Finalmente chegamos aos últimos dias de 2021! O tempo voou né? E durante esse ano, o que mais tiveram foram lançamentos dos mais diversos dentro do cenário da música nacional. E como é de praxe todo fim de ano, é hora das famosas listas de melhores do ano aqui no Plano Crítico. Assim, seguindo nossa tradição, como fazemos desde 2015, listamos aqui os melhores álbuns nacionais de 2021. Vale lembrar que não há ranking ou ordem de preferência na lista, apenas o objetivo de listar e recomendar o que consideramos os 15 discos brasileiros de maior destaque nesse ano. É inacreditável que, mesmo com o impacto da pandemia, este é um ano que vai se eternizar como um dos melhores da nova música brasileira. Existem inúmeros registros musicais que mereciam lugar nessa lista e que foi uma verdadeira tortura deixar de fora, mas nosso rigor técnico fez com que nos restringíssemos ao formato clássico de nossa lista de 15 melhores. Confira, logo abaixo, os melhores álbuns de 2021 segundo o Plano Crítico e aproveitem pra compartilhar conosco suas opiniões nos comentários!
Nordeste Ficção – Juliana Linhares
Handerson Ornelas: Juliana Linhares é uma das inúmeras grandes revelações nacionais de 2021. A cantora potiguar construiu um álbum brilhante, com arranjos que se apoiam em gigantes da música nacional, como Chico Science, Zé Ramalho, Zeca Baleiro, entre muitos outros. É um belíssimo tributo à música nordestina, se apoiando em um alicerce lírico afinadíssimo que constrói a imagem do nordeste como um mundo de fantasia densa, complexa e admirável. Juliana é uma intérprete que consegue inspirar, amedrontar e apaixonar com sua voz intensa. A faixa título é provavelmente a experiência mais avassaladora que tive com uma música brasileira em 2021. Eu vou te poupar de longas descrições e dizer apenas que deveria figurar no panteão de maiores hinos da cultura nordestina. Se não ouviu, vá ouvir imediatamente.
Gêneros: MPB
Aumenta!: Nordeste Ficção
OXEAXEEXU – BaianaSystem
Handerson Ornelas: A melhor banda do Brasil segue em sua jornada de navegação. Em um ano onde em sua maior parte os shows se mantiveram extintos devido a pandemia, o BaianaSystem levou a sua energia para a casa de cada um através de um álbum de 1h, que se dividiu em lançamentos em 3 atos de excelentes EPs. Como o próprio frontman do grupo, Russo Passapusso, disse, é um álbum fruto da pandemia e feito com todo esse contexto em mente, funcionando como uma ode à experiência musical coletiva, algo que somente quem já presenciou um show do grupo sabe a experiência transcendental que pode ser. Afinal, como a própria banda canta, a vida é curta para viver depois… OXEAXEEXU é uma obra que homenageia essa “américa do sol”, possuindo o espírito latino no cerne de seu coração, sabendo balancear entre uma música que celebra, mas também conscientiza.
Gêneros: Axé, música latina
Aumenta!: Corneteiro
Te Amo Lá Fora – Duda Beat
Handerson Ornelas: Duda Beat é facilmente uma das maiores revelações da música brasileira nesses últimos anos. Depois do brilhantismo de Sinto Muito meu receio era enorme para com o segundo álbum. Se Te Amo Lá Fora não supera seu antecessor – pretensão tamanha que eu nem esperava – posso dizer tranquilamente que mantém a cantora na vanguarda criativa da da música pop nacional. Um turbilhão de referências da música pop, indie e brega reunidas em um casamento musical maravilhoso e apaixonante.
Matheus Camargo: Te Amo Lá Fora é o álbum nacional definitivo de 2021. Com uma produção de alta qualidade que mistura elementos regionais com o synthpop sofisticado, momentos na beira do experimental e a sofrência clássica de sua música, Duda Beat eleva o nível da música pop brasileira não só através de sons, mas da estética, a parte visual tão bem trabalhada quanto suas faixas criam um conjunto fenomenal que dá atmosfera a tudo que é cantado, dançado e chorado. Mais que um disco, é uma era coesa, brilhante e cheia de identidade.
Gêneros: Synthpop, Pop, Brega
Aumenta!: Meu Coração
Holoceno – Papangu
Handerson Ornelas: Viver de música no Brasil por si só já é uma condição ingrata, viver de música fazendo um som oriundo do METAL é uma condição que eu não consigo nem definir o nível de desvalorização. Ainda bem que vivemos já em tempos de globalização, assim as chances de pérolas como essa da banda Papangu serem devidamente elogiadas são bem maiores. O disco de estreia do grupo paraibano está entre os álbuns de metal de 2021 mais comentados no mundo, já figurando em diferentes listas de melhores do ano. É visceral, intenso e, acima de tudo, é música pesada que exala Brasil. Seja nas letras de protesto, de cunho ambientalista, ou nos arranjos pra lá de progressivos com percussões típicas da música nordestina, tudo aqui exala a cultura nacional. É o Roots de seu próprio tempo, sendo feito com uma garra de apaixonados por música acima de tudo. É um milagre que um álbum desses exista na atual condição do país.
