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Crítica | O Verão e a Cidade, de Candace Bushnell

Os primeiros momentos novaiorquinos de Carrie Bradshaw.

por Leonardo Campos
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A primeira bota estilosa e o primeiro vestido sofisticado e de marca Carrie Bradshaw provavelmente nunca esqueceu. Os beijos iniciais, a preambular vida sexual e as amizades que chegaram e ficaram para toda vida, bem como aquelas que não duraram por muito tempo, também são experiências que ficam marcadas. Foi com este direcionamento que Candace Bushnell, a irregular cronista de dramas femininos novaiorquinos, escreveu O Verão e a Cidade, continuação do divertido Os Diários de Carrie, romance da fase juvenil da personagem icônica do programa televisivo Sex and The City, fenômeno de proporções mundiais que durou seis temporadas, dois filmes e agora retornou com uma análise panorâmica da vida de Carrie e suas amigas Miranda e Charlotte (desta vez, sem Samantha), na vida após os 50 anos. Dinâmico, apesar das volumosas e desnecessárias 412 páginas, o livro é uma “refrescante” jornada pelas primeiras situações que marcaram o perfil de Mrs. Bradshaw, uma amante da moda e do consumo, especialista na observação e reflexão sobre relacionamentos na contemporaneidade.

Quando digo refrescante, caro leitor, me refiro ao tom adocicado e pueril dos desdobramentos da vida adolescente de Carrie, uma garota interiorana, na metrópole agitada que é Nova Iorque, um território de aprendizagens, envolto em obstáculos que a colocam, cotidianamente, a se questionar sobre as suas escolhas e, concomitantemente, a permanência no caminho pavimentado até então. Aspirante no que concerne o mundo da escrita, ela carrega as primeiras incursões no jornal da escola para a cidade grande, matriculando-se num curso de escrita criativa. Seu professor, misógino e preconceituoso, duvida constantemente de sua capacidade, mas mesmo com as inseguranças, ela não desiste e mantém-se na linha, culminando com o convite para escrever sobre as impressões de uma jovem mulher num jornal badalado da cidade, no último capítulo do livro, quando conhece Charlotte numa viagem de trem. Antes disso, lá pela primeira metade, tem a oportunidade de conhecer outra figura icônica do universo, Miranda, jovem de postura feminista e diálogos afiados, como a versão adulta na série televisiva.

No final do romance anterior, após o susto e o assalto, Carrie conhece Samantha Jones, a descolada Relações Públicas que lhe oferece uma oportunidade. É o começo de uma grande amizade. Ademais, além das relações que formariam o quarteto posteriormente conhecido e solidificado na ficção audiovisual, é aqui que a jovem toma os seus primeiros táxis, frequenta as badaladas festas com celebridades, testemunha a indecisão sobre abortos alheios, cria antipatia por alguém que depois se tornará o seu “parceiro de cama”, bem como apaixona-se perdidamente para ficar mergulhada dentro de um manancial de neuroses, semelhante ao que acontece em diversos momentos das temporadas da série exibidas entre 1998 e 2004. A relação com o seu pai está aparentemente melhor, principalmente agora que ele assumiu uma nova postura comportamental com uma moto, casacos juvenis e uma namorada, demonstração das questões de luto devidamente resolvidas, pois como sabemos, a mãe de Carrie é um personagem apenas das memórias, já falecida desde a história anterior.

Lançado pela Galera Record, O Verão e a Cidade é uma história divertida, até envolvente, mas não poderia ter metade de seu volume maior que 400 páginas? Há descrições excessivas de cenários e personagens, diálogos que não acrescentam muita coisa, em suma, um alargamento narrativo desnecessário, algo que quase me fez desistir da leitura por achar que o tempo disponibilizado para a história seria melhor aplicado em coisas mais substanciais. Não é que os assuntos do romance não tenham valor, mas a falta de conteúdo para esticar enredos, em muitos casos, torna a relação do leitor com o livro bastante enfadonha. Aqui, temos isso, praticamente o tempo todo. 200 páginas resolveriam tranquilamente tudo, mas enfim, é o que temos, não é mesmo? Ah, Bernard é o grande amor de Carrie por aqui. Ele pode ser comparado, salvaguardadas as devidas proporções, ao posicionamento tóxico e um tanto manipulador de Mr. Big, um ensaio para o que seria a vida amorosa da protagonista na vida adulta. Ela também não é nada sutil, cheia de dramas e as já mencionadas neuroses, que convenhamos, pedem muita paciência de alguém dentro de um relacionamento. Em linhas gerais, uma prévia de Sex and The City, a série, pois a história se conecta mais com o programa, distanciada do livro de crônicas que influenciou Darren Star na criação da versão televisiva deste universo.

O Verão e a Cidade (Summer and The City/Estados Unidos, 2010)
Autor: Candace Bushnell
Tradução: Alda Lima
Editora no Brasil: Galera Record
Páginas: 412

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