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Crítica | Chucky – 1X06 e 1X07: Cape Queer / Twice the Grieving, Double the Loss

É... descambou!

por Iann Jeliel
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  • Há SPOILERS! Acompanhe por aqui nossas críticas semanais da série do brinquedo assassino e aqui todo nosso material sobre Chucky.

Novamente peço desculpas pelo atraso da crítica do episódio Cape Queer lançado na última semana, Chucky não me deu trégua e novamente me acertou com uma facada na mão. Enfim, felizmente sigo bem e agora só falta um capítulo para me livrar desse boneco maldito! Por enquanto fiquem com as críticas em separado (escritas num contexto em que eu vi um, escrevi e depois vi o outro para escrever) dos dois episódios que antecedem o fim da primeira temporada.
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1X06: Cape Queer

Cape Queer

Vamos tirar do caminho o fato de que a transição entre a nova história com a continuidade canônica da franquia Chucky foi feita no episódio passado com extrema preguiça. Encaremos Cape Queer diretamente na mescla consolidada entre as duas narrativas nessa espécie de “oitavo filme” que a série virou. Ainda assim, chegaremos em um resultado, no mínimo, problemático. O episódio que marca o retorno definitivo de Andy (Alex Vincent) e Kyle (Christine Elise) – personagem protagonista de Brinquedo Assassino 2 – como uma dupla “caça-fanchuckys” (procurando os pedaços de alma de Chucky compartilhados em outros bonecos) traz vários movimentos de trama relevantes e avançados, que acabam se atropelando pela forma perceptivelmente abrupta e, consequentemente, sem nenhum impacto com que são colocadas.

O próprio retorno de Andy e Kyle adentra sem naturalidade na  trama, com explicações extremamente explícitas e flashes de outros filmes para deixar bem mastigadinho quem são os personagens, tal como foi a inserção de Tiffany (Jennifer Tilly) e Nica (Fiona Dourif) em Little Little Lies. A diferença é que, ao menos, foi na primeira cena do capítulo que se conduzida de outra forma poderia ser uma maneira bem mais interessante de interligar as duas histórias. Vejam bem, com os desdobramentos do episódio passado em que a diretora McVey (Jana Peck) foi decapitada, o trio de adolescentes Jake (Zackary Arthur), Lexy (Alyvia Alyn Lind), Devon (Bjorgvin Arnarson) voltam a caçar Chucky (Brad Dourif), mas precisam de alguém confiável para isso. Devon, então, dá a sugestão para que eles procurem por Andy, porque o jovem podcaster expert em serial killers pesquisou mais a fundo sobre o que aconteceu com ele, encontrando inclusive, uma matéria sobre os eventos do hospício de O Culto de Chucky.

Ora, não precisava então o episódio passado ter feito aquelas explicações tão expositivas jogando do nada personagens de filmes passados e informações que deixaram quem vinha acompanhando somente a série, perdidos. Já houve no primeiro capítulo aquela ligação de Andy para Jake, ou seja, para esse público mostrar quem é ele agora soa natural no progresso da história e realmente era a única solução possível. Acontece que nessa nova chamada entre Andy e os adolescentes, o personagem clássico pergunta se Chucky estava acompanhado de outras duas mulheres e as descreve fisiologicamente, ou seja, tinha-se a deixa perfeita para que Tiffany e Nica fossem introduzidas de uma forma mais natural neste episódio e prontamente já podia emendar o desenvolvimento feito aqui acerca das posições de cada uma na trama. Aliás, me surgiu uma dúvida aí, Nica tomou totalmente o controle do corpo somente na segunda cena ou desde aquela no episódio passado?

Óbvio, a personagem é paraplégica, não tinha como ela ter saído andando e fingindo ser o Chucky desde lá, mas não ficou nada claro se Charles e ela estão travando essa batalha mental para assumir o controle ou se é como ficou implícito na cena passada em que Charles tem o controle e passa a ela quando quer. Mas por que ele iria querer isso? Até o momento, as motivações seguem plenamente incertas e bagunçadas. Tiffany compra a casa antiga de Nica para serem o seu “covil”, sendo que este seria o local mais óbvio para Andy e companhia procurá-los. Pode ser proposital, mas ainda não tem qualquer linha de critério. Chucky, aqui mesmo, mata meio mundo de pessoas importantes, porque sim. “Direito” dele, mas incomoda bastante: como os episódios anteriores, vem banalizando a repercussão dessas mortes e não trazendo qualquer tipo de conflito ou formas de progresso narrativo através dela. É literalmente um descarte de personagens para ter ceninhas de galhofas que são até divertidas, mas onde depois se enfia qualquer justificativa. O importante é que o brinquedo assassino não seja pego, não interessa  se ele pouco se importa com os rastros que deixa ou se depende exclusivamente da sorte e conveniência para que os rastros se montem sozinhos.