Gêneros: Sludge metal, metal progressivo
Aumenta!: Bacia das Almas
Nebulosa Baby – Giovani Cidreira
Handerson Ornelas: Eu detesto fazer esse tipo de comparativo, mas sou obrigado a dizer que Giovani Cidreira é nosso Frank Ocean nacional. Com certeza Frank é uma influência do artista, mas eu realmente lamento traçar esse paralelo e somente o faço pois é a única forma que consigo dimensionar o nível de criatividade e sensibilidade incorporadas por Giovani em sua música, fazendo um som que é mergulhado nas ansiedades do jovem do mundo moderno. Mas não há razão alguma para que o compositor baiano se mantenha nas sombras de suas referências: trata-se de um dos músicos mais autorais e impressionantes dessa geração da MPB. Nebulosa Baby reitera seu enorme talento para construir as aflições da vida moderna.
Gêneros: MPB, Indie pop
Aumenta!: Claridades
De Primeira – Marina Sena
Matheus Camargo: O primeiro álbum solo de Marina Sena é uma festa entre liberdade e sensualidade, uma eterna brisa de verão, batidas tropicais e muita dança sem outra pretensão além de celebrar a confiança, o pertencer. É um álbum brasileiro. Do Brasil que existe por baixo de tudo que jogaram em cima, que tentaram apagar. Essa felicidade é refrescante e necessária para florescer novamente tempos de esperança, tempos de pluralidade, que aqui, mesmo quando desaceleram, expressam cor, detalhe, luz.
Handerson Ornelas: Marina Sena parece alguma entidade nesse ano de 2021, tamanha sua popularidade e movimento na música brasileira. Aquela que veio para unir todas as tribos (tal como o “Norvana”): em De Primeira vemos o indie, o pop e a MPB se encontrarem e o resultado é uma das maiores artistas do ano e um excelente álbum de estreia.
Gêneros: Pop, MPB, R&B
Aumenta! Voltei Pra Mim
Dolores Dala Guardião do Alívio – Rico Dalasam
Handerson Ornelas: Talvez eu esteja trapaceando aqui, mas é impossível eu deixar de fora essa maravilhosa obra de Rico Dalasam. Se ano passado Dolores Dala Guardião do Alívio figurou em nossa lista de melhores álbuns nacionais mesmo sendo um EP de apenas 12min, agora o rapper amplia seu álbum para um lançamento mais robusto, agora cobrindo quase meia hora de músicas. Se faixas como Braille e Mudou Como? já haviam se tornado verdadeiros hinos do pop brasileiro, agora temos pérolas como Expresso Sudamericah e Estrangeiro para complementar esse brilhante catálogo de canções de Rico que contemplam os mais diferentes sentimentos que um relacionamento pode proporcionar.
Gêneros: Hip-Hop, Pop
Aumenta!: Expresso Sudamericah
Delta Estácio Blues – Juçara Marçal
Handerson Ornelas: Juçara Marçal já alçou ao status de realeza da música nacional, tamanho o peso que cada um de seus trabalhos carrega. No entanto, é uma daquelas artistas geniais que acabam sendo reconhecidas de verdade apenas no nicho de nerds e especialistas musicais. Uma pena, pois Delta Estácio Blues é uma obra completa, catártica, caótica, que desafia o ouvinte e o guia por um campo sensorial diverso e rico de hipérboles musicais. De forma absurdamente merecida, o álbum vem ganhando prestígio internacional, brotando nos reviews do Antony Fantano (Needle Drop) e na coluna de música do The Guardian. É a música brasileira fazendo gringo babar, algo que já é rotina desde a criação do samba, mas se essa qualidade exportada por vezes varia, a certeza é que neste caso de Juçara estamos divulgando o mais puro ouro da música brasileira.
Gêneros: MPB, experimental, eletrônica
Aumenta!: Lembranças que guardei
Noturno – Maria Bethânia
Handerson Ornelas: É fascinante observar como Maria Bethânia não precisa de muito para fisgar completamente a atenção de um ouvinte. Basta iniciar Noturno e ouvir a avassaladora interpretação de Bar da Noite – faixa originalmente gravada por Nora Ney – para já estar imerso em fragilidade e sentimentos marcados em carne viva. Estamos falando aqui de uma das maiores cantoras desse país, lançando um álbum a altura do que se espera de sua carreira. Cada palavra proclamada por Bethânia possui uma densidade inacreditável de interpretação, fazendo um álbum mergulhado na “noite” citada no título. O ápice da obra é Dois de Junho, faixa sobre o caso do menino Miguel ocorrido em 2020, que carrega um fortíssimo peso de denúncia e grito de ajuda. Uma obra dilacerante e fascinante em todos os seus detalhes.
