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Crítica | The Good Asian – Vol. 1

Chinatown noir.

por Kevin Rick
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The Good Asian é uma história em quadrinhos noir ambientada na década de 1930, em uma época em que os EUA haviam imposto uma política proibitiva de imigração contra a China, com base nas sementes plantadas na Lei de Exclusão dos Chineses, de 1882. Nosso protagonista se chama Edison Hark, o “bom asiático” titular, um sino-americano criado por pais brancos que se tornou policial para resolver crimes em Chinatown e ajudar a minoria asiática. Infelizmente, o caminho de Hark não envolve apenas a investigações criminosas e a luta contra o sistema opressor, mas também sua hipocrisia e a dissimulação que levaram ele a conquistar seu cargo.

O roteirista Pornsak Pichetshote faz um ótimo trabalho com essa condensação temática. Por um lado, o autor desenvolve o mistério clássico do gênero noir com bastante cuidado, envolvendo o leitor em uma trama de identidade política e racial da questão migratória no macro, fazendo tanto uma representação histórica bem detalhada e didática (mas nunca enfadonha) de fatos desconhecidos do grande público quanto manter um subtexto crítico ao racismo estadunidense da época, especialmente pontuado pela lamentável brutalidade policial. É quase um noir de protesto social, documentando para o leitor um pedaço esquecido da história de imigrantes, enquanto faz uma sutil ponte crítica para preconceitos carregados até os dias de hoje – bacana como Pichetshote sempre pontua a busca da “perfeição” asiática, um estereótipo famoso, como uma forma de disfarce da minoria para se encaixar e sobreviver na sociedade.

Pichetshote paga várias homenagens temáticas e narrativas ao noir, desde a ficção policial misteriosa se descamando como um suspense psicológico, a pegada neorrealista da trama sobre injustiça, luxúria e assassinato, além de, claro, um protagonista em constante conflito interno. Mas o texto também traz uma perspectiva diferente e atraente no micro, substituindo seu típico detetive com problemas individualistas, por um investigador em crise de identidade racial e social, contendo também uma boa dose de pessoalidade com a investigação acontecendo no campo familiar de Hark. Entre ser o “bom asiático” que mantém seu cargo entregando sua comunidade, ou sendo um protetor que escolhe suas batalhas dentro das restrições do sistema de justiça, Hark ganha um estudo de personagem complexo com a dimensão histórica e o drama intimamente familiar, por oras mais interessante que a atmosfera noir e a trama investigativa que normalmente ganham o foco de obras do gênero.

Ainda assim, a substância intrincada do enredo é acompanhada de uma baita representação visual. O artista Alexandre Tefenkgi e o colorista Lee Loughridge capturam os anos 30 de forma brilhante, seja os figurinos, os carros e a arquitetura. Loughridge define cada nova cena com paletas de cores que estabelecem o tom da página. Nada é realmente multicolor, com cada painel destacando uma cor principal de acordo com a emoção e construção de ambiente proposta. Por exemplo, páginas mais escuras destacam as ruas iluminadas pela lua de Chinatown, os flashbacks são caiados de branco para indicar o passado, cenas de assassinato são explosivamente avermelhadas e momentos de retrato trágico dos bairros pobres e da marginalização são destacados em um preto e branco depressivo.

Há também que se pontuar as inteligentes observações de Hark demonstradas em pequenas caixas laranjas, destacando o quebra-cabeça investigativo pelos olhos do detetive. A diagramação de Tefenkgi também tem um estilo meio europeu, contando com poucas “páginas abrangentes”, conforme a maioria da leitura tem uma estrutura de 6-8 painéis por página, fazendo com que passemos mais tempo com os personagens. A pegada introspectiva e aproximada dos rostos, sempre acompanhada de balões de monólogos internos de Hark, ajudam na construção visual do mistério psicológico noir.

O primeiro volume de The Good Asian é uma fantástica história clássica de detetive, cheia de boas reviravoltas, personagens coadjuvantes interessantes e desdobramentos inesperados, mas também é um exame ainda mais intrigante da vida sino-americana no final dos anos 1930. Pornsak Pichetshote conseguiu criar uma trama que equilibra contexto histórico com estudo de personagem, micro e macro trabalhando em uníssono uma história sobre identidade em um enredo detetivesco. O texto de Pichetshote fica ainda melhor com a criatividade e o trabalho detalhista de artistas que milimetricamente criam uma ficção histórica autêntica e exuberantemente noir. Contando com um desfecho bombástico e com repercussões sociais, só podemos ficar ansiosos com a resolução do caso de Edison Hark.

The Good Asian – Vol. 1 – EUA, 2021
Contendo: The Good Asian #1 a 4
Roteiro: Pornsak Pichetshote
Arte: Alexandre Tefenkgi
Cores: Lee Loughridge
Letras: Jeff Powell
Editora original: Image Comics
Data original de publicação: 26 de maio de 2021
183 páginas

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