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Crítica | O Agente da U.N.C.L.E. (1964) – 1X01: O Caso Vulkan

A sutileza ousada ou a ousadia sutil demais.

por Davi Lima
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vulkan

Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas:vulkan
Número de episódios: 105
Período de exibição: 22 de setembro de 1964 – 15 de janeiro de 1968
Há continuação ou reboot? Não, mas teve um filme homônimo da série em 2015

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Muito semelhante ao filme O Agente da U.N.C.L.E. de 2015, o piloto da série O Agente da U.N.C.L.E. de 1964 foca bem mais em construções de personagens em um cenário interessante do que na sua história de espionagem. É quase inevitável o pensamento anacrônico de comparação entre as duas produções, especialmente pelos contextos em que cada uma se insere para apresentar a mitologia dos romances de espionagem em tela. Mas no exercício de analisar as obras num modo diacrônico, pensando nas conexões, muito mais que nas diferenças, o denominador comum é que o primeiro episódio produzido pela MGM, com colaboração do famoso Ian Fleming, tem uma comédia de sutilezas que diferencia a trama de agentes secretos, mesmo que se esconda demais nos clichês narrativos do gênero de aventura e ação.

Provavelmente o que fez o diretor Guy Ritchie se interessar pela criação de Sam Rolfe, pensando apenas no piloto – é preciso enfatizar -, é a liberdade dos maneirismos implícitos contidos na dinâmica entre os personagens nas missões. Napoleon Solo (Robert Vaughn) e Elaine May (Pat Crowley) sustentam praticamente todos os pontos intrigantes e estimulantes para se acompanhar o material audiovisual. A direção Don Medford tem uma parcela forte nisso, porque parece dimensionar bem o episódio no campo dramatúrgico dos atores e no campo panorâmico do palco, dando senso de profundidade a como os personagens se envolvem numa festa, numa prisão de canos e num trem. Ou seja, os atores se sentem à  vontade para serem a própria história pelos diálogos e pela atuação.

A partir dessa extroversão que as sutilezas cômicas aparecem, se tornando mais explícitas em meio à morosa finalidade da missão de invadir uma fábrica da tal organização THRUSH. A trama de uma mulher casada e com dois filhos, que entra na empreitada por insistência do esposo, com um espião garanhão americano para impedir um assassinato já soa ousada. A função dela é atrair romanticamente o vilão que dá nome ao episódio, o tal Vulkan (Fritz Weaver). Essa proposta não é nada conservadora, ainda mais para a década de 60, provocando uma irreverência, tracejando por cheiros de uma paródia que desconstrói uma estrutura padrão para as histórias de espionagem. A consultoria de Fleming, especialmente pela série ter sido lançada dois anos depois do primeiro 007 com Sean Connery, parece proporcionar uma segurança na quebra de expectativa de juntar um garanhão e uma “recatada do lar” sem eles se apaixonarem, por exemplo.

Por isso, o tom cômico serve tanto para essa linha de desconstrução quanto para aliviar tensões do gênero romântico da espionagem. Nisso há um valor singular para se perceber no show da MGM. Entretanto, a direção de Medford e até mesmo a base televisiva não dão  conta de  tornar divertida a experiência de assistir ao piloto, em meio à centralidade nos personagens em dentrimento da história. O uso dos clichês fotográficos e “roteirísticos” para a ação e a aventura conhecida da espionagem não servem como base para  compensar a ousadia de O Caso Vulkan. Na verdade, só evidencia o que deveria ser sutil, dando graça aos personagens percorrerem a trama comum de espionagem, mas desgasta a trama visual que os personagens compõem.

 As características audiovisuais e textuais de O Caso Vulkan são exemplares para nos fazer  entender as qualidades e as imperfeições do filme de 2015, seja pelo potencial cômico, pela despreocupação com elaborações dramáticas ou  pelo anseio de “iconografar” mais do que tensionar histórias. Parece uma série promissora para se engatar uma maratona na expectativa de que ela elabore sua comédia e complemente as interações dos personagens com o soviético Illya Kuryakin, que não participa da missão, apenas aparece no começo do episódio. De primeira, a desconstrução é chamativa, mas não o suficiente para tornar o piloto bom de fato.

O Agente da U.N.C.L.E. (The Man from U.N.C.L.E. – 1X01: O Caso Vulkan – EUA, 22 de setembro de 1964
Criação e desenvolvimento: Sam Rolfe
Direção: Don Medford
Roteiro: Sam Rolfe
Elenco: Robert Vaughn, David McCallum, Leo G. Carroll, Pat Crowley, Fritz Weaver, William Marshall, Ivan Dixon, Victoria Shaw, Rupert Crosse, Mario Siletti Jr., Eric Berry
Duração: 60 minutos

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