo – 1X06: Solace

Sentindo dificuldades em lidar com muitos tensionamentos.

por Iann Jeliel
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  • COM SPOILERS. Acompanhe por aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Há um sentimento de apressamento em Solace equivalente ao visto no último episódio, só que, desta vez, o direcionamento não é para a entrega de uma grande cena de ação ao final, mas sim para revelar a base do grande plot device que dá nome à série. Estou falando do primeiro vislumbre “Halo”, o anel místico procurado pela humanidade para ser usado como arma na guerra contra os Covenants. A construção do episódio até chegar a este ponto faz um passeio por outros conflitos acumulados de maneira não tão imediatista quanto poderiam, pensando na proposta de trabalhar os efeitos dramáticos deles perante as consequências do ocorrido na última batalha.

Solace começa promissor nesse sentido, mostrando na primeira cena Master Chief (Pablo Schreiber) quase assassinando Hasley (Natascha McElhone) por vingança, desistindo no último momento ao perceber que a Doutora não tinha realmente controle sobre seu corpo ou mente através de Cortana (Jen Taylor). Em outro momento, Chief conversa novamente com Hasley para cobrar explicações de suas motivações (a qual já sabíamos) junto a detalhes de suas quebras éticas em nome da ciência, mas a cena não possui a mesma tensão que a anterior, nem gera uma nova proposição de conflito dentro do episódio. Era a oportunidade perfeita para desenvolver mais, por exemplo, a relação do soldado com a inteligência artificial, ainda somente pincelada dentro da história. Uma ceninha mostrando outro atrito de John não querendo ela entrando em  sua cabeça pareceu pouco para esse episódio.

Assim como esperava mais exploração da relação de Chief com Kai-125 (Kate Kennedy), agora que ele lhe revelou a verdade por trás do programa que participa, imaginava que os dois compartilhassem mais questionamentos existenciais. Vejo essas tramas sendo cobertas por outras não tão urgentes ou interessantes. Toda a resolução da conspiração política envolvendo o afastamento de Hasley do projeto Spartan é confusa. Era algo que precisava ser colocado porque pela primeira vez dois soldados não obedeceram diretamente às ordens que lhe foram dadas, mas muita coisa ficou vaga e mal explicada. Pelo que deu a entender, o capitão Keyes (Danny Sapani) e a almirante Margaret (Shabana Azmi) eram os únicos que sabiam do caráter de ilegalidade dos experimentos de Hasley. Tanto que Miranda (Olive Gray), a filha de Keyes com Hasley, descobre sobre o sequestro de crianças para serem soldados invadindo a conversa de Chief com a Doutora. Contudo, é difícil acreditar que todo esse projeto tenha sido feito de maneira secreta com toda a UNSC aceitando tudo ingenuamente, sem questionamentos ou fiscalizações da logística do porque estava “dando certo”.

Só assim para fazer sentido, no primeiro momento em que as coisas saíram do controle, Margaret afastar Hasley (não totalmente, porque Hasley sabia de seu envolvimento e, para evitar que ela exponha, Margaret providenciará outro laboratório para Hasley trabalhar) e colocar Miranda (que no episódio passado tinha sido afastada a mando do pai, não?) no lugar para não expor o seu envolvimento como “bode expiatório” do esquema para a UNSC. É estranho o clima que dão para essa cena em que Margaret afasta Hasley, como se ela tivesse um grande peso e fizesse alguma diferença para a posição dela, pois ela ainda continha acesso a senhas e dispositivos do laboratório principal e ainda continha o controle de Cortana, que encontra aquela tecnologia semelhante à vista nos jogos que reduz a escala do holograma. Pelo menos, o tratamento da personagem continua fascinantemente ambíguo, como demonstra a conversa que tem com sua filha. Um desabafo que fica no limiar entre o fingimento manipulativo e o verdadeiro arrependimento de não ter sido uma mãe presente.

Uma das coisas mais legais desse live-action de Halo em geral vem sendo essa índole dúbia dos personagens. Vemos que Makee (Charlie Murphy) não queria simplesmente se infiltrar como espiã na UNSC para obter o outro artefato à força, como também quer tentar manipular Master Chief a uma “mudança de lado”, ao apresentar a conexão dos dois com a mística dos artefatos. Gosto de como a presença da personagem por si só já gera uma imprevisibilidade nas cenas que troca diálogos com o protagonista. Fica uma incerteza sobre cada fala sua: se o local dado por ela é uma armadilha para todos da UNSC; se a explicação dela para Chief tocar no artefato para deixar suas memórias aparecerem é verdade ou uma forma de tentar matá-lo, gerando esse outro bom elemento de suspense as memórias de Chief lhe dando dor física; se alguém pode descobrir sobre o massacre que fez a aquela tripulação – o que ainda deixa o questionamento do porque ela não se infiltrou antes, ficando exposta ao deixar pistas para trás.

Contudo, a direção pouco aproveita esse clima de desconfiança na prática para gerar uma constante de intensidade no episódio, sendo quebrada por essa inflação de eixos narrativos que aparecem e trocam entre si muito rapidamente. Somente no clímax há um jogo dinâmico de montagem mostrando Makee reagindo simultaneamente a Chief tocando no artefato que gera uma angústia crescente até culminar num fechamento empolgante com a primeira aparição de “Halo” e um gancho filosófico questionando o que ele seria. Por mais que esse fechamento deixando várias perguntas interessantes e mistérios no ar –minha maior pergunta: Porque Chief viu aquele fantasma de Kwan  (Yerin Há)? – fortaleça o investimento na continuidade da série, vejo Solace como o episódio desequilibrado no desenvolvimento de algumas explicações com a quantidade de conteúdo que precisa lidar e tensionar na narrativa.

Halo – 1X06: Solace | EUA, 28 de Abril de 2022
Criação: 
Kyle Killen, Steven Kane
Direção: 
Jonathan Liebesman
Roteiro: 
Steven Kane
Elenco:
Pablo Schreiber, Shabana Azmi, Natasha Culzac, Olive Gray, Yerin Ha, Bentley Kalu, Kate Kennedy, Charlie Murphy, Danny Sapani, Jen Taylor, Bokeem Woodbine, Natascha McElhone, Ryan McParland, Casper Knopf, Quynh Do Ngoc, Danielle Fiamanya, Claudius Peters, Miranda Wilson, Francisco Labbe, Iván Fenyö, Hans Peterson, Johnny K. Palmer, Karen Gagnon, Roderick Hill, Balázs Bölkény, Duncan Pow, Burn Gorman, Esh Alladi, Mirjam Novak
Duração: 48 min.

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