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Crítica | Os Diários de Carrie, de Candace Bushnell

As origens de Carrie Bradshaw, a icônica protagonista de Sex and The City.

por Leonardo Campos
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Antes do sexo. Antes da cidade. Apenas Carrie. Bradshaw, personagem eternizada pela série de seis temporadas exibidas na HBO entre 1998 e 2004, além dos dois filmes irregulares e do atual revival And Just Like That, em sua primeira temporada, exibida desde o começo de dezembro de 2021, retomada prodigiosa de um dos melhores programas de comédia das últimas décadas, entretenimento com altas doses de reflexão sobre relacionamentos e presença feminina na contemporaneidade. Ao longo das extensas 399 páginas do romance que narra as origens da protagonista de Sex and The City, a escritora Candace Bushnell cria uma narrativa atraente e leve sobre a trajetória da icônica personagem, material que apesar de ser classificado como mais voltado ao público juvenil, consegue ser muito melhor que o teor adulto do livro que nomeia este universo, adaptação fragmentada e pouco atrativa das crônicas publicadas semanalmente pela escritora no The New York Observer, durante os anos 1990. Como todo material de universo expandido, Os Diários de Carrie é um livro que nos presenteia com a trajetória de tal figura ficcional ainda garota, com seus sonhos, ideias, desejos e interesse constante por moda.

O romance a retrata ainda numa cidade interiorana. É o último ano do colegial e os clichês desta geração pululam por todos os capítulos da obra. Há a paixão por Sebastian Kydd, o James Dean da escola, garoto de bom coração, mas envolto em problemas familiares e rebeldia que o mantém desconectado com a devida caminhada escolar. Temos a moça popular do local, Donna LaDonna, atrevida em seus trajes e dona de um comportamento agressivo com as demais jovens da escola, haja vista o seu posto privilegiado: desejada, temida e com vários jovens homens aos seus pés. No grupo dos amigos, temos a confusa Maggie, também envolta em crises familiares, o divertido e carismático Walt e a competitiva Lali. São estes personagens que criam a dinâmica da amizade que permite suportar a existência numa escola cheia de regras e hierarquias, tal como o clássico e charmoso Meninas Malvadas. Pode parecer bobo, e é, mas não é uma leitura banal, desprovida de inteligência e tiradas assertivas, estabelecendo-se como um bom diletantismo.

Carrie Bradshaw ainda não descobriu as dores e delícias novaiorquinas, mas aqui já experimenta alguns percalços que nos remetem as suas histórias adultas. Situada num ambiente onde precisa lidar com fofocas, bullying, pressões de todos os lados, desde o pai aos professores, não é de se estranhar que a garota apresente as suas habituais neuroses, oriundas de alguns momentos configurados com muita insegurança. Ela deseja ser escritora, até participa das atividades do jornal de sua escola, mas uma escritora renomada vai deixa-la um pouco descrente de seu potencial, sensação que se atenua em casa, com o seu pai, um homem que a desencoraja cotidianamente, pois tem como sonho, ver a sua filha formada academicamente. Com a morte de sua mãe, Carrie tornou-se uma referência em casa, sendo a escolhida para realização de atividades que pedem mais responsabilidade. As coisas ficam ainda mais tensas por causa de suas irmãs, Missy e Dorrit, esta última, rebelde e inconstante, uma “pedra no sapato”.

Narrado em primeira pessoa, Os Diários de Carrie trazem para o leitor os questionamentos habituais de jovens desta faixa etária: as inseguranças em relação ao primeiro momento sexual, isto é, a perda da virgindade, a sedução das drogas e do álcool, as ansiedades de alguém que admira Paris, tem fascinação por Nova Iorque, dentre outros conflitos e situações típicas de uma protagonista em seus 17 anos. Lançado no Brasil pela Editora Record, em 2010, a publicação traduzida por Maria João da Rocha Afonso traz uma emblemática capa dourada, criada pela designer Neusa Dias, suporte que embala as aventuras de uma das personagens femininas mais famosas da ficção de teor feminino na atualidade. A saga termina com a chegada de uma figura importantíssima do universo adulto de Sex and The City, empolgando o leitor que busca na continuação, O Verão e a Cidade, o mesmo teor da comum caminhada de Carrie Bradshaw em sua juventude, anos antes de se aventurar pela Quinta Avenida, fazer compras e coleção dos sofisticados saltos da grife Manolo Blahnik, dentre outras peripécias deste universo que flerta com relacionamentos, trajetórias profissionais, descobertas sexuais, moda e imagem, consumo, dentre outros tópicos temáticos.

Os Diários de Carrie (The Carrie Diaries/Estados Unidos, 2010)
Autor: Candace Bushnell
Tradução: Maria João da Rocha Afonso
Editora no Brasil: Galera Record
Páginas: 399

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