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Crítica | “Impera” – Ghost

Em seu quinto álbum, Ghost demonstra uma invejável compreensão do apelo pop do metal.

por Handerson Ornelas
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Alguns dias atrás tive uma longa conversa sobre música com Iann e Kevin, colunistas aqui do site, onde entre vários assuntos debatidos, desabafei o quanto minha apreciação pelo gênero hardrock foi abalada ao longo do meu amadurecimento musical. É irônico que no fim desta mesma semana eu estaria ouvindo o novo álbum do Ghost e, agora, escrevendo sobre o mesmo a fim de defendê-lo. Se existem poucas bandas de metal ainda relevantes dentro do mercado da música pop, Ghost certamente é uma delas – trata-se de uma das únicas que ainda recebe atenção da mídia musical especializada e continua discutida entre os fanáticos por música sem se prender ao “nicho” clássico do metaleiro chato.

Vindo na esteira dos dois últimos excelentes discos, a expectativa para Impera era grande entre os fãs. Enquanto Meliora com seus hinos ao estilo doom metal alcançou elogios da crítica que o elevou a títulos como um dos melhores álbuns de metal da década, Prequelle seguiu para um caminho bem mais pop e de reverência ao hardrock dos anos 80. Impera amplifica o caminho seguido por seu antecessor, assumindo as influências do glam rock e heavy metal oitentista com enorme orgulho.

O que me faz ser um hipócrita que reclama de grande parte do hardrock e adora os últimos trabalhos do Ghost ainda é um pouco misterioso para mim, devo admitir. No entanto, é clara a minha percepção de como Ghost se destaca de outras bandas no metal atual. Tobias Forge possui total controle de sua visão criativa e sabe usar isso em sua vantagem, aliado a um conhecimento cultural absurdo, exposto não só no aspecto musical, mas conceitual de suas obras. O novo álbum escancara a breguice do hardrock sem medo, mostrando orgulho do material e estando ciente de seu objetivo como entretenimento de fácil consumo. Essa preocupação e ciência em fazer, no fim do dia, canções facilmente cantaroláveis e emblemáticas os separa de tantos outros grupos tão preocupados em se levar a sério que terminam fazendo o mesmo pastiche musical insípido de sempre. Em suma, Impera prova que Ghost é uma banda que conhece o apelo pop do metal como poucas.

As influências seguem por toda parte: Call Me Little Sunshine relembra absurdamente fases do Metallica, Spillways grita a Van Halen e Kaisarion parece uma homenagem descarada a Iron Maiden e Dio. Se esse saudosismo em referência a ícones do gênero por vezes pode soar derivativo, sempre ganha força pela inserção da marca própria da banda, com suas grandiosas percussões orquestrais, seus corais catedráticos, vocal excelente e produção caprichada. Isso sem contar em toda temática conceitual frequentemente explorada na discografia do grupo, neste disco tomada por metáforas a construção e queda de impérios (e seus paralelos com dias atuais), com sacadas bastante sagazes de dupla interpretação de letras aparentemente românticas.

Impera, mesmo sendo inferior aos últimos trabalhos do Ghost, apresenta uma banda que permanece acertando em cheio em todo seu conceito musical e teatral. Trata-se do álbum que mais evidencia exageros e cafonices de sua fonte de inspiração, sem que isso seja exatamente um demérito. Aqui, parece cada vez mais claro que Tobias satiriza não apenas religião e sistema com seu conceito “satanista”, mas o próprio gênero no qual se encontra – algo que não vai agradar aos fãs da atmosfera mais sombria do grupo – no entanto, será um prato cheio para quem quiser apreciar um metal/hardrock oitentista que entende bem da essência de onde bebe.

Aumenta!: Call Me Little Sunshine
Diminui!: Spillways

Impera
Artista: Ghost
País: Suécia
Lançamento: 11 de março de 2022
Gravadora: Loma Vista
Estilo: Heavy Metal

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