Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | O Pássaro Sangrento

Crítica | O Pássaro Sangrento

Personagens incautos perseguidos por um maníaco mascarado num teatro.

por Leonardo Campos
777 views

Giallo ou slasher? Foi a pergunta que me fiz próximo ao desfecho desta narrativa intrigante sobre um grupo de pessoas acossadas por um assassino macabro, motivado pela insanidade para o estabelecimento de um reinado de morte e horror durante uma noite terrível e longa para os personagens perseguidos e massacrados. Após analisar mais detidamente, por sua vez, percebi O Pássaro Sangrento como um Slasher Tardio, movimentado por escolhas estéticas e dramáticas que lembram bastante o giallo, gênero italiano de terror no qual o slasher é tributário em seu processo formativo. A atmosfera europeia vem da direção de Michele Soavi, um grande colaborador de Dario Argento, referência neste terreno cinematográfico. Com diálogos de Sheila Goldberg, o filme é gerenciado com base na estrutura dramática de George Eastman, numa história que traz a mais curiosa fantasia para um assassino, traje proporcionado pelos figurinos de Valentina Di Palma, uma presença criativa que permite visualidade assertiva para o enredo comprometido apenas pelos problemas de ritmo em seus 90 minutos que parecem longos demais para algo que na verdade é de uma metragem não muito extensiva.

A trama segue uma equipe de atores durante o ensaio de uma peça teatral dirigida por Peter (David Brandon). Falta apenas uma semana para a estreia e o investidor do espetáculo, Ferrari (Pierro Vida) está acompanhando tudo para verificar se as coisas estão dentro dos conformes contratuais. Duas pessoas envolvidas no projeto, Alice (Barbara Cuspiti) e Betty (Ulrike Schwerk), saem para cuidar de um pequeno acidente e, neste processo, acabam indo para um hospital próximo, local onde também se encontra um perigoso paciente psiquiátrico, assassino internado por esquartejar as suas vítimas. Numa manobra mirabolante, ele mata o enfermeiro, escapa e consegue se esconder no banco de trás do carro das personagens. Elas inicialmente não percebem e depois do trajeto, uma delas acaba morta. A polícia chega, analisa a cena, faz as devidas interdições, mas o maníaco não é encontrado.

Diante desta situação, Peter, o diretor da peça, percebe os acontecimentos como uma oportunidade para ajudar na publicidade do projeto. É uma chance de capitalizar em torno da tragédia macabra. Por isso, solicita que Corinne (Loredana Parrella) deixe todos os atores e demais funcionários da peça trancados no teatro, com a missão de esconder as chaves num local bem difícil de encontrar. O problema é que a personagem, única a saber o tal esconderijo, é uma das primeiras a morrer nas mãos do psicopata. Agora, trancafiados no espaço, os demais precisam batalhar pela sobrevivência, numa caçada com mortes violentas e uma figura trajada de coruja, fantasia que é parte da peça que eles ensaiam. Visualmente intenso, mas demorado no processo de decolagem, este slasher capricha nas mortes e transforma os momentos de violência em obras artísticas, numa abordagem sofisticada para os filmes do subgênero em questão.

Além dos elementos estéticos já mencionados, O Pássaro Sangrento conta com boa direção de fotografia, assinada por Renato Tafuri, responsável por transformar os espaços aparentemente claustrofóbicos do teatro num verdadeiro cenário de opressão, com suas passagens apertadas, obstáculos desafiadores para fuga e sensação de medo diante da presença de um monstro humano a perseguir os personagens com sua sanha assassina por sangue e medo alheio. A trilha sonora também traz grandes contribuições, uma composição assinada por Simon Boswell, Guido Anelli, Stefano Mainetti e Luigi Piergiovanni, equipe do setor que traz ressonâncias do giallo para o desenvolvimento deste slasher lançado em 1987. Não fosse o seu ritmo prejudicado por uma direção que permite um desdobramento arrastado, este seria um exemplar digno de entretenimento emocionante para os espectadores que encontram uma narrativa interessante, com diálogos mais elaborados que o habitual neste tipo de trama, mas que ainda assim, não consegue esconder a sua trajetória com quebras substanciais de adrenalina. Num filme de psicopata com mortes e matanças, muita enrolação acaba estragando a diversão. Não é bem o caso deste, mas uma voltagem maior talvez o torna-se mais empolgante.

O Pássaro Sangrento (Stage Fright/Deliria, EUA – 1987)
Direção: Michele Soavi
Roteiro: George Eastman, Sheila Goldberg
Elenco: Barbara Cupisti, David Brandon, Mary Sellers, Robert Gligorov, Jon Ann Smith
Duração: 86 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais