Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Terror nos Bastidores (2015)

Crítica | Terror nos Bastidores (2015)

Sátira flerta com elementos do slasher pra diversão dos fãs deste profícuo subgênero do cinema.

por Leonardo Campos
826 views

Trabalhar com a paródia é um exercício fascinante e os realizadores de Terror nos Bastidores sabiam disso na concepção desta perspectiva satírica em relação ao profícuo subgênero slasher. No terreno das narrativas que apostam neste recurso da linguagem, temos a relação do texto com algo que pode ser considerado um filho rebelde, uma espécie de espelho invertido que exagera, como numa lente, os modos, algo bastante parecido com o que se faz na elaboração de charges, bem como na caricatura. Estas minhas afirmações são oriundas de interpretações gerais do livro de Affonso Romano de Sant´anna, intelectual brasileiro autor de Paródia Paráfrase & Cia, um compêndio para quem desejar entender do assunto. Em suas reflexões, ele diz que sendo uma religião, a paródia é parricida, pois mata o “texto pai” em busca de uma possível diferença, instaurando o conflito, expulsando, de certa forma, a linguagem do seu espaço celestial. Quem se lembra da abertura de Todo Mundo em Pânico 2, por exemplo, um dos melhores momentos da franquia, sabe do que estou falando, afinal, é hilária e muito feliz a leitura satírica do clássico O Exorcista ao longo dos primeiros minutos da comédia. Aqui, o mesmo tom adequado ocorre com o slasher, subgênero dos psicopatas mascarados que aniquilam jovens incautos.

Dirigido por Todd Strauss-Schulson, realizador guiado pelo roteiro de Joseph John Miller e M. A. Fortin, Terror nos Bastidores é um filme festival, um evento que se torna uma caça ao panorama das diversas referências ao slasher dos anos 1980 ao longo de seus 91 minutos. Lançado em 2015, o filme se concentra mais numa leitura de Jason e sua imponente presença em cena na franquia Sexta-Feira 13, mas também traça paralelos com outros clássicos do período. Na trama, somos apresentados ao cotidiano de Max (Taissa Farmiga), uma garota que perdeu a mãe num acidente de carro há três anos e atualmente vive as transformações do luto em estágio mais avançado. Certo dia, ela acaba aceitando o convite de seus amigos para assistir ao slasher Acampamento Banho de Sangue, de 1986, produção protagonizada por Amanda (Mali Akerman), a sua própria mãe, uma atriz no passado. O que o grupo não esperava, por sua vez, era o incêndio tenebroso que devastaria a sala de cinema e os faria fugir.

A fuga, no entanto, acaba não sendo para o lado de fora, mas para dentro do filme exibido na telona, numa perspectiva semelhante ao nostálgico A Rosa Púrpura do Cairo, uma obra-prima de Woody Allen. Aqui, os jovens não adentram numa história fofa de amor, mas numa narrativa de terror num acampamento, perseguidos por um impiedoso psicopata mascarado. Assim, basicamente, Terror nos Bastidores expõe as estratégias adotadas pelo grupo para assegurar a sobrevivência diante do caos. A morte, representada pela figura de Billy, age furiosamente, não poupando em momento algum e estabelecendo um divertido e metalinguístico banho de sangue. Assertiva em sua proposta paródica, a produção conta com passagens burlescas que coadunam estranhamento com a composição de Eddy Zak e Gregory James Jenkins para a trilha sonora, além da maquiagem e dos efeitos supervisionados por Elvis Jones, um profissional que sabe homenagear muito bem o segmento exposto por aqui.

Com uma direção de fotografia que emula bastante da linguagem do videoclipe, este filme com cara de homenagem apaixonada apresenta aos espectadores quadros interessantes, movimentos suntuosos e dinâmica visual cheia de energia, trabalho eficiente desenvolvido por Elie Smolkin, um profissional que esbanja talento na captação de imagens, tanto dentro como fora do “filme inserido no filme”. Ainda na seara dos aspectos estéticos, o design de produção de Katie Byron consegue nos deixar imersos na atmosfera bucólica dos acampamentos típicos dos slashers dos anos 1980, além da possível associação entre a final girl da paródia com a protagonista Ginny, de Sexta-Feira 13 Parte 2, personagem que se posicionou como uma verdadeira guerreira muito antes de Laurie Strode, a heroína de Jamie Lee Curtis geralmente tida como o arquétipo máximo da garota finalista do slasher. Ademais, de volta ao texto mencionado na abertura desta reflexão, neste jogo que dialoga com a paródia e a paráfrase, é possível perceber também a presença da apropriação, ação comum da cultura pop, um espaço onde encontramos a unificação de materiais diversos disponíveis no cotidiano, buscando a confecção de um objeto artístico. A apropriação em Terror nos Bastidores não pretende reproduzir, mas produzir algo diferente com base naquilo que é retroalimentado, neste caso, as estratégias narrativas do subgênero slasher.

Terror nos Bastidores (Final Girls, EUA – 2015)
Direção: Todd Strauss-Schulson
Roteiro: M.A. Fortin, Joshua John Miller
Elenco: Taissa Farmiga, Malin Akerman, Adam DeVine, Alexander Ludwig, Nina Dobrev, Alia Shawkat, Thomas Middleditch, Angela Trimbur, Chloe Bridges, Tory N. Thompson
Duração: 80 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais