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Crítica | Escuridão da Morte

Slasher metalinguístico flerta com ícones do cinema em narrativa de ritmo irregular.

por Leonardo Campos
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Dentro do segmento slasher, o estabelecimento da metalinguagem não é uma prerrogativa da franquia Pânico, afinal, filmes anteriores também flertaram com personagens apaixonados por filmes e crimes envolvendo referências ao universo de clássicos do cinema. A grande questão é que em sua maioria, todas estas produções apresentaram narrativas cheias de falhas de ritmo e problemas de execução, o que tornou a trajetória de Ghostface merecidamente mais destacada. Tendo Wes Craven na direção e Kevin Williamson na concepção do roteiro, os filmes deste universo sempre foram cuidadosos, preocupados não apenas com a matança e o entretenimento, mas também com a inclusão de personagens relevantes, diálogos inteligentes e críticas sociais contundentes. Craven, por sinal, trabalhou muito bem a metalinguagem no sétimo filme da franquia de Freddy Krueger, com uma aula sobre o filme dentro do filme, espécie de ensaio para o que viria com a obra-prima Pânico, em 1996. Antes, Escuridão da Morte e Popcorn: O Pesadelo Está de Volta, ambos de 1980 e 1993, respectivamente, trouxeram para o slasher o amontoado de referências e a paixão pelo cinema, narrativas interessantes, mas de condução duvidosa.

Aqui, vamos nos voltar para o primeiro, dirigido e escrito pelo criativo Vernon Zimmerman, idealizador da jornada de Eric Binford (Daniel Christopher), um jovem sem carisma, a viver uma existência esvaziada de sentido, fumante inveterado que tem no cinema as projeções das lacunas que preenchem o seu cotidiano frustrado. Ele é o antagonista de Escuridão da Morte, uma figura ficcional que na verdade, é uma grande vítima das pessoas que o atormentam diariamente, seja na rua, em casa ou no trabalho em um armazém de uma grande distribuidora de filmes. Tímido e solitário, o rapaz começará uma louca e desenfreada matança pelos arredores da cidade, ceifando as vidas de todos aqueles que deixam a sua vida ainda mais complicada do que é. O seu diferencial é na execução das mortes: todas inspiradas em cenas clássicas do cinema.

É um espetáculo de referências: A Múmia, Drácula, filmes de Hopalong Cassidy, dentre outros. Para colocar os seus planos em prática e colocar seus oponentes no devido lugar, o jovem emula passagens destes filmes, desde trejeitos dos desempenhos dramáticos dos intérpretes ao uso de elementos estéticos, trazendo as referências não apenas no campo da citação ou do traje, mas também criando a atmosfera cinéfila para execução de seus crimes. Um dos primeiros é contra a Tia Stella (Eve Brent Ashe), mulher cadeirante que o atormenta psicologicamente e o faz se sentir um fiasco. Descobriremos, mais adiante, que a figura é na verdade a sua mãe, algo que torna ainda pior as suas ações contra o moço. Um homem que roubou a sua ideia para um roteiro instigante de cinema acaba morrendo na barbearia no melhor estilo Cody Jarret, numa cena icônica e muito divertida, um dos momentos interessantes da direção de Zimmerman.

A sua grande paixão é Marilyn O’Connor (Linda Kerridge), jovem loira idêntica ao mito Monroe, a aparecer constantemente em suas ilusões, mas que na verdade, é parte de seu cotidiano e paixão platônica que nunca se consome. Ela lhe permite uma cena também interessante, referência ao famoso banho no chuveiro de Psicose, mas sem a faca e o crime, apenas na perspectiva voyeurista do rapaz apaixonado. O mesmo já não posso dizer da prostituta que o trata inadequadamente e acaba aniquilada numa atmosfera que resgata um dos monstros clássicos da Universal, Drácula, outra passagem também interessante.

Em sua cola está o investigador Dr. Jerry Moriarty (Tim Thomerson), psicólogo criminal que busca compreender esta série de crimes e encontra a relação com o jovem Eric. Nesta jornada de mortes e caça ao assassino, acompanhamos a narrativa que introduz a trilha sonora de Craig Safan, textura percussiva que se esforça, mas não consegue imprimir força ao filme, narrativa que peca por seu ritmo moroso. As coisas demoram a acontecer e a sensação que temos é de tédio em alguns trechos arrastados demais. Falta emoção, mesmo que a metalinguagem torne a experiência cinéfila interessante e com momentos inteligentes. Alex Phillips, na direção de fotografia, cria movimentos e expõe algumas passagens com ótimos enquadramentos, mas isso também não resolve a principal falha da trama, o ritmo, prejudicado pela falta de edição em pedaços que poderiam ficar de fora sem danificação dramática ao conteúdo geral. A experiência é historicamente válida, mas como entretenimento, deixa bastante a desejar. Escuridão da Morte traz Peter Horton e Mickey Rourke em uma de suas primeiras incursões no cinema. Novelizada, a produção foi recentemente lançada no Brasil, uma pérola do slasher dos anos 1980, um ano tão farto de narrativas quanto o rentável feixe da Safra de 1981.

Escuridão da Morte (Fade to Black/Estados Unidos– 1980)
Direção: Vernon Zimmerman
Roteiro: Vernon Zimmerman
Elenco: Dennis Christopher, Tim Thomerson, Gwynne Gilford,Norman Burton, Linda Kerridge, Morgan Paull
Duração: 102 min.

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