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Crítica | Supergirl – 6X12: Blind Spots

por Davi Lima
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  • Há SPOILERS deste episódio e de outras séries da CW. Leia aqui as críticas dos outros episódios de Supergirl.

 

blind Don’t be a hero to the people. Be a hero for the people – Jefferson Pierce 

Na sequência dos episódios Dream Weaver e Still I Rise, a série Supergirl centralizou o drama em causas sociais muito atreladas ao movimento negro nos EUA: contra o sistema carcerário racista e contra as consequências desse sistema, como a má distribuição de moradias e a gentrificação. Assim como foi escrito na crítica de Rebirth, em relação a obsessão dos showrunners em fazerem uma série politicamente relevante, aproveitando a personagem negra Kelly Olsen (bem interpretada por Azie Tesfai) como psicóloga envolvida nos dramas desses episódios em sequência citados; Blind Spots entrega o heroísmo representativo, inspirativo e pós-moderno em discurso, visual e símbolo da heroína Guardiã, que Supergirl (Melissa Benoist) não poderia ser para os negros, mas aprende a se importar ainda mais com a causa. 

A direção do episódio fica a cargo de David Ramsey, tendo sua participação como ator interpretando o famoso John Diggle do Arrowverse – terminando sua aventura referencial pelas séries da CW após Batwoman, Superman & Lois e The Flash para promover seu novo papel de Lanterna Verde – equivalente em importância à direção; juntando ao roteiro de J. Holtham (Manto & Adaga, Jessica Jones) e da atriz Azie Tesfai, todos negros, dão uma propriedade maior ao discurso e como ele é posto visualmente em tela. O único que não está interpretando algum personagem é Holtham, mas na boa comunicação com os atores dos personagens, Kelly Olsen e John Diggle são objetivos, dramáticos (no bom sentido) e assertivos em proporcionar ao espectador a compreensão do que Kelly sofre exaustivamente e como Diggle, mesmo aleatório como personagem, é de tamanha relevância como mediador para o público do que ela é afetada pelo racismo. O personagem aparece após uma ligação bastante abalada de Kelly para seu irmão James Olsen, em que Diggle sai de Metrópolis para ajudá-la emocionalmente em National City, tanto por entender como não ter poderes e ajudar super-heróis, mas também para ajudá-la a se tornar uma heroína.

Para isso, saber o que fazer com o que se sente e ativar uma ação com isso é o grande lema do episódio, ainda mais para a criação final da Guardiã. Dessa forma, a recapitulação temporal do episódio Still I Rise e como ele terminou com o prédio Ormfell, em Washington Heights, destruído, é o ponto fatídico do trauma racial de Kelly, acumulado pelas injustiças dos episódios anteriores, especialmente com os personagens irmãos Orlando (Jhaleil Swaby) e Joey Davis (Aiden Stoxx). Ela, com grande carga empática envolvida, tanto por ser negra quanto por ser psicóloga de Joey, acaba desabando, assim como o prédio. Supergirl e os Super-Amigos, muito ocupados em achar Nyxly (Peta Sergeant) depois dos eventos de Myx in the Middle, não escutam o desespero de Kelly para ajudarem os moradores do prédio no hospital, dando o estalo para o lema.

Por sinal, é por causa do efeito dos poderes de Nyxly, que destruíram Ormfell, que acaba causando uma espécie de doença para quem estava por perto do desmoronamento, fazendo com que as pessoas tivessem problemas respiratórios, como Joey. Não é coincidência a conexão verossimilhante com a Covid-19, mostrando-se também, possivelmente, uma crítica às pessoas malvadamente privilegiadas, como a conselheira de Ormfell Jean Rankin (Kari Matchett), de serem vacinadas antes de outras. No caso do episódio, isso ainda dá a Jean poderes que sugam energia dos outros moradores do prédio que estão no hospital, causando raiva em Orlando, sendo mais um ponto fatídico de injustiça. 

