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Crítica | A Pequena Loja dos Horrores

Um musical enraizado na cultura pop.

por Ritter Fan
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Nem mesmo o grande Roger Corman imaginou que seu clássico filme B de 1960 A Loja de Horrores angariaria o status de cult nas décadas que se seguiram ao ponto de, em 1982, ganhar uma versão musical off-Broadway escrita por ninguém menos do que Howard Ashman, com composições de Alan Menken, dois nomes mais conhecidos, hoje em dia, em conexão ao império Disney de entretenimento. E é essa versão teatral do longa que, quatro anos depois, migrou para o audiovisual, com roteiro do próprio Ashman e direção de Frank Oz, um dos maiores marionetistas americanos conhecido por seu trabalho com os Muppets e, também, com Yoda, em O Império Contra-Ataca.

Apesar de o longa de 1960 ser inegavelmente original e repleto de personagens inesquecíveis, incluindo, claro, a planta carnívora Audrey Jr., o musical 1982 deu outra vida à obra, vida essa naturalmente restrita a um número comparativamente pequeno de pessoas que tiveram oportunidade de assistir a uma de suas montagens. O filme que veio quatro anos depois finalmente levou Audrey Jr., agora rebatizada de Audrey II, para o conhecimento de uma nova geração, com Oz comandando não só um elenco estelar formado por Rick Moranis como o atrapalhado Seymour Krelborn, empregado da floricultura do ganancioso Sr. Mushnik (Vincent Gardenia) e apaixonado por Audrey (Ellen Greene repetindo seu papel da produção teatral original), que se torna uma grande estrela da noite para o dia para quando leva sua estranha planta para a vitrine da loja, como também um maravilhoso grupo de marionetistas que controlaram as diversas versões animatrônicas de Audrey II.

Se Moranis, Gardenia e Greene são os indiscutíveis destaques humanos ao lado do convidado especial Steve Martin como o dentista sádico Orin Scrivello e namorado abusivo de Audrey e das pontas de Bill Murray como Arthur Denton, um masoquista que vai se tratar com Orin, John Candy como o radialista Wink Wilkinson que entrevista Seymour e Jim Belushi como o executivo de marketing Patrick Martin que faz uma oferta comercial ao jovem floricultor, Audrey II é inegavelmente o grande centro das atenções por ser um feito técnico de fazer o queixo cair quando lembramos que não há uso algum de CGI para dar vida a uma obviamente caricata, mas completamente convincente planta carnívora que cresce enormemente na medida em que é alimentada por sangue humano.

Ver as várias versões de Audrey II, primeiro na diminuta lata onde Seymour a cultiva até o monstro gigante do final, é um deleite audiovisual e uma maravilha para qualquer um que apreciar efeitos práticos. Da movimentação das folhas ao movimentos dos lábios com voz sincronizada de Levi Stubbs, do The Four Topps, o trabalho técnico é tão perfeito que chega a levantar dúvidas sobre como isso pode ter sido feito em 1986. Mas Oz trouxe Lyle Conway e a equipe de peso de Labirinto – A Magia do Tempo, do saudoso Jim Henson, para trabalhar nas soluções mágicas que tornaram Audrey II possível, o que incluiu não só versões animatrônicas, como o uso de marionetes clássicas e, para a realista boca do monstro, uma combinação de animatrônico com filmagem com frame rate reduzido para reprodução em velocidade normal, criando a ilusão de ótica necessária para dar fluidez aos movimentos.

Mas o grande trunfo de A Pequena Loja dos Horrores é a qualidade das canções compostas por Menken que estabelecem à perfeição o ambiente empobrecido em que a ação se passa e as mazelas de seus personagens, além de pontuar as críticas sociais que abordam desigualdade econômica, relacionamentos abusivos e ganância e ambição desmedidas, mas sem nunca perder de vista o ritmo e o vigor que uma peça com essa premissa precisava para funcionar. E Oz, sabedor do valor do que tinha em mãos, manteve todas as músicas que pode e também a estrutura de coro grego com três mulheres negras (as excelentes Tichina Arnold, Michelle Weeks e Tisha Campbell como, respectivamente, Crystal, Ronette e Chiffon) que comentam e cantam cenas, algo que, anos mais tarde, seria “copiado” pela Disney em Hércules. Claro que ajuda muito que Moranis e Martin não fazem nada feio nos momentos solo que têm, com Greene e sua Audrey e Stubbs e seu Audrey II sendo realmente fora de série em suas canções.

Mesmo com um final que teve que ser radicalmente alterado, podado e refilmado para agradar o estúdio e a audiência-teste que reagiu mal ao final original (mais sobre ele em crítica futura), o que sem dúvida retira um pouco da força do longa, A Pequena Loja de Horrores é um sensacional triunfo audiovisual que reúne o que de melhor a fusão de Hollywood com a Broadway tem a oferecer: elenco irretocável, apuro técnico de embasbacar e canções inesquecíveis do começo ao fim. A pequena, mas cultuada criação de Roger Corman cresceu e desabrochou no longa de Oz que, décadas depois, ainda fascina e assombra como fascinou e assombrou em 1986.

A Pequena Loja dos Horrores (Little Shop of Horrors – EUA, 1986)
Direção: Frank Oz
Roteiro: Howard Ashman (baseado em musical de Howard Ashman e Alan Menke, por sua vez baseado em filme de Roger Corman e Charles B. Griffith)
Elenco: Rick Moranis, Ellen Greene, Vincent Gardenia, Steve Martin, Levi Stubbs, Tichina Arnold, Michelle Weeks, Tisha Campbell, Jim Belushi, John Candy, Christopher Guest, Bill Murray, Miriam Margolyes, Stanley Jones
Marionetistas: Anthony Asbury, Brian Henson, Mak Wilson, Robert Tygner, Sue Dacre, David Barclay, Marcus Clarke, Paul Springer, David Greenaway, Toby Philpott, Michael Bayliss, Michael Barclay, Don Austen, Chris Leith, William Todd-Jones, Terry Lee, Ian Tregonning, John Alexander, Michael Quinn, James Barton, Graham Fletcher
Duração: 94 min.

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