Gêneros: MPB, Samba
Aumenta!: Bar da Noite
Trava Línguas – Linn da Quebrada
Matheus Camargo: Linn Da Quebrada rasteja entre o profano e o divino, abraçando e tomando posse de tudo que dizem ser ímpio. Letras explícitas, a língua ácida feita de metáforas tão bem pensadas quanto a produção, onde BADSISTA se junta a esse cosmos devasso e luxurioso. Trava Línguas não tem medo e não se importa com os limites estabelecidos, porque sua existência, por si só, sempre foi estabelecida em quebrar cadeias. “Quem soul eu?” se pergunta por vezes, ora lenda ora maldição, o poder renovador de Linn ressalta as qualidades que a tornaram uma artista tão importante.
Gêneros: Art Pop, MPB
Aumenta!: cobra rasteira
Preto sem Açúcar – OQuadro
Handerson Ornelas: Esse ano foi um baita ano para o hip-hop nacional, a ponto de ser um crime o fato dos álbuns de Djonga e Don L não entrarem nessa lista. Mas nada dentro do gênero foi tão catártico para mim quanto o terceiro álbum dos baianos do OQuadro. Preto Sem Açúcar possui uma produção caprichadíssima, beats criativos, versos afiadíssimos, colaborações fantásticas (Jorge Du Peixe, Xênia França e Russo Passapusso) e um groove incrível em sua base sonora. É uma obra expansiva, que abrange dezenas de gêneros essenciais para a cultura do hip-hop: aqui você encontra R&B, funk, reggae e soul por toda parte. Assim como o álbum do BaianaSystem citado anteriormente, sabe balancear brilhantemente entre a celebração e a crítica social.
Gêneros: Hip-hop
Aumenta!: Caça
Baile – FBC e VHOOR
Handerson Ornelas: O rapper mineiro FBC e o beatmaker VHOOR construíram em Baile um dos álbuns mais surpreendentes que tive a oportunidade de ouvir esse ano. Uma obra que soa como um total escape das aflições do mundo moderno, como o próprio FBC canta em Quando o DJ Toca (“Esquece tudo e vem assim na pista do baile”). Um álbum que possui em seu cerne os pilares da criação do hip-hop lá nos anos 80 e do funk carioca nos anos 90: música feita como entretenimento acima de tudo, com o bass no talo, feita para dançar, mas que também não perde seu viés crítico social (Policial Covarde). Trata-se de um álbum que resgata nossa história musical sem perder seu ar contemporâneo, se tornando, no fim, um trabalho absurdamente autêntico e viciante.
Gêneros: Funk, Hip-hop
Aumenta!: Quando DJ Toca
ECDISE – CHAMELEO
Matheus Camargo: Sinto que muito do que a música pop brasileira precisava é de um nome que explorasse os limites do gênero, tomando liberdade para criar novas formas de contar suas histórias. CHAMELEO surge nesse viés, introduzindo elementos industriais para o seu som que beira o hyperpop cheio de diversidade, além de outros gêneros moldados para traduzir o sentimento que suas trocas de pele e vivências contam. Sabe quando ser áspero e satírico, sabe quando ser doce e confessional, e em todos esses pontos consegue transmitir personalidade.
Gêneros: Pop
Aumenta!: Enigma
Chegamos Sozinhos em Casa – Vol. 1 – Tuyo
Matheus Camargo: Na junção dos dois volumes lançados em 2021, Tuyo, vindo de anos deixando sua marca cruamente melancólica na música brasileira, encapsulam os mesmos sentimentos de forma gloriosa. O nó na garganta, os monstros diários, as decepções pessoais e outros plurais vultos que sempre encontram uma forma de extravasar. As vozes vociferam essas feridas, agora entrelaçadas a uma produção mais ousada, sem medo de explorar novas colaborações e, obviamente, a composição impactante que nunca deixa de conversar com o ouvinte. É um desabafo mais lindo que o outro, mais intenso que o anterior.
Gêneros: R&B, Pop, Soul
Aumenta!: Tem Tanto Deus
Pacífica Pedra Branca – Jennifer Souza
Handerson Ornelas: A primeira vez que me deparei com a capa do novo álbum de Jennifer Souza, lembrei imediatamente da capa do único álbum de Dennis Wilson: Pacific Ocean Blue. Se este clássico é uma das referências de Jennifer, isso resta como dúvida, mas a certeza é que a cantora consegue um feito atmosférico incrível em Pacífica Pedra Branca, muito alinhada com a proposta contemplativa de Dennis lá em 1977, conseguindo emanar um sentimento de paz em toda sua concepção, desde a capa a cada detalhe técnico de sua música, seja na produção ou seu cantar. Um casamento de indie folk, jazz e MPB onde a compositora mineira parece se entregar totalmente, a ponto de se desfazer no meio dessas lindas melodias. Uma trilha sonora perfeita para um dia relaxante à beira da praia.
Gêneros: MPB
Aumenta: Birds