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Crítica | Sem Saída (2022)

A maldade de estranhos.

por Ritter Fan
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Sem Saída não traz novidade alguma. Nenhuma mesmo. Trata-se de mais outro filme que coloca algumas pessoas presas em um espaço confinado, com um mistério potencialmente envolvendo uma ou mais delas. Em termos estruturais, a obra de Damien Power, em seu segundo longa-metragem, aliás, lembra Os Oito Odiados, uma das obras-primas de Quentin Tarantino, com um grupo heterogêneo confinado em um centro de visitas de um parque à beira de uma estrada em razão de uma violenta nevasca. O gatilho narrativo é sem dúvida interessante, pois a protagonista, Darby Thorne (Havana Rose Liu), que foge de uma clínica de desintoxicação para visitar sua mãe no hospital, descobre, não muito depois de ser forçada a parar por ali, que há uma menina amarrada e amordaçada em um furgão parado no estacionamento do local, iniciando um whodunit rápido, básico e despretensioso.

Em meio aos tropos do subgênero, é alvissareiro notar que Power consegue manejar a câmera de maneira a realmente construir uma panelinha de tensão que ele mantém aquecida por tempo maior do que eu estava esperando, sendo sincero. Liu, por sua vez, convence em seu papel que é parte desespero, parte frieza e parte instinto, com sua interação com os demais quatro personagens (sem contar com a menina sequestrada) convencendo por todo o momento. Claro que ajuda muito ter Dennis Haysbert e Dale Dickey no elenco, emprestando um pouco de veteranice à história e, claro, rostos mais conhecidos e “sábios”.

A atmosfera espartana e claustrofóbica que a produção de baixo orçamento consegue criar é uma faca de dois gumes. Por um lado, a desolação gerada pela ambientação extremamente simples do centro de visitantes com uma parte em obras ainda por cima, consegue dar conta do recado que a narrativa exige. Por outro lado, porém, o longa deixa evidente aquela impressão de estarmos vendo uma obra amadora feita no quintal da avó do diretor. Mas isso faz parte até do realismo que Power tenta imprimir ao menos no primeiro terço da narrativa, antes da já mencionada panela fazer com que seu conteúdo comece a ferver, o que não demora a acontecer. É que, a partir do momento em que a ação entra em uma espiral de surpresas e reviravoltas que só são surpresas e reviravoltas para quem estiver começando sua vida de cinéfilo hoje, o roteiro começa a mergulhar de vez em clichês sem tentar sequer por uma vez colocar a cabeça de fora para respirar um ar renovado.

Além disso, Power usa uma sequência de jogatina entre os personagens que acaba sendo talvez central demais no longa e, como ela é constrangedora de ruim e vem logo cedo, cria uma má vontade por quem espera que pelo menos a dupla de roteiristas não faça isso. O ponto a que quero chegar é que esse “carteado” no centro geográfico do cenário tem como objetivo didatizar as caracterizações de cada um ali. No lugar deixar tudo fluir naturalmente, de no mínimo lidar com nomes, lugares de nascimento e um pouquinho da vida pregressa – seja verdade ou não – de cada um ali de forma minimamente elegante e natural, o texto se vale de uma estrutura besta e preguiçosa de perguntas e respostas que chega a dar vontade de rir. Não há nenhum personagem complexo demais a ponto de a história exigir malabarismos para informar o que precisa ser informado deles, mas daí a entulhar o diálogo de perguntas banais e respostas mais banais ainda só para que o espectador saiba exatamente o que deve ou não prestar atenção é como colocar setas apontando cada um dos verdadeiros papeis dos presentes.

Sem Saída, porém, funciona no seu pouquinho de tensão, na sua resolução sanguinolenta e na impressão de que seus 95 minutos não foram uma completa perda de tempo. Sem dúvida o longa faz parte daquela categoria que eu particularmente detesto do “é divertidinho, passa o tempo” e sem dúvida ele tinha potencial para ser muito mais, o que duplica a frustração de quem esperava pelo menos um verniz mais sofisticado, mas, por outro lado – e isso é relevante nos dias de hoje em que a oferta foi multiplicada exponencialmente pelos serviços de streaming – ele poderia ser MUITO pior. Só de o filme conseguir segurar suas pontas com o que Power tinha para trabalhar, ele já merece um selo de “ordinário, mas não idiota”. Melhor do que o contrário, eu acho…

Sem Saída (No Exit – EUA, 25 de fevereiro de 2022)
Direção: Damien Power
Roteiro: Andrew Barrer, Gabriel Ferrari (baseado em romance de Taylor Adams)
Elenco: Havana Rose Liu, Danny Ramirez, David Rysdahl, Dale Dickey, Mila Harris, Dennis Haysbert, Benedict Wall, Lisa Zhang, Hweiling Ow
Duração: 95 min.

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