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Crítica | Lucky Luke – Vol.2: Rodeio

Entre inimigos e brincadeiras.

por Luiz Santiago
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Rodeio é o segundo álbum original de compilação das histórias de Lucky Luke, o hilário personagem de Morris criado no ano de 1946. Publicado pela editora Dupuis em 1951, o presente volume conta com três aventuras curtas do personagem: Rodeio (1948), Lucky Luke em Desperado-City (1948 – 1949) e A Corrida do Ouro de Buffalo Creek (1949), todas elas escritas e desenhadas por Morris. Todas também apareceram pela primeira vez na revista Spirou.

O álbum anterior a este foi A Mina de Ouro de Dick Digger, originalmente publicado em 1949. O álbum posterior será Arizona, originalmente publicado em 1951, assim como o presente Rodeio. Você já leu essas histórias? Gostou delas? Conhece esse famoso personagem dos quadrinhos fraco-belga, com uma abordagem divertida para o Velho Oeste? Deixe o seu comentário! 

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Rodeio

Originalmente publicada na revista Spirou entre 27 de maio e 23 de setembro de 1948, Rodeio mostra Lucky Luke chegando a Navajo City, lugar onde está ocorrendo um rodeio cujo prêmio é bastante alto e igualmente disputado. É a típica história do personagem, que sempre chega a um lugar para descansar ou simplesmente por acaso e já se depara com um problema grande para resolver (padrão igualmente visto nas aventuras do álbum anterior: A Mina de Ouro de Dick Digger e O Sósia de Lucky Luke). Desta vez, esse problema tem nome e atende por Cactus Kid, alguém já bastante conhecido dos habitantes da cidade e que aterroriza o local (encontramos isso também na trama seguinte, Lucky Luke em Desperado-City). Começa então uma disputa entre Luke e Cactus, inicialmente numa briga de punhos e depois nas várias provas propostas pela equipe de organização do grande rodeio.

Desde a página inicial o público vê como Morris procurava inserir o humor nos mínimos detalhes, e o quadro maior dessa página de abertura que coloquei acima mostra isso. A perspectiva já é algo bastante chamativo (o artista gostava muito de desenhar espaços com esse tipo de ângulo, especialmente para dar contexto espacial e social, no início de cada aventura) e se a gente prestar atenção, já começamos a dar risada das ações de diferentes personagens exibidos no quadro. Já o texto tem uma charmosa simplicidade e investe na disputa entre Luke e Cactus, com o vilão tentando boicotar ou vencer de todas as formas possíveis, mas sempre levando a pior, como já era de se esperar. 

Lucky Luke: Rodéo / Grand Rodéo (França, Bélgica, 1948)
Publicação original: Le Journal de Spirou #528 e 545
Encadernado original: Dupuis (Álbuns: Rodeio, 1951)
Roteiro: Morris
Arte: Morris
25 páginas

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Lucky Luke em Desperado-City

Essa história apareceu nas páginas da Spirou entre 30 de setembro de 1948 e 17 de fevereiro de 1949, e se constituiu em uma narrativa de grande mudança de um lugar após a chegada de Lucky Luke. Aqui vemos ‘o cowboy que atira mais rápido que a própria sombra‘ entrar em Desperado City, uma cidade governada por bandidos de todos os tipos, com destaque para os irmãos Pistol. Acho bem interessante o fato de a literatura, os quadrinhos e o cinema de faroeste pegarem os muitos exemplos de irmãos (ou outros conjuntos familiares) que se tornaram famosos no Oeste histórico por aderirem ao crime. Na própria série Lucky Luke a gente tem a recorrente presença dos irmãos Dalton, então é uma abordagem muito cara ao gênero e, como vemos, também a Morris.

Logo na entrada da cidade os desenhos nos dão uma dica importante. Quando eu bati o olho no dono da funerária já achei estranho o fato de ele ter toda a pompa e grandeza de um banqueiro, mas deixei essa impressão de lado. Depois, pude constatar que, de fato, era uma indicação de que o tal agente estava bancando as atividades criminosas em Desperado e lucrando muito com isso. Os Pistol imediatamente confrontam Luke e uma inimizade se forma entre eles (vimos algo parecido em Rodeio). A partir da primeira troca de socos, a dupla passará a perseguir Luke, que se dispõe a levar o dinheiro dos mineradores para um outro local e isso abre as portas para um ataque planejado pelos bandidos.