Em geral, Blind Spots ascende bastante o anseio por senso de justiça, resultando num sentimento de culpa forte na heroína protagonista e na sua irmã Alex Danvers (Chyler Leigh) ao não agirem em prol de Kelly imediatamente. Dentro de um processo de afunilação bem executado, no desenvolver da temática racial e nos diálogos recheados do roteiro, em sequência o sentimento dialogado entre os personagens se torna ação, após um momento de investigação em Ormfell. A narrativa parece engessada e novelesca quando se descreve que há uma tríade de conversas sucessivas – Diggle com Kelly, Kara com Kelly e Alex com J’onn J’onnz (David Harewood) – mas a direção de Ramsey, ou pelo menos a montadora Katie Ruzicka, faz um trabalho exemplar em organizar os espaços e transição de cenas, usando até mesmo CGI para incluir um passeio pelo bairro de Washington Heights, para dinamizar o episódio.

Além disso, vale ressaltar que se a problematização é bem difundida e explicada na Torre de Vigilância entre os Super-Amigos com a montagem e a direção, os planos da fotografia dão cara à resolução do problema cotidiano do racismo, enfatizando o heroísmo da Guardiã em cima do prédio. Ainda mais, a alegria de Brainic-5 (Jesse Rath) em aprimorar o uniforme de James Olsen para a irmã Kelly dão um ânimo para o ato heroico no final do episódio, fora o ar de respiro à exaustão de injustiça social, com a heroína indicando Orlando para ser o novo conselheiro da comunidade do prédio e inspirando as crianças negras.

Paralelo a tudo isso, com a pequena subtrama de Nyxly iniciando o episódio e terminando por achar o totem da coragem; com Lena Luthor recebendo um livro de magia da amiga de sua mãe chamada Florence Abott (Colleen Wheeler); com Diggle falando uma frase de efeito como próximo provável Lanterna Verde – tendo ainda Brainic – 5 dando uma risadinha, como se soubesse o que significava a frase, do mesmo jeito que ele responde a Kelly sobre o racismo no século XXXI, pois ele é do futuro -; Blind Spots não dá ponta sem nó no prosseguimento da série.

Ainda que tendo uma baita história de formação de herói pós-moderno como central nesse episódio, quanto as experiências e questões contemporâneas raciais no mainstream, percebe-se também por meio dele como o péssimo Myx in the Middle foi um mero episódio composição para o resto da temporada, e como a escalada de dramática de Kelly, por exemplo, sendo bem mais importante que a de Lena, personagem que parece perdida  depois da novela com Kara na quinta temporada. Enquanto isso, Nyxly ganha pontos por ser uma vilã, até mesmo em se aproveitar das injustiças sociais e suas resoluções da vez para descobrir mais poder, mais um totem.

Enfim, Blind Spots é ótimo e parece encerrar, após a mid-season, uma trilogia de temática racial bem engajante e bem a cara da série Supergirl, em vista que a protagonista desde a primeira temporada foi crescendo com heroísmo de representatividade, narrativa e discurso-símbolo. No entanto, é preciso preservar uma cautela de empolgação, mais uma vez, pois faltando oito episódios, com esses dois últimos a série parece começar a se mostrar apressada.

Supergirl – 6X12: Blind Spots – EUA, 21 de setembro de 2021
Direção: David Ramsey
Roteiro: J. Holtham, Azie Tesfai
Elenco: Melissa Benoist, Chyler Leigh, Katie McGrath, Jesse Rath, David Harewood, Peta Sergeant, Nicole Maines, Azie Tesfai, Julie Gonzalo, Staz Nair, Matt Baram, David Ramsey, Kari Matchett, Mila Jones, Jhaleil Swaby, Aiden Stoxx, Colleen Wheeler, Neetu Garcha, Moire Kiyingi, Bianca Lawrence, Marc Leblanc, Elizabeth McCallum, J.P. Padda, Iris Paluly, Victoria Skye Sealy, Jonathan Wilde, Theresa Wong
Duração: 43 minutos

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