Home QuadrinhosArco Crítica | Martin Mystère – Vols. 9 e 10: O Triângulo das Bermudas e O Segredo do “Lusitânia”

Crítica | Martin Mystère – Vols. 9 e 10: O Triângulo das Bermudas e O Segredo do “Lusitânia”

Mistérios não explicados.

por Luiz Santiago
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Eu tenho me preocupado um pouco com o andamento “apenas ok” das edições de Martin Mystère, considerando a sua sequência de arcos (estou lendo a série em ordem cronológica) e os problemas frequentes que parecem pular de uma saga para outra, sem grandes alterações ou indícios de mudança nas últimas três partes. No arco Crime na Pré-História, sentimos isso pela primeira vez, com aquela trama deslocada da Corte dos Milagres. Já no arco seguinte, com a interessante história de O Homem que Descobriu a Europa e a posterior aventura que levaria para A Fonte da Juventude, notamos que o escritor Alfredo Castelli teve dificuldades em deixar fluída a interação entre as partes da edição, criando muitos desvios, distraindo o leitor desnecessariamente e não conseguindo voltar com facilidade para a linha central de eventos que deu início a toda a problemática.

Aqui em O Triângulo das Bermudas, arco que se liga à história O Segredo do Lusitânia, temos essa mesma dificuldade, tanto no desenvolvimento do enredo, quanto em seu encerramento. A história começa longe do escritório de Mystère, em 7 de maio de 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, data em que o navio de passageiros RMS Lusitania foi torpedeado por um submarino alemão. Os eventos desse bloco e sua posterior exploração lembram muito as intrigas de O Adversário Secreto, de Agatha Christie, e neles estão a semente daquilo que o autor utilizará para a grande reviravolta, no final da primeira edição.

A região de investigação impossível aqui é a área situada no Oceano Atlântico entre as ilhas Bermudas, Porto Rico, Fort Lauderdale (na Flórida) e as Bahamas. Essa região acabou se tornando famosa por vivenciar desaparecimentos de aviões, barcos, cargueiros e navios, o que evidentemente gerou uma numerosa quantidade de “explicações” sobrenaturais. O autor coloca Martin e Java nesse espaço geográfico e faz com que eles presenciem um desses fenômenos, mais uma vez fortalecendo o plot que se encaminha, mais à frente, para uma grande reviravolta. Infelizmente o roteiro não explora com exclusividade esse mistério, e o mesmo podemos dizer sobre o Lusitânia. O que Castelli faz é juntar as duas situações e criar algo através do tempo e do espaço, numa trama que poderia ser mais interessante como roteiro de uma série de TV (tipo Doctor Who), mas que para os quadrinhos ficou segmentada demais.

A segunda parte da aventura é de intensa exploração in loco, e aqui também aparecem espiões e comunicações misteriosas que novamente desviam a nossa atenção, já bastante dispersa pela chatíssima parte de explicação “técnica” a respeito da exploração do local onde o icônico navio afundou. Eu até consigo entender a intenção de Castelli, nesse ponto, porque ele gosta de explorar os eventos do mundo real dentro dessas histórias de Martin Mystère, brincando com a possibilidade dentro do impossível. Todavia, a didática e longa explicação tem um forte peso negativo, matando a graça de uma das partes do enredo que deveria ser mais tensa e cheia de suspense.

Muito já se ouviu falar do Triângulo das Bermudas e do Lusitânia, sempre como mistérios insolúveis. Nesse arco, nós temos a oportunidade de ver alguma ligação entre essas duas coisas, embora eu acredite que seria muito mais benéfico para a história se o autor separasse em enredos diferentes cada uma dessas grandes interrogações da humanidade. Quando comecei a ler MM, não imaginei que teria esse tipo de problema, dada a abordagem irreparável do mistério histórico/arqueológico e das forças externas a ele que permitiam a ação de Martin e Java para “salvar o dia” de alguma coisa muito ruim. Com o passar das edições, acabamos esbarrando nesses constantes desvios narrativos, em aventuras com uma quantidade desnecessária de caminhos — e digo que é “desnecessária” porque esses caminhos não recebem a devida atenção do texto, de modo que fica óbvia a impressão de que se conseguiria muito mais falando delas separadamente. Torcendo para que a série volte aos ótimos trilhos nas próximas aventuras.

Martin Mystère – Vols. 9 e 10: O Triângulo das Bermudas e O Segredo do “Lusitânia” (Il Triangolo delle Bermude / Il segreto del “Lusitania”) — Itália, dezembro de 1982 e janeiro de 1983
Roteiro: Alfredo Castelli
Arte: Angelo Maria Ricci
165 páginas

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