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Crítica | Um Menino Chamado Natal (2021)

A história de origem do Papai Noel

por Fernando Campos
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Até o Papai Noel ganhou um filme de origem. Retratado diversas vezes nos mais variados tipos de mídia, dessa vez nos deparamos com a infância do bom velhinho e os motivos que os levaram a se tornar esse símbolo. Porém, o que pode parecer só uma estratégia para reciclar uma história saturada ou um aprofundamento desnecessário em um conto tão simplório, recebe contornos sensíveis nas mãos do diretor Gil Kenan em Um Menino Chamado Natal.

Baseado no livro de Matt Haig, o filme acompanha um garoto chamado Nikolas (Henry Lawfull), que vive com o pai em uma floresta. Após o rei convocar homens para partirem em uma missão em busca de algo que dê esperança para o povo, o protagonista fica distante do pai e passa a ser cuidado pela cruel tia Charlotte (Kristen Wiig). Cansado dos maus-tratos dela, Nikolas parte em busca da lendária Aldeia dos Duendes, onde espera reencontrar o pai e descobrir algo que dê, novamente, esperança para o povo do reino.

Apesar de mostrar uma história diferente do Papai Noel, Um Menino Chamado Natal explora temas natalinos tradicionais, como a esperança, solidariedade, bondade e união. Até a primeira metade, quando o longa possui ares realistas, a mensagem soa reducionista. Há uma cena simbólica nesse aspecto, quando o rei chama a população para o castelo e, ao ouvir queixas das pessoas, que precisavam de comida, empregos e saúde, sugere que busquem esperança; sendo um momento controverso, especialmente se visto na época atual, construído com ares de humor.

Contudo, intencional ou não, essa provocação do roteiro passa a fazer sentido a partir da segunda metade do longa, quando Nikolas finalmente encontra a Aldeia dos Duendes. Aqui, esperança e solidariedade são mais do que palavras vazias, mas representam o modelo de sociedade dos duendes, que priorizam o conforto e o bem estar de todos, não de alguns. Aliás, como representa o arco de Vodol, idéias de intolerância e desigualdade surgem justamente em épocas de medo, quando cada um começa a pensar por si. Com isso, o que parecia simplório, passa a ser um comentário social construído com bastante delicadeza.

Além disso, com o surgimento da Aldeia, o longa cresce não só em nível de atuações, introduzindo os ótimos Toby Jones e Sally Hawkins, como também em estética. A sem graça roupagem realista é substituída por uma direção de arte colorida e movimentos de câmera arrojados. Veja, por exemplo, como a direção opta por planos panorâmicos altos que descem até os personagens, criando justamente uma sensação de coletividade perante o espaço que ocupam. Evidente que, o contraste da primeira metade com a segunda pode ser uma estratégia de Kenan para impactar o público, mas até mesmo o realismo pode ser construído de uma forma mais imersiva e atraente, o que não ocorre. Porém, quando o longa abraça a fantasia, definitivamente cresce.

Falando em contraste, o diretor se apoia justamente nessa estratégia para construir seu universo. Os personagens sem esperança são retratados acinzentados e enrugados,  enquanto aqueles que praticam o bem vestem cores vibrantes. Mesmo soando maniqueísta, justifica-se a abordagem da obra por ser voltada ao público infantil, representado pelo núcleo de crianças que ouvem a história de Nikolas, contada pela babá. Aliás, é através desses personagens que o longa consegue inserir dramaticidade para tornar a narrativa satisfatória. Em meio ao maniqueísmo da história do Papai Noel, os pequenos aprendem, através de experiências pessoais, que momentos de dor existem e são inevitáveis, mas, como cita um personagem, “a dor é o preço a se pagar pelo amor”.

Evidente que o mundo possui problemas complexos demais para serem resolvidos na base da esperança. A solidariedade e bondade nem sempre sensibilizam aqueles que parecem destinados a cavar abismos entre pessoas. Porém, especialmente para crianças, mensagens de amor, companheirismo e empatia são sempre bem-vindas. Os símbolos positivos devem ser celebrados, cada um a sua maneira, e se há uma data para isso ocorrer globalmente, que seja comemorada.

Um Menino Chamado Natal (A Boy Called Christmas) – Reino Unido, 2021
Direção: Gil Kenan
Roteiro: Gil Kenan, Ol Parker (baseado no livro de Matt Haig)
Elenco: Henry Lawfull, Kristen Wiig, Michiel Huisman, Maggie Smith, Sally Hawkins, Jim Broadbent, Toby Jones, Rune Temte, Zoe Colletti, Indica Watson, Stephen Merchant, Sinéad Phelps, Philip Lenkowsky, Peter Hosking, Perveen Hussain, Abiola Ogunbiyi, Kendrick Roger Ong, Rishi Kuppa
Duração: 106 min

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