Por exemplo, como a professora Rachel Fairchild (Annie Briggs) conseguiu ser incriminada? Nenhum caminho levava a isso e nem um novo é mostrado pelo episódio. Tudo bem, mas como a Detetive Evans (Rachelle Casseus) acreditou que foi ela? Sendo que há poucos episódios a própria personagem menciona: “todos os caminhos levam a Jake ou ao seu boneco”. Ela viu que não era o Jake quando conversou com ele enquanto houve o assassinato do Detetive Peyton (Travis Milne), logo, restava o boneco. Inclusive, há uma cena que ela apoia o filho para chamar Jake para sair, ou seja, sua mente estava aberta para acreditá-lo caso contasse tudo que sabia acerca de Chucky e aquele era o momento que Devon se sentiria mais seguro para fazer isso, afinal, ele acabou de ter respaldo e aceitação sobre sua sexualidade. Todo esse contexto seria perfeito para promover impacto na morte do Detetive no clímax na casa de Junior (Teo Briones).

Infelizmente, a sequência acaba pesando somente no seu lado cômico dado a forma tosca como a personagem morre, inclusive, anulando o bom efeito de tensão elaborado pela sequência em que os jovens tentam vencer Chucky na base do Esqueceram de Mim. A morte de Bree (Lexa Doig), nesse sentido, funciona mais, ainda que pense que não era para acontecer nesse episódio. Poder-se-ia ter esperado mais um pouco para a absorção das consequências da revelação de seu câncer terminal para Logan (Devon Sawa) e Junior, que flerta com a possibilidade de uma jornada sombria. No mesmo dia, ele termina com Lexy por se sentir totalmente escanteado pela namorada, descobre a doença da mãe que depois de contar a verdade, “se mata” e o deixa à mercê de um pai que pode perder o controle no relacionamento com o filho como o irmão após a perda da mulher, especialmente considerando sua conhecida obsessão em fazer com que Junior seja competitivo no cross country.

Pelo menos há um caminho interessante aí, mas a projeção disso virar uma coisa boa com a baderna que foram os dois episódios não é das melhores. Posso ter divergências com algumas escolhas conceituais de Don Mancini, mas independente de meu gosto pessoal, é evidente como falta organização no showrunner em Cape Queer

Chucky – 1X06: Cape Queer | EUA, 16 de Novembro de 2021
Criação: Don Mancini, David Kirschner, Nick Antosca
Direção: Samir Rehem
Roteiro:  Nick Zigler, Sarah Acosta, Kim Garland
Elenco: Zackary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Teo Briones, Brad Dourif, Christine Elise, Alex Vincent,Rachelle Casseus, Blaise Crocker, Rosemary Dunsmore, Devon Sawa, Jennifer Tilly, Fiona Dourif, Annie Briggs, Lexa Doig, Jamillah Ross, J.D. Nicholsen, Jamaal Grant, Lisa Michelle Cornelius, Sage Arrindell, Nick A Fisher
Duração: 46 minutos

Cape Queer Cape Queer Cape Queer Cape Queer

1X07: Twice the Grieving, Double the Loss

Cape Queer

Foi durante a cobertura de episódios de Chucky que descobri que a primeira temporada terá oito episódios em vez de  dez como imaginava. Isso explica muito de como a série se perdeu na exata metade em que deixou de ser minimalista e cautelosa na sua construção para ser explícita e caótica, como o boneco gosta. Vi o próprio Don Mancini falando que a ideia de migrar para televisão era de ter mais tempo para promover certos desenvolvimentos que num filme não seria possível, porém fica evidente em Twice the Grieving, Double the Loss que o tempo nunca foi um problema. Falta de organização traz os mesmos resultados, seja em série ou filme. Não adianta você gastar quatro episódios desenvolvendo promissoramente situações para quando chegar na hora de resolvê-las, tentar enfiar elementos novos que não correspondem à  sinergia do que estava sendo elaborado.

É o caso do arco de Junior matando o próprio pai. Foi colocado por episódios passados a tendência de Logan a se tornar como o irmão, um alcoólatra e abusivo, mais do que já era com relação à  cobrança a Junior (se preocupando mais com o filho ser um valentão e ficar de fora do time do que com o filho estar  batendo nas pessoas), que por sua vez, estava no momento propício para ser manipulado por Chucky dada  a raiva de ver sua mãe morta e ex-namorada andando com o primo que basicamente está no lugar de todos os recentes assassinatos. Ainda assim, o episódio opta por enviar de forma totalmente evasiva um passado entre Tiffany e Logan (que nem é mostrado nos flashbacks inúteis do capítulo) e uma cena que eles se beijam no velório de Bree (????) para que Junior fique mais “putinho” com o pai a ponto de matá-lo. Quem dera fosse só nessa motivação, mas piora. Junior nem acreditava na existência do Chucky até o momento, e o episódio já quer enfiar goela abaixo que eles já tinham conversado algum tempo para pular o desenvolvimento do processo de convencimento e partir direto para a virada.