A sequência da diligência atacada é bem engraçada e prepara o caminho para o clímax da obra, na praça de uma cidade. O autor deixa Luke ser capturado de maneira desonesta e cria uma grande tensão no leitor, que fica esperando algo acontecer ali no meio do enforcamento. A cena também mostra o nível de desumanidade com que os Pistol e o dono da funerária estavam guiando as coisas na cidade, condenando ou enforcando pessoas inocentes sob uma aparência de ação legal (um problema social/institucional que existe em nossa sociedade até hoje: a justiça corrompida ou distorcida). O final da trama traz uma merecida mudança para a cidade, que muda de nome para Justice City. Dessa vez, a presença de Lucky Luke realmente revolucionou um lugar!

Lucky Luke à Desperado-City (França, Bélgica, 1949)
Publicação original: Le Journal de Spirou #546 e 566
Encadernado original: Dupuis (Álbuns: Rodeio, 1951)
Roteiro: Morris
Arte: Morris
20 páginas

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A Corrida do Ouro de Buffalo Creek

Entre 24 de fevereiro e 23 de junho, Morris publicou A Corrida do Ouro de Buffalo Creek nas páginas da Spirou, desta vez abordando um dos temas mais interessantes quando falamos do Velho Oeste: as corridas do ouro. E tudo começa como uma grande brincadeira. Lucky Luke prega uma peça em um velho garimpeiro chamado Joe, que realmente acredita ter encontrado ouro. Luke tenta dizer ao garimpeiro (e depois à toda a cidade) que tudo era uma piada, que a pepita que Joe encontrou em seu tacho tinha pertencido ao avô de Lucky Luke, que a colocou lá só para brincar com o minerador dorminhoco. Mas o velho não quer ouvir. A notícia, então, se espalha, e Buffalo Creek vira o novo centro de atenção das pessoas desesperadas para mudar de vida. Ações são vendidas nos bancos, uma estrada de ferro é construída às pressas e uma cidade surge da noite para o dia.

Morris trabalha a ideia de uma corrida do ouro com bastante humor, mas não se furta em falar dos seus aspectos negativos, do fato de que nem sempre esses alarmas de “novo Eldorado” eram verdade, do fato de que haviam ladrões de lotes, de que as pessoas às vezes vendiam tudo para correr atrás de um sonho sem nenhuma prova de que poderia realmente ter par na realidade. Tudo é abordado com muito bom humor e os desenhos do artista tornam a correria ainda melhor. Aquelas cenas em plongée que eu citei em Rodeio são vistas aqui em quadros maravilhosos, com dezenas de ações acontecendo ao mesmo tempo. É um ponto muito forte dos desenhos de Morris e que tem a capacidade de contextualizar e ampliar ainda mais o humor de uma determinada passagem.

O texto cita algumas vezes a corrida do ouro na Califórnia (1848 – 1855) e toda a estrutura narrativa lembra esse momento, com o desespero do povo e as consequências de uma migração tão intensa para um determinado território num curto espaço de tempo. A cidade fantasma, as falências e os suicídios são dados históricos que o autor traz para mostrar, em outra perspectiva, o que uma brincadeira acabou gerando. A Corrida do Ouro de Buffalo Creek é uma história hilária que dialoga com o sonho de enriquecimento de milhares de pessoas e termina com uma nota de “justiça poética” do Universo em relação ao velho Joe. Ou será que o que ele encontrou no lote de terra não é o que parecia ser?

La Ruée vers l’or de Buffalo Creek (França, Bélgica, 1949)
Publicação original: Le Journal de Spirou #567 e 584
Encadernado original: Dupuis (Álbuns: Rodeio, 1951)
Roteiro: Morris
Arte: Morris
20 páginas

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