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Crítica | See – 2X08: Rock-a-Bye

Zatoichi teria inveja...

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios. 

Em minha crítica anterior abordei a maneira inteligente e bem trabalhada com que o episódio usou clichês e disse que desconfiava que o encerramento repetiria a dose. E, dito e feito, Rock-a-Bye é mais outra belíssima demonstração de como usar tropos narrativos em uma série de TV de maneira a torná-los relevantes e, mesmo carregados de previsibilidade, ainda conseguindo extrair sequências poderosas, excitantes e, algumas delas, até surpreendentes. A 2ª temporada de See se despede com viés de alta, preparando o terreno para o terceiro ano da série cujas filmagens, que começaram em maio de 2021, já devem até ter acabado.

Mas a grande verdade é que, mesmo que o episódio tivesse sido ruim – o que nem de longe foi -, já teria valido o preço do ingresso ver Baba Voss, mais outro personagem selvagem de Jason Momoa, paramentado de samurai, primeiro com uma armadura clássica de guerra, e, depois, apenas com um quimono e uma katana. A primeira imagem que me veio à mente, especialmente na sequência da ponte logo antes do embate com o irmão, foi a de Zatoichi e sua sensacional série de filmes japoneses nos anos 60 e 70, principalmente. Claro, é a versão hollywoodiana do célebre samurai e massagista cego criado por Kan Shimozawa, ou seja, sem qualquer tentativa de se emprestar nuanças ao personagem (e desde quando Momoa sabe o que é nuança?), mas mesmo assim está valendo.

O episódio em si é dividido em três momentos bem marcados, primeiro a guerra, que dura a meia hora inicial quase que ininterruptamente, em seguida o dénouement do combate, o que inclui a luta entre Baba e Edo Voss e, finalmente, a rearrumação de tabuleiro para a 3ª temporada. Diria, inclusive, que é exatamente nesta ordem que Rock-a-Bye vai perdendo sua qualidade, mas mantendo um conjunto completo ainda bem acima da média para uma série desse naipe, grandiosa, com momentos bastantes inspirados, mas, em última análise, bem no estilão de grandes blockbusters, ou seja, nada particularmente complexo ou artisticamente ambicioso.

Com isso, claro, o grande destaque é o combate entre os exércitos de Trivantis e Paya, combate esse regido pelas regras internas que tentam com bastante sucesso, tenho para mim, imaginar como seria algo dessa escala em um mundo em que a esmagadora maior das pessoas não tem o dom da visão. Não preciso dizer que tudo o que ocorre na pancadaria generalizada, com direito a diversas cabeças voando e crânios partidos ao meio, além de muito bem boladas flechas com sinos lançadas por Haniwa para marcar os alvos para os demais, é uma sucessão de clichês, não é mesmo? Temos o bom e velho ataque de um exército claramente superior, a chegada quase deus ex machina das Tribos Escondidas que Paris e Toad trouxeram para a guerra a pedido de Baba Voss e o clichê mais clichê de todos: as engenhosas armadilhas que, aos poucos, vão dando vantagem ao exército que queremos que ganhe. É necessário engolir um potente pílula de suspensão da descrença sobre essas armadilhas, pois não havia tempo hábil para montá-las já que o exército de Paya chegou ao forte na mesma hora que o de Trivantis, mas podemos fingir que elas já estavam instaladas há tempos, não é mesmo?

Cada momento da meia hora de guerra foi, para quem gosta de violência bem explícita, muito saboroso e divertido, especialmente porque o roteiro realmente fez o máximo para manter as armadilhas sempre diferentes e variadas e para nos fazer ter raiva do menininho que enxerga e que canta as pedras para o pessoal de Trivantis a ponto de desejarmos que ele tivesse tomado uma flechada no olho, o que sabemos que jamais aconteceria. E, como era importante para criar aquela sensação de perigo de que gente importante poderia morrer, Toad foi sacrificado para a tristeza profunda de Kofun e, tenho que confessar, minha também, pois gosto muito de Hoon Lee, basicamente o único personagem acima da mediocridade da tão badalada, mas tão mediana série Banshee. Portanto, 5 HALs para a guerra.