Mas quando foi que ocorreu essa conversa? Não foi antes de Bree ser morta. Não houve salto temporal considerável para o seu velório. E como é que o Junior foi ingênuo o suficiente para acreditar em Chucky, sendo que nem faz tanto tempo que Lexy havia contado para ele a verdade e ele não havia acreditado porque obviamente, ele não é ingênuo a esse ponto, como nenhuma outra criança daqui teoricamente é. Então, como ele acreditou na ladainha de Chucky tão rapidamente para literalmente de um dia para outro da morte da sua mãe já estar certo de que o ideal era matar o pai? Por causa de Tiffany? Não era mais fácil ele simplesmente ter matado Tiffany que visita sua casa aleatoriamente depois, oferecendo almôndegas suecas para o seu pai? Não faz o menor sentido. Nem vou me ater a questionar se uma pessoa conseguiria ser assassinada sendo espancada por um boneco de plástico. O problema é a falta de lógica na construção da narrativa.

No episódio passado, o trio estava esperando Andy e Kyle aparecerem (por que diabos o Andy a abandonou sendo que eles trabalham juntos há  tempos nisso?) para ajudarem a resolver o problema de Chucky. Nesse, eles se esquecem desse fato e desistem sem motivo de procurá-lo, mesmo sabendo que isso não vai alterar a matança. Aliás, o motivo de Devon é o mesmo de Junior, culpando a morte recente da mãe (que não teve velório, dane-se) para Jake, por ele ser uma espécie de amaldiçoado pelas mortes de todo mundo e querer distância do namoradinho, sendo que ele sabe quem é o responsável (como aparentemente também Junior sabia), tanto que vai atrás de vingança sozinho procurando a casa de Charles Lee Ray – que como comentei anteriormente, era o esconderijo mais óbvio possível da dupla de assassinos. O motivo de Lexy é porque quer passar mais tempo com a irmãzinha (Carina Battrick) que mal teve oportunidade de conversar de novo com Chucky (no caso, não mostrou novas conversas e as anteriores não são convincentes para o agora) e já brinca de decapitar brinquedos e admite em público que vai matar a família toda.

Longe de Lexy se importar, afinal na cena seguinte isso nem é discutido, porque a família dela que importa é o menino que ela infernizava (Jake) e o outro com quem  ela mal falava (Devon), porque saíram três dias caçando bonecos juntos. Não julgo, se tivesse uma mãe prefeita de uma cidade recheada de assassinatos recentes querendo encobri-los com um evento de reexibição do clássico Frankenstein (sério, WTF!!???), talvez fosse preferir andar com meus amigos de verão. Jake, coitado, depois de levar um fora sem motivo do crush, decidiu por alguns minutos roubar o tio e tentar fugir da cidade e era a melhor coisa que ele podia ter feito mesmo. Contudo, ele volta atrás e gasta o dinheiro com outro Good Gye para descontar a raiva e acaba acidentalmente descobrindo também o endereço da casa de Charles, onde  seu boyfriend foi sequestrado.

Males da internet: com o advento da Amazon e outras lojas virtuais, Chucky e Tiffany podem comprar Good Gyes infinitos e criar um exército de Chuckys com potencial de dominar o mundo, se todos tiverem o mesmo dom de conveniência do original. Nessa altura do episódio já nem queria mais saber se Nica era Nica ou se era Charles em seu controle o tempo todo; provavelmente eram as duas coisas e o roteiro troca quando quiser, por preguiça. Tomara que, agora, quem não era útil para a série já tenha sido  morto (imagino que os que sobraram de relevantes do núcleo adolescente vão permanecer mais tempo) e quem vai ser útil tenha sido  reintroduzido, e Chucky possa minimamente entregar um desfecho-galhofa satisfatório, próximo à regularidade presente no início.

Chucky – 1X07: Twice the Grieving, Double the Loss | EUA, 23 de Novembro de 2021
Criação: Don Mancini, David Kirschner, Nick Antosca
Direção: Samir Rehem
Roteiro: Mallory Westfall, Kim Garland
Elenco: Zackary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Teo Briones, Brad Dourif, Fiona Dourif, Barbara Alyn Woods, Christine Elise, Alex Vincent, Michael Therriault, Blaise Crocker, Carina Battrick, Devon Sawa, Jennifer Tilly, Kabir Bageria, Kevin Finn, Nick A Fisher
Duração: 46 minutos

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