- Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.
Retrospectiva se aproveita da construção do episódio anterior para seguir na sua abordagem narrativa de uma missão complicada, agora com ainda mais enfoque na ação e no espetáculo visual. Como eu havia dito na crítica anterior, há um aspecto militarista com muitos níveis de tensão na trama da Resistência, melhor dramatizados aqui com a corrida contra o tempo, seja na sensação frenética da coisa toda, seja nas consequências dramáticas com o grupo, como a reação de Annie ao descobrir sobre a situação de Liberio. Interessante pontuar como isso é fruto do artifício narrativo dos Azumabito, algo que eu entortei um pouco o nariz no episódio anterior, mas que se mostra um recurso inteligente para problematizar a trajetória do ponto A ao ponto B de encontro à Eren.
Outro elemento a ser elogiado é o sentimento de salvação do mundo que acompanha a luta, algo muito forte na história da série em suas primeiras temporadas, rendendo momentos memoráveis como a marcha à morte de Erwin. Com o desenrolar de tantos mistérios e o embate entre Marley e Eldia, a narrativa se distanciou um pouco deste tratamento, aderindo ao lado mais ambiguamente moral da obra, então é bacana o retorno a um molde de história mais, digamos, heroico, com sacrifícios circulando a batalha, a sensação de união do grupo e suas decisões difíceis em prol de um objetivo honroso, ainda que sem desvencilhar-se dos principais temas deste mini-arco: a tarefa impossível de matar colegas e a compreensão entre inimigos. A belíssima cena entre Shadis e Magath encapsulam tudo isso: culpa, admiração, empatia e sacrifício.
O destaque principal, porém, é a encenação da batalha. Dispondo de menos estofo dramático em termos de diálogo e desenvolvimento de personagem, Retrospectiva é uma exibição vistosa de ação. Há, como disse, o elemento do tempo que aumenta a urgência e proporciona mais tensão visual, mas a MAPPA e a direção dupla de Jun Shishido e Yuichiro Hayashi realmente se sobressaem tecnicamente e formalmente, dispondo de uma coreografia notável e a sensação vertiginosa das acrobacias do equipamento DMT. Temos aquela sensação caótica e fluida que percorre os movimentos à medida que os personagens catapultam e balançam pela cidade e ao redor dos Titãs. Sinto uns probleminhas em como o episódio minimiza os poderes de Reiner e Annie para Falco adentrar à batalha, assim como nas típicas reações exageradas de animes no momentos climáticos (a cena do Floch), mas nada que substancialmente diminua o espetáculo visual do capítulo.
Retrospectiva também soa como um fechamento de arco interno para o grupo que vimos reunido, com o sacrifício de Magath e o discurso de Annie concluindo as questões temáticas levantadas, também reforçando o objetivo coletivo dos personagens e sua aliança atrapalhada, com cada membro ganhando seu espaço de destaque para que agora possamos acompanhar o conflito direto contra Eren. Aliás, Mikasa ganha um pouco dos holofotes no episódio, sempre no campo de batalha, como Isayama costumeiramente reduz a co-protagonista. No entanto, além de gostar das encenações de combate da personagem, com, aliás, ótimo uso de sangue e um gore leve para enfatizar os atos obscuros do grupo, também gosto da possibilidade da escolha de matar Eren aparentemente se render às mãos da personagem e sua possível subserviência. Não crio expectativas, mas fico com os dedos cruzados que algo saia disso, considerando a indicação nas palavras de Annie. No mais, Retrospectiva falta aquele “a mais” para entrar no panteão de obras-primas do anime, mas é um grande espetáculo visual, dispondo de uma excelente trama de uma missão contra o tempo para salvar o mundo. Que venha Eren!
Attack on Titan – 4X27: Retrospectiva (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 懐古, Kaiko, Japão, 21 de março de 2022)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Jun Shishido, Yuichiro Hayashi
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco: Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura, Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji, Hiroshi Kamiya, Romi Pak, Kishô Taniyama, Hiro Shimono, Yû Kobayashi
Duração: 24 min.