E então vem o “pós-guerra” focado primeiro em Haniwa e Wren que se despedem pesarosamente, levando Haniwa a inexplicavelmente brigar com Kofun por algo que ele jamais poderia saber e ela não se digna a explicar. Vai entender a necessidade de se criar uma rusga entre os dois a essa altura do campeonato e logo partindo da mais madura da dupla. Em seguida, temos a esperada luta entre irmãos que tem um grande defeito: é curta demais. Sério. Apesar da excelente e gutural coreografia que passa muito bem toda a selvageria dos Voss, diria que Baba não teve lá muito trabalho para subjugar seu gigantesco irmão, pelo que algo um pouco mais protraído no tempo, levando os dois ao desgaste absoluto e deixando-os semimortos antes do inevitável momento em que Edo morreria (se eu estivesse na reunião de toró de palpite da produção, teria votado facilmente para ele viver, pois seria bacana manter Dave Bautista na série por mais tempo), teria feito maravilhas por todo esse momento climático. Mesmo assim todo esse pacote intermediário foi ótimo, 4 HALs.

Eis então que chegamos à terceira e última parte do episódio, com os personagens de volta à Pennsa. Sei muito bem que é praxe usar os minutos finais de uma temporada para armar a próxima, mas há diversas maneiras de se fazer isso e normalmente apenas uma realmente muito boa, aquela que leva a um encerramento orgânico de arcos narrativos, sem precisar que a montagem do tabuleiro seja basicamente uma cena pós-créditos que costuraram no bojo do episódio, exatamente o que acontece aqui. Por essa natureza de “colagem”, o final do episódio não funciona tão bem quanto os grandiosos momentos anteriores. Sim, há coisas boas, como o assassinato surpresa de Paris que poeticamente elimina a personagem depois da morte de Toad e acrescenta mais psicopatia ainda à já bastante perturbada ex-rainha Sibeth Kane, o que é sempre bom, lógico, além da debandada dos caçadores de bruxas insatisfeitos com o novo status quo em que aqueles que enxergam não mais são considerados como alvos. Mas o retorno à esquecida sequência em que os filhos de Jerlamarel passaram a ser consultores científicos para Trivantis, com uma demonstração explosiva, pareceu-me completamente perdido e sem nenhuma preparação. E o mesmo vale para a despedida silenciosa de Baba Voss (ninguém acorda não???) que definitivamente não combinou com o personagem que tanto lutou por sua família, algo que fica ainda mais sem sentido por sabermos que ele voltará alguma hora e não deve demorar muito, pois, vamos combinar, See sem Momoa perde mais que a metade da graça, especialmente agora que nem Paris teremos. Portanto, sem benevolente, 3 HALs para a prévia da 3ª temporada.

E, com isso, meus caros, chegamos ao final de meus comentários sobre Rock-a-Bye que, como disse de início, novamente faz bom uso de clichês e tropos do gênero, mas é ainda capaz de nos reservar uma surpresinha ou outra. Não sei exatamente o que esperar do próximo ano, pois não sei se gostaria de ver mais animosidades entre Trivantis e Pennsa, mas, como Steven Knight foi capaz de fazer sua mais nova série subir vertiginosamente de qualidade de uma temporada para outra, só me resta aguardar que pelo menos o nível da 2ª seja mantido.

See – 2X08: Rock-a-Bye (EUA – 15 de outubro de 2021)
Criação: Steven Knight
Direção: Anders Engström
Roteiro: Jonathan Tropper
Elenco: Jason Momoa, Sylvia Hoeks, Hera Hilmar, Christian Camargo, Archie Madekwe, Nesta Cooper, Eden Epstein, Hoon Lee, Tom Mison, Dave Bautista, Alfre Woodard, Joshua Henry, Olivia Cheng, Yadira Guevara-Prip
Duração: 62 min.

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