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Crítica | Halo – 1X04: Homecoming

Destravando memórias e sugerindo respostas.

por Iann Jeliel
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Homecoming

  • COM SPOILERS. Acompanhe por aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Homecoming é um episódio sobre memórias. Todos os núcleos aqui dramatizam sobre o destrave de uma lembrança escondida com ampla significância para o que são as pessoas envolvidas. Após a intro da série (que não comentei até o momento, mas considero-a bem legal) o núcleo de Soren (Bokeem Woodbine) e Kwan (Yerin Há) chegando em Madrigal abre o episódio com um diálogo que organizará todo panorama temático discutido adiante. O ex-espartano revela quanto tempo foi necessário para as suas memórias voltarem depois que se libertou do programa, além de uma barbara realidade: ele matou os próprios pais a mando da organização.

Somente com essa cena, podemos tirar diversas hipóteses acerca de informações colocadas por outros núcleos, enriquecendo gradativa e sugestivamente a mitologia desse universo. Por exemplo, ao sabermos que as memórias de Espartanos demoram um tempo considerável para retornar (anualmente, no caso de Soren), intuímos que o caráter especial de Master Chief (Pablo Schreiber) – reforçado mais uma vez nesse episódio – tem relação direta com sua capacidade de resistência/recuperação com a mecânica do sistema. Ou seja, o fato dele ter conseguido se rebelar emocionalmente para salvar Kwan no episódio piloto, junto às várias vezes que tentou fugir no passado (como mostra em flashbacks), trouxe êxito no agora, quando ele reconstrói as lembranças de sua casa sem o auxílio do artefato ou das imagens reconstruídas digitalmente por Cortana (Jen Taylor).

No que lhe concerne, as memórias revelam uma conexão de Chief com o segundo artefato procurado durante sua infância, intuindo que o contato dele quando criança com esse chamado “anel sagrado” possivelmente ajudou a criar esse caráter do personagem nunca ser totalmente controlável, algo que a Dra. Hasley (Natascha McElhone) admite nunca ter conseguido decifrar. Além disso, o crime cometido por Soren contra o seu pai, espelhado nas histórias contadas pelos companheiros de Chief, forçados a eliminar os próprios bichos de estimação depois de uma falha somente para aprenderem a lidar com as consequências, fortalece mais o antagonismo de Hasley. Embora a personagem não esteja sendo vilanizada propriamente quando está em cena, só por bocas alheias. Por consequência, o prisma do debate científico do controle e otimização humana para potencializar performances na guerra levantado pela série permanece num contexto de ambiguidade, até para as motivações de Hasley soarem coerentes, apesar de moralmente questionáveis.

Aliás, foi muito bom ver outros Espartanos do Silver Team sendo explorados em Homecoming, em especial pelo contraste gerado por Kai-125 (Kate Kennedy) – que viu Master Chief tirando o chip de controle de emoções e decidiu remover também – com os outros dois, Vannak-134 (Bentley Kalu) e Riz-028 (Natasha Culzac), ainda agindo com máquinas sem emoção, embora ainda como seres pensantes. Descobrimos essa não robotização por inteiro dos soldados pelos olhos da comandante Miranda Keyes (Olive Gray), personagem que já havia demonstrado em outros episódios possuir um toque mais humano que os demais funcionários da UNSC e que começa a ser explorada através de um vínculo afetivo interessante (romântico? Talvez…) com Kai-125, enquanto faz a tarefa que lhe foi designada de investigar a funcionalidade do artefato, descobrindo algumas mensagens impregnadas nele. Só não ficou muito claro para mim se o “Halo” falado ao final era uma dessas mensagens ou se era o nome do anel sagrado. De todo modo, existe a intenção dessa dúvida como o gancho para o próximo episódio.

Para não deixar a continuidade do núcleo de Kwan à parte desse raciocínio sobre as memórias, Homecoming definitivamente a coloca com uma trama própria na temporada, fazendo-a reinterpretar a memória do pai de uma maneira menos heroica, aparentemente. Como eu gostei da personagem pela sua introdução conectiva ao Master Chief, me invisto nessa trama solo que se alia à rebelião ditatorial em Madrigal, apesar de sentir que ela pouco terá de importância para a história global da série. O mistério sobre o que o pai dela fez no deserto e qual era o seu verdadeiro propósito é instigante o suficiente para comprarmos o núcleo e o fator perseguição deixado pelo Governador Vinsher (Burn Gorman), que trouxe sequências de ação muito bem-vindas durante o episódio.

Fora que essa narrativa contempla o episódio em outra ideia central: a decepção com o retorno às origens. Da mesma forma que Kwan se sente enganada pela e desistência dos membros da resistência depois de tudo que seu pai fez por elas, Chief se sente enganado pela sua “mãe” ao rememorar que Hasley estava lá em seu planeta origem, quando seus pais estavam vivos. A doutora até consegue contornar uma explicação que deixa Chief ainda apaziguado com o momento nostálgico, bem como Kwan não perde totalmente a esperança de encontrar pessoas que possam se juntar a ela e lutar a favor da rebelião, mas são desbalanceamentos equivalentes e importantes para as jornadas dos personagens, que a cada episódio ficam cada vez mais estimulantes de acompanhar.

Halo – 1X04: Homecoming | EUA, 14 de Abril de 2022
Criação: 
Kyle Killen, Steven Kane
Direção: 
Roel Reiné
Roteiro:
Justine Juel Gillmer, Steven Kane
Elenco: 
Pablo Schreiber, Shabana Azmi, Natasha Culzac, Olive Gray, Yerin Ha, Bentley Kalu, Kate Kennedy, Charlie Murphy, Danny Sapani, Jen Taylor, Bokeem Woodbine, Natascha McElhone, Burn Gorman, Ryan McParland, Angie Cepeda, Sebastián Capitán Viveros, Casper Knopf, Sarah Ridgeway, Khash-Erdene Ganbold, Ali Khan, Jaram Lee, Nila Aalia, Duncan Pow, Yuna Shin, Scott Karim
Duração: 58 min